Rússia avisa: EUA atacarem Irã “desestabilizaria radicalmente a situação”

Vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia pede que não haja qualquer assistência militar direta dos EUA a Israel
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Moscou e Washington estão em contato direto diante da escalada do conflito entre Irã e Israel. Foto: OSW

Moscou e Washington estão em contato direto diante da escalada do conflito entre Irã e Israel, que entra hoje (