Eleito novo papa num dos conclaves mais céleres da história, o cardeal norte-americano Robert F. Prevost, de 69 anos, anunciou que adotará o nome de Papa Leão XIV. Entre os diversos nomes escolhidos pelos sucessores de São Pedro ao longo da história da Igreja Católica, poucos se destacam tanto quanto o nome “Leão”. Veja em TVT News a história dos papas com nome Leão.
Até então, treze papas haviam adotado esse nome, o que o torna um dos mais recorrentes desde os primeiros séculos do cristianismo. Mas o que explica essa repetição?
A escolha do nome papal está longe de ser casual: ela carrega significados profundos, que remetem à história da Igreja, à teologia e ao simbolismo cristão. E é o primeiro indício sobre como o chefe da Igreja conduzirá o seu papado. No caso, trata-se de um nome carregado de autoridade, prestígio e memória de grandes líderes espirituais.
A origem da tradição: São Leão Magno
O primeiro a adotar esse nome foi São Leão I, conhecido como Leão Magno, que ocupou o trono de Pedro entre os anos de 440 e 461. Considerado um dos maiores pontífices da Antiguidade, ele teve um impacto duradouro sobre a Igreja tanto no plano doutrinário quanto no político e pastoral. Ele foi o primeiro a articular com clareza e vigor a primazia do bispo de Roma como sucessor direto de São Pedro, defendendo a centralidade do papado na condução da Igreja universal.
Sua atuação no Concílio de Calcedônia, em 451, é particularmente memorável. Nesse concílio, que visava resolver controvérsias cristológicas que dividiam o mundo cristão, a carta de Leão — conhecida como Tomo de Leão — foi lida diante dos bispos reunidos e aclamada com a expressão: “Pedro falou pela boca de Leão!”.
Nessa carta, ele defendia a doutrina das duas naturezas de Cristo (divina e humana), que foi adotada como definição oficial da Igreja. Esse episódio não apenas consolidou a autoridade doutrinária do papa como também reforçou a associação do nome com clareza teológica, firmeza doutrinária e liderança eclesial.
Outro episódio que cimentou sua fama foi o encontro com Átila, o Huno, em 452. À frente de uma delegação romana, ele conseguiu convencer o líder bárbaro a recuar e poupar Roma de um saque. Embora os detalhes históricos desse encontro estejam envoltos em lendas, o impacto simbólico foi enorme: o pontífice passou a ser visto não apenas como chefe espiritual, mas como defensor da cidade e do povo cristão. Magno foi canonizado e declarado Doutor da Igreja, e sua festa litúrgica é celebrada em 10 de novembro.

A continuidade do nome entre os Papas
Inspirados em seu exemplo, outros doze papas escolheram o mesmo nome ao longo dos séculos, formando uma das mais longas e simbólicas tradições entre os pontífices. Seu primeiro sucessor governou entre 682 e 683 e destacou-se por seu compromisso com a ortodoxia cristã, confirmando as decisões do Terceiro Concílio de Constantinopla, que condenou a heresia monotelita. Leão III, que pontificou de 795 a 816, coroou Carlos Magno como imperador do Sacro Império Romano-Germânico no ano 800, reforçando a aliança entre o papado e o poder temporal.
Leão IV (847–855) é lembrado por reforçar as defesas de Roma contra ataques sarracenos e por ter promovido a reconstrução de igrejas danificadas. Leão IX (1049–1054), por sua vez, foi uma figura importante na reforma do clero e na luta contra práticas como a simonia e o nicolaísmo. Foi durante seu papado que se intensificaram as tensões com o patriarcado de Constantinopla, que resultariam no Grande Cisma do Oriente em 1054.
Cada pontífice que escolheu tal nome buscou, de alguma forma, associar-se à herança de seus antecessores, sobretudo de Magno. O último a fazê-lo foi Leão XIII (1878–1903), considerado um dos papas mais influentes da era moderna. Seu pontificado marcou a abertura da Igreja às questões sociais e políticas do século XIX. Sua encíclica Rerum Novarum, de 1891, tratou dos direitos dos trabalhadores, da justiça social e do papel da Igreja nas transformações do mundo industrial, lançando as bases da doutrina social católica contemporânea.

Simbolismo teológico e bíblico do nome
Além do peso histórico, esse nome tem uma forte carga simbólica na tradição cristã. O animal é frequentemente associado à força, à vigilância e à realeza. No Antigo Testamento, o animal é símbolo da tribo de Judá, da qual descende o rei Davi e, por linhagem, o próprio Jesus. No livro do Apocalipse, Cristo é chamado de “o Leão da tribo de Judá” (Ap 5,5), o que lhe confere uma imagem de poder redentor e soberania espiritual.
Na iconografia cristã, o também aparece como símbolo do evangelista São Marcos, cujo evangelho começa com a voz que clama no deserto — evocando a figura do animal rugindo. Em muitas representações medievais e renascentistas, os leões são mostrados como guardiões dos templos ou como símbolos da justiça divina.
Escolher esse nome é, portanto, uma forma de reivindicar esse simbolismo: o líder da Igreja Católica como pastor forte, vigilante e corajoso, defensor da fé e do povo de Deus. O nome evoca uma liderança que combina autoridade espiritual com proteção concreta da Igreja, tanto contra heresias quanto contra ameaças externas.
A escolha do nome papal como declaração de intenções
A adoção de um nome papal é um dos primeiros e mais simbólicos atos de um novo pontífice. Trata-se de uma espécie de “programa de governo”, um indicativo do legado que ele deseja honrar e da direção que pretende imprimir ao seu pontificado. Foi o caso de João Paulo II, que homenageou seus antecessores imediatos e sinalizou continuidade. Com os papas chamados que adotaram o nome, a escolha quase sempre remeteu à firmeza doutrinária, ao zelo pastoral e à força diante das adversidades históricas.

O fato de treze papas terem escolhido esse nome mostra como a figura de Leão Magno e o simbolismo do animal continuam a exercer fascínio e respeito na tradição católica. Embora nenhum papa tenha usado esse nome desde o início do século XX, ele permanece carregado de peso simbólico. Papa Leão tende a reafirmar a força, a coragem e a clareza doutrinária associadas a essa linhagem. E agora será assim com Robert F. Prevost, primeiro norte-americano a chefiar a Igreja Católica.
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