Prêmio Camões é entregue a Adélia Prado

Prêmio Camões reconhece autores que contribuem para o enriquecimento da cultura e do patrimônio da língua portuguesa
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Os presidentes Lula e Marcelo Rebelo (à esquerda) entregaram o prêmio à poetisa Adélia Prado, que foi representada por seu filho Eugênio Prado (à direita) - Foto: Ricardo Stuckert/Secom-PR

Representada pelo filho, Adélia Prado recebe o Prêmio Camões. Veja como foi a entrega do prêmio em TVT News.

Poetisa Adélia Prado recebe Prêmio Camões

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta terça-feira, 18 de fevereiro, da cerimônia de entrega do Prêmio Camões de Literatura à escritora Adélia Prado, que foi representada por seu filho Eugênio Prado.

A solenidade no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF), também contou com a participação do presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.

A obra de Adélia Prado é uma janela para o coração de todos os brasileiros e amantes da língua portuguesa. Uma língua com palavras tão belas e únicas, tão especiais e singelas como saudade, coragem e resistência. Palavras que descrevem a potência de Adélia e a força do Brasil”

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

“A obra de Adélia Prado é uma janela para o coração de todos os brasileiros e brasileiras e todos os amantes da língua portuguesa. Uma língua com palavras tão belas e únicas, tão especiais e singelas como saudade, coragem e resistência. Palavras que descrevem a potência de Adélia e a força do Brasil”, ressaltou Lula.

Em seu discurso, o líder brasileiro apontou o trabalho da escritora mineira como uma fonte de inspiração. “Adélia nos inspira a fazer política como ela faz poesia. As pessoas estão no cerne de sua escrita, assim como deveriam estar no centro de qualquer ação de governo. Seus poemas celebram a presença e o cuidado com que a mãe prepara o café para o pai que faz serão, ou com que o marido limpa um peixe ao lado da esposa. É também com presença e cuidado que se governa”, afirmou, lembrando que a matéria-prima dos textos dela é a experiência do cotidiano.

Nas redes sociais, Adélia Prado falou sobre o Prêmio Camões e também o Prêmio Machado de Assim, veja o vídeo:

“Num mundo em que a voz feminina ainda é muitas vezes abafada ou calada, Adélia desbravou um domínio tradicionalmente masculino e abriu caminho para outras mulheres ‘desdobráveis’ como ela”, sinalizou Lula. “Espero que a literatura lusófona continue a enriquecer-se com perspectivas cada vez mais diversas e plurais”, completou o presidente brasileiro.

Marcelo Rebelo destacou que a láurea reflete a relevância da cultura lusófona. “Esse prêmio mostra a importância da língua portuguesa, como língua universal. Como universais somos brasileiros e portugueses. Somos assim, sempre, no passado, no presente, no futuro. Falar de Adélia Prado é falar daquilo que é um retrato único de simbiose dessa potência mundial chamada Brasil”, declarou.

O presidente português também assinalou que a autora enfatiza a importância do papel da mulher na sociedade. “O que há de extraordinário em Adélia é o fato de o Brasil ter mudado muito, em termos sociais e religiosos, e a poesia de Adélia ter continuado a ser sempre atual. Mais do que atual, pioneira”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Adélia Prado: a poetisa do cotidiano

A obra de Adélia Prado, uma das mais importantes poetisas brasileiras, é marcada por uma profunda conexão entre o sagrado e o cotidiano. Nascida em Divinópolis, Minas Gerais, em 1935, Adélia traz em seus versos uma sensibilidade única para tratar temas como a fé, o amor, a família e a existência humana. Sua poesia é conhecida por misturar o transcendental com o terreno, criando uma linguagem que transita entre o divino e o prosaico, sem perder a força e a beleza.

Em livros como “Bagagem” (1976), sua estreia literária, Adélia Prado já demonstrava sua capacidade de transformar o ordinário em extraordinário. Seus poemas falam de tarefas domésticas, relações familiares e pequenos detalhes do dia a dia, mas sempre com um olhar que revela a profundidade e a espiritualidade dessas experiências. A autora não separa o sagrado do mundano; ao contrário, ela os entrelaça, mostrando que a divindade pode ser encontrada nas coisas mais simples da vida.

