O prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos), que ficou conhecido nas redes sociais como “prefeito tiktoker”, pagou R$ 183 mil em “dinheiro vivo” como entrada em um imóvel de alto padrão em um condomínio fechado, localizado na zona leste da cidade.
A Polícia Federal, por meio da Operação “Copia e Cola”, empenha-se desde abril em investigação que envolve o prefeito de Sorocaba. A apuração, iniciada em 2022 com foco em contratos emergenciais da Saúde municipal, ganhou novo fôlego com apreensões de alto valor e indícios de lavagem de dinheiro.
De acordo com fontes da investigação ouvidas pela PF, R$ 183 mil em dinheiro vivo foram usados por Manga na compra de uma mansão avaliada em R$ 1,5 milhão, em Sorocaba. O dinheiro, não declarado por origem lícita, tornou-se peça-chave na hipótese de propina via transações imobiliárias
Essa movimentação se soma às suspeitas de pagamentos em espécie, boletos e transações atípicas direcionadas à organização social IASE (antiga Aceni), responsável por gestões em unidades de Saúde na cidade. O contrato emergencial — sem licitação — para condução da UPA do Éden e da UPH Oeste — evidencia possível sobrepreço e favorecimento ilícito.
Até o momento, foram recolhidos cerca de R$ 1,7 milhão em espécie: R$ 863,8 mil em caixas localizadas em um veículo ligado à cunhada de Manga, e aproximadamente R$ 896 mil em cofres e outros endereços. O dinheiro estava com um parente do prefeito Manga, representante de uma igreja suspeita de transações financeiras ilegais. O montante inclui cédulas de baixo valor, o que dificultou a contagem, que durou um dia inteiro.
A Justiça expedido 28 mandados de busca e apreensão em 12 cidades de São Paulo e em Vitória da Conquista (BA), incluindo a Prefeitura de Sorocaba, o gabinete de Manga, a casa da cunhada (ligada à uma igreja envolvida), e imóveis de ex-secretários e operadores financeiros. Além da apreensão de dinheiro e armas, a PF também determinou o bloqueio de até R$ 20 milhões em bens pertencentes a envolvidos na rede, entre pessoas físicas e jurídicas.
Leandro Soares cobra CPI
Diante dos novos escândalos de corrupção envolvendo o “prefeito TikToker” Rodrigo Manga, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), Leandro Soares, disse que é preciso que a população se mobilize para cobrar dos vereadores da cidade assinaturas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro, peculato e contratações ilícitas na área da saúde, além da ligação da prefeitura com organizações criminosas.
Leandro Soares fez um vídeo em suas redes sociais sobre as últimas denúncias e destacou a gravidade das investigações da PF, que apontam uso de dinheiro vivo na compra de imóvel de luxo, movimentações financeiras suspeitas envolvendo a empresa da primeira-dama e possíveis esquemas de desvio de recursos públicos da saúde municipal.
“Não podemos naturalizar escândalos tão graves. O prefeito está sendo investigado por crimes muito sérios. Sorocaba merece respostas. E a Câmara Municipal precisa cumprir seu papel de fiscalização”, afirma Leandro Soares.
Nesse sentido, ele reforça que a mobilização da sociedade é fundamental neste momento: “A população precisa pressionar os vereadores a assinarem a CPI. Não é um favor, é uma obrigação moral e política de cada parlamentar da nossa cidade.”
Entenda o caso
A PF investiga o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) por suspeita de uso de dinheiro vivo na compra de um imóvel de luxo e por movimentações financeiras suspeitas envolvendo sua família.
Principais pontos da investigação:
- Compra de imóvel com dinheiro vivo: Manga teria pago R$ 183 mil em espécie como entrada na aquisição de uma casa em condomínio fechado.
- Movimentações financeiras da primeira-dama: A empresa de Sirlange Frate, esposa do prefeito, recebeu R$ 750 mil de uma igreja administrada por sua irmã e cunhado, ambos pastores.
