Municípios pobres com menos dinheiro: renúncias fiscais de Tarcísio ampliam desigualdades

Grandes cidades perdem em maior volume com renúncias fiscais de Tarcísio. Mas impacto deve ser maior entre as pequenas. Entenda
Rosana, no extremo oeste paulista, pode ser uma das cidades mais impactadas pelas renúncias fiscais. Foto: Pref/Rosana
Rosana, no extremo oeste paulista, pode ser uma das cidades mais impactadas pelas renúncias fiscais. Foto: Pref/Rosana

Opositores argumentam que a proposta de Lei Orçamentária Anual (LOA) enviada pelo governador Tarcísio de Freitas possui uma distorção estrutural nas contas públicas do estado: pequenas cidades, com economias frágeis e alta dependência de transferências, são proporcionalmente as mais afetadas pelas renúncias fiscais (em ICMS e IPVA) previstas para 2026–2028. Entenda na TVT News.

Embora a capital concentre os maiores valores absolutos, é nos municípios de menor porte que o impacto relativo explode, comprometendo serviços essenciais e a capacidade administrativa local.

Pequenos pagam a conta

Os dados mostram que, enquanto o impacto das renúncias fiscais no orçamento da cidade de São Paulo é de 4,44%, em municípios com menos de 20 mil habitantes esse percentual chega a ultrapassar 17%.

Os casos mais críticos são:

  • Rosana: impacto de 17,47% do orçamento, com população estimada em apenas 12,5 mil habitantes.
  • Parapuã: 16,35%, com 10,2 mil moradores.
  • Ibitinga: 13,74%, cidade de 61,9 mil habitantes.
  • Nuporanga: 12,51% com apenas 2.550 moradores.
  • Juquiá: 12,91%, população de 17,1 mil.
  • Bofetê: 12,04%, 10,2 mil habitantes.
  • Cândido Mota: 13,32%, 30,2 mil habitantes.

Nesses locais, qualquer redução de receita já afeta diretamente a capacidade do município de financiar saúde, educação e assistência, justamente porque seus orçamentos são pouco diversificados e dependem majoritariamente de repasses estaduais e federais.

Capital ganha no volume, mas não no peso

Em valores absolutos, a cidade de São Paulo lidera com folga: R$ 14,1 bilhões em renúncias previstas para o triênio 2026–2028. Mas, na prática, isso representa apenas 4,44% de seu orçamento, percentual menor que o de quase todas as cidades do interior.

Situação semelhante ocorre em municípios de grande porte como:

  • Santo André: R$ 847,2 milhões em renúncias (impacto relativo de 6,31%).
  • Mogi das Cruzes: R$ 573,8 milhões.
  • Jandira e Caraguatatuba, também com impactos na casa de 6% a 8%.

Ou seja, grandes cidades perdem muito em volume, mas têm musculatura fiscal para absorver a redução.

Economias frágeis e desiguais

O perfil dos municípios mais atingidos revela um padrão:

  • Economias baseadas em indústria de transformação, agroindústria e exportação, como amendoim em Parapuã, carnes em Nuporanga e pastas químicas em Lençóis Paulista.
  • Baixa diversificação, tornando os orçamentos mais vulneráveis a oscilações.
  • Alta dependência de transferências para manter serviços básicos.

Quando o governo estadual amplia renúncia, seja via isenções, incentivos ou deduções, são justamente esses municípios que ficam expostos. O alívio tributário destinado a setores econômicos relevantes para o estado não é acompanhado de mecanismos robustos de compensação local, criando um desequilíbrio federativo interno.

Renúncias questionadas

A política agressiva de renúncias fiscais tem sido alvo de críticas de economistas e de órgãos de controle por três razões centrais: Falta de transparência sobre critérios de concessão e avaliação de resultados; Baixa comprovação de eficácia na geração de empregos e investimentos equivalentes ao custo tributário. Concentração dos impactos negativos nos municípios mais pobres e menos capazes de reagir.

A LOA de 2026 traz cidades que já enfrentam dificuldades para financiar escolas, UBSs e programas de assistência para subsidiar indiretamente setores econômicos que atuam no estado como um todo.

A maior parte das renúncias vem do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMD), seguido pelo Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA), na ordem de 77% e 22%, respectivamente.

Balanço geral

Ao manter uma política fiscal que preserva os grandes setores econômicos e transfere os custos proporcionalmente mais altos para o interior pobre, o governo estadual alimenta um ciclo de desigualdade regional. Municípios com orçamentos enxutos e dependentes de repasses ficam ainda mais vulneráveis, enquanto regiões metropolitanas, com grande volume de arrecadação e capacidade de investimento, absorvem com facilidade as perdas relativas.

A discussão da LOA na Assembleia Legislativa deve colocar essas distorções no centro do debate: a renúncia fiscal beneficia quem? E, mais importante, quem paga por ela?

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