Uma nova rodada da pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (17), aponta que os índices de aprovação e desaprovação do governo Luiz Inácio Lula da Silva estacionaram em setembro. O levantamento mostra que 46% dos entrevistados aprovam a gestão do presidente, enquanto 51% a desaprovam, sem variações estatísticas em comparação a agosto.
A pesquisa ouviu 2.004 pessoas entre os dias 12 e 14 de setembro, em entrevistas presenciais, e tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Os dados revelam que a percepção da população em relação ao governo está dividida e sem alterações expressivas: 31% avaliam o trabalho de Lula de forma positiva, 38% negativa e 28% classificam como regular. O cenário reforça a ideia de que a gestão conseguiu estabilizar sua avaliação após uma fase de queda no primeiro semestre e uma leve recuperação nos últimos meses.
Essa recuperação recente foi explicada por alguns fatores conjunturais. Um dos elementos mais citados pelos analistas é a resposta política do governo ao chamado “tarifaço” dos Estados Unidos, imposto pelo presidente Donald Trump, que determinou uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros. A medida foi interpretada como retaliação política e criou um ambiente de solidariedade interna ao governo, que buscou se apresentar como defensor da soberania nacional. Essa narrativa repercutiu positivamente na opinião pública, reduzindo o desgaste do Executivo.
Outro fator relevante foi o comportamento da inflação, sobretudo no setor de alimentos. Embora a percepção majoritária da população ainda seja a de que os preços seguem altos, houve sinais de desaceleração em alguns produtos, o que retirou parte da pressão negativa sobre a avaliação do governo. A diminuição no ritmo de aumento de preços ajudou a conter a insatisfação e deu fôlego para que a recuperação da popularidade se mantivesse.
A pesquisa também captou melhorias na percepção sobre a situação econômica em recortes específicos. Houve aumento no número de brasileiros que consideram mais fácil conseguir emprego hoje em comparação com um ano atrás, o que contribui para uma avaliação menos negativa do cenário geral. Além disso, programas sociais lançados ou reforçados pelo governo, como o “Gás do Povo”, apresentaram alto nível de conhecimento e aprovação entre a população, alcançando 67% de avaliação favorável. A combinação desses elementos fortaleceu a base de apoio social, especialmente entre os setores mais vulneráveis, que tradicionalmente compõem a base eleitoral de Lula.
Outro aspecto identificado pela Quaest foi a melhora na presença de notícias positivas sobre a gestão em comparação a meses anteriores. O aumento na visibilidade de medidas governamentais e a redução de repercussão de notícias negativas também ajudaram a manter estáveis os índices de aprovação. Essa dimensão comunicacional é considerada central no esforço do Palácio do Planalto para se reconectar com a sociedade, sobretudo após críticas de que o presidente teria se afastado das ruas e da base popular.
Apesar da estabilidade, o levantamento aponta alguns alertas importantes. A maioria da população ainda avalia que o país está no caminho errado, percentual que chega a 58%. Além disso, 61% dos entrevistados afirmam que Lula perdeu conexão com o povo, o que revela uma fragilidade na imagem presidencial que pode dificultar novas recuperações nos índices de aprovação. A percepção negativa sobre a economia como um todo, especialmente em relação ao poder de compra, continua pesando de maneira significativa, mesmo diante de avanços pontuais em emprego e programas sociais.
Em síntese, os números da Quaest reforçam um cenário de equilíbrio entre aprovação e desaprovação, mas com vantagem para a avaliação negativa. O governo conseguiu estancar a queda e consolidar ganhos obtidos nos últimos meses, principalmente pela combinação de fatores econômicos e políticos, mas ainda enfrenta obstáculos estruturais para ampliar sua popularidade. A estabilidade em setembro, após uma fase de recuperação, indica que Lula mantém apoio expressivo de parte do eleitorado, mas segue desafiado pela percepção de distanciamento social e pela persistente preocupação com a economia.