- Suspeita de lavagem de dinheiro: Há indícios de que o empresário Marco Mott, amigo pessoal de Manga, teria participado de esquemas de desvio de recursos públicos da saúde municipal por meio da compra de imóveis.
A Operação Copia e Cola, deflagrada pela PF, cumpriu 28 mandados de busca e apreensão em 13 cidades de São Paulo e da Bahia, incluindo a Prefeitura de Sorocaba, a residência e o gabinete do prefeito, a Secretaria de Saúde e o Diretório Municipal do partido Republicanos.
As investigações continuam em andamento, e os desdobramentos desses casos são acompanhados de perto pelas autoridades e pela população de Sorocaba.
Desde o início de sua gestão, Manga acumula escândalos envolvendo verbas públicas, contratos sem licitação, favorecimento de aliados e perseguição institucional.
“O conjunto de investigações revela uma gestão marcada por decisões arbitrárias, contratos suspeitos e falta de compromisso com a transparência. O cerco jurídico e institucional se fecha, envolvendo inclusive familiares e aliados próximos.O povo de Sorocaba merece respeito e responsabilidade com o dinheiro público”, finalizou Leandro Soares
A PF segue na análise das evidências — notas apreendidas, imóveis, contratos e registros imobiliários — para detalhar a origem do dinheiro usado na compra da mansão avaliada em R$ 1,5 milhão. Dependendo dos resultados, Manga pode ser indiciado por corrupção passiva, ativa, lavagem de dinheiro, peculato, contratação ilegal e frustração de licitação.
Os advogados de Manga alegam que “Todas as operações financeiras mencionadas possuem origem lícita e devidamente corroboradas por documentação, declaradas no Imposto de Renda e, algumas, inclusive, realizadas através de financiamento bancário”. Em nota, dizem que “a defesa já apresentou diversos documentos à justiça, comprovando a legalidade de todas essas transações”, e que aguardam o arquivamento do procedimento.
Ao mesmo tempo, a Prefeitura de Sorocaba reforçou que as operações são lícitas e que aguarda o arquivamento. A administração municipal não respondeu se tinha conhecimento das reuniões de Marco Mott com secretários municipais, como relatado pela Polícia Federal.
A linha do tempo abaixo apresenta um resumo cronológico das principais acusações e ações judiciais contra o prefeito Manga em andamento:
Linha do Tempo das Investigações
2021 – Lousas Digitais
Contrato de R$ 46,9 milhões para compra de 1.188 lousas digitais com indícios de superfaturamento. Prejuízo estimado: R$ 11 milhões.
2022 – Início da investigação da PF
A Polícia Federal começa a apurar desvios em contratos da saúde, especialmente nas UPAs Éden e Oeste.
2023 – Kit de Robótica
Contrato suspeito de R$ 13 milhões com empresa ligada a materiais de educação digital. O Ministério Público instaura inquérito.
Dezembro/2024 – Alerta do TCE
O Tribunal de Contas detectou sobrepreço de até 56% no contrato das lousas, comparando com outras cidades.
Abril/2025 – Operação ‘Copia e Cola’ da PF
28 mandados de busca e apreensão, incluindo na casa do prefeito. Bloqueio de R$ 20 milhões. Ex-secretário indiciado por propina.
Maio/2025 – Manga Vira Réu
Justiça aceita ações de improbidade administrativa ligadas aos contratos de lousas, curso FADI e robótica.
Junho/2025 – Investigação Alcança Primeira-dama
A Polícia Federal ampliou a investigação para o entorno familiar de Manga.
Junho/2025 – Contratos Emergenciais & Assédio
Prefeitura contrata empresa por R$ 2 milhões para capina sem licitação. Conselheiros tutelares denunciam perseguição.
Junho/2025 – Ocultação de Filas da Saúde
Manga veta projeto que traria transparência a mais de 180 mil pessoas na fila do SUS.