Controladoria investiga primo de secretário de Nunes por R$ 710 mil em cachês em SP

Desde junho de 2023, Davi Goulart recebeu mais de R$ 710 mil da Prefeitura de São Paulo por apresentações em eventos da gestão Nunes
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De acordo com a apuração, Davi Goulart foi contratado ao menos 23 vezes pela Secretaria Municipal de Cultura de Nunes, sempre sem licitação. Foto: Redes Sociais

A Controladoria-Geral do Município (CGM) de São Paulo instaurou, nesta terça-feira (14), uma investigação interna para apurar as contratações do cantor sertanejo Davi Goulart, primo do secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Rodrigo Goulart. Desde junho de 2023, o artista recebeu mais de R$ 710 mil da Prefeitura de São Paulo por apresentações em eventos da cidade. As informações foram publicadas a partir de investigações do UOL e do O Globo. Entenda na TVT News.

De acordo com a apuração, Davi Goulart foi contratado ao menos 23 vezes pela Secretaria Municipal de Cultura de Nunes, sempre sem licitação, sob o argumento de que seria um artista “consagrado”, o que o isentaria do teto de R$ 3.500 por show previsto em portaria municipal. Em alguns casos, os cachês chegaram a R$ 50 mil por apresentação, mesmo com o cantor registrando apenas sete ouvintes mensais no Spotify.

Um dos pareceres técnicos que autorizaram as contratações cita até um elogio do jogador Neymar Jr. a uma música do cantor como prova de notoriedade. O documento diz que Davi “participou de um álbum experimental em 2014 voltado ao pop sertanejo” e que a faixa Taça de Vinho teria “rodado o mundo sendo elogiada até pelo jogador do Barcelona Neymar Jr.”.

Nas redes sociais, o secretário Rodrigo Goulart já apareceu em vídeos ao lado do primo e declarou admiração pelo artista. “Sempre um fã desse meu primo querido, que desde criança é atração das reuniões de família. Ele ainda é afilhado do meu pai, então a gente tem esse carinho especial”, escreveu, agradecendo o apoio de Davi durante sua campanha eleitoral para vereador, cargo do qual está licenciado para assumir a secretaria.

Em nota ao UOL, a Secretaria Municipal de Cultura afirmou que as contratações seguiram “integralmente os requisitos legais” e que a “comprovação da consagração do artista junto à crítica especializada e à opinião pública foi devidamente apresentada”. A pasta também disse que os valores pagos “são compatíveis com outras apresentações do artista sem vínculo com o município”.

Segundo a reportagem, parte dos shows ocorreu dentro do Circuito Cultural de Rua, programa que banca apresentações em quermesses e festas de bairro. O O Globo também revelou que, em 2023, o secretário Rodrigo Goulart destinou R$ 700 mil em emendas parlamentares para esse mesmo programa. Nos dois meses seguintes, Davi foi contratado pela Secretaria de Cultura para três shows, somando R$ 425 mil em cachês. Em seu Instagram, o cantor agradeceu publicamente ao primo pelo “apoio”.

Investigado na gestão Nunes

O nome de Rodrigo Goulart também aparece em outro caso sob investigação — o do fornecimento de alimentos e bebidas para a população de rua de São Paulo a preços superfaturados. Conforme revelou o UOL, a prefeitura pagava R$ 4,11 por garrafa de água de 500 ml, enquanto a mesma marca era vendida em supermercados a R$ 0,77, diferença superior a 400%.

Os donos da empresa contratada têm relações políticas próximas da família Goulart. O ex-vereador Antônio Goulart, pai de Rodrigo, chegou a afirmar em 2020 que “as nossas famílias realmente se confundem, é uma família só, Ribeiro da Silva e Goulart”.

A licitação para fornecimento de alimentos e bebidas é alvo de um inquérito civil do Ministério Público de São Paulo, instaurado em junho pela promotora Karyna Mori, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social. O MP apura suspeita de direcionamento e sobrepreço. Segundo a promotora, “impõe-se a investigação do caso, diante da absurda disparidade de valores apontada na reportagem”.

Investigação interna

Agora, a Controladoria-Geral do Município conduz a apuração sobre as contratações de Davi Goulart. A investigação, aberta a pedido do prefeito Ricardo Nunes (MDB), tramita sob o número SEI 6067.2025/0027616-2 e busca identificar eventuais irregularidades ou falhas administrativas na justificativa de “consagração artística” que embasou os contratos.

A gestão Nunes ainda não comentou os desdobramentos do caso.

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