Além da poesia, Adélia também se destacou na prosa, com obras como “O Homem da Mão Seca” (1994) e “Manuscritos de Felipa” (1999). Sua escrita é permeada por uma linguagem coloquial e ao mesmo tempo lírica, que reflete sua formação filosófica e sua fé católica. Adélia Prado conquistou leitores e críticos por sua capacidade de falar diretamente ao coração, abordando temas universais com uma voz autêntica e profundamente humana.

Veja o discurso do presidente Lula na entrega do Prêmio Camões a Adélia Prado

“É uma alegria participar da entrega do Prêmio Camões à querida Adélia Prado, aqui representada por seu filho Eugênio Prado.

Não é por acaso que uso a palavra “alegria”.  

Adélia nos ensinou que “a vida é mais tempo alegre do que triste”, uma lição atual e necessária.

Em tempos de crises econômicas, catástrofes climáticas, guerras e pandemias, não sucumbir ao desalento é um ato de resistência.

É na desesperança, no medo e no ressentimento que viceja o ódio como projeto político.

Adélia nos inspira a fazer política como ela faz poesia.

As pessoas estão no cerne de sua escrita, assim como deveriam estar no centro de qualquer ação de governo.

 Seus poemas celebram a presença e o cuidado com que a mãe prepara o café para o pai que faz serão, ou com que o marido limpa um peixe ao lado da esposa.

É também com presença e cuidado que se governa.

Presença na forma de políticas e serviços públicos de qualidade.

Cuidado com os mais vulneráveis e com o meio ambiente.  

 A matéria-prima dos poemas de Adélia Prado é a experiência do cotidiano, que se vive nas cozinhas, nas varandas e nos quintais.

Sua poesia é uma homenagem ao real, cuja concretude hoje se esfacela em plataformas virtuais e redes digitais.

Em um contexto de negacionismo, mentira e desinformação, a verdade que transborda da obra de Adélia é um importante chamado à realidade.

Ela é também um reencontro do Brasil consigo mesmo, em especial com a parte de sua alma forjada nas calçadas e casarios mineiros.

Devemos muito a Minas, terra não só de Adélia, mas de muitos outros que tanto contribuíram para a literatura em língua portuguesa.

Dizem que para alcançar o universal, deve-se começar pela própria aldeia.

Adélia já afirmou que todas as paixões humanas estão em Divinópolis, sua cidade natal.

Lembrar da humanidade comum que nos une é a principal arma contra a xenofobia e a discriminação racial.

Respeitar a dignidade daqueles que migram em busca de uma vida melhor é reconhecer que há mais semelhanças do que diferenças entre nós.   

Os versos de Adélia descortinam o divino que habita todas as coisas.  

Seu Deus não é o que recrimina e exclui, mas o que acolhe e inclui. O Jesus Cristo de Adélia é aquele que diz “amai-vos”.

Num mundo em que a voz feminina ainda é muitas vezes abafada ou calada, Adélia desbravou um domínio tradicionalmente masculino e abriu caminho para outras mulheres “desdobráveis” como ela.

Espero que a literatura lusófona continue a enriquecer-se com perspectivas cada vez mais diversas e plurais.

A obra de Adélia Prado é uma janela para o coração de todos os brasileiros e todos os amantes da língua portuguesa.

Uma língua com palavras tão belas e únicas, tão especiais e singelas como saudade, coragem e resistência.

Palavras que descrevem a potência de Adélia e a força do Brasil.

Parabéns, Adélia, e obrigado por ter-nos ensinado, dentro e fora da sala de aula, nos versos e na vida, a pensar, a sentir e a sonhar.

Muito obrigado.”

Discurso lido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na entrega do Prêmio Camões a Adélia Prado, em Brasília, no dia 18 de fevereiro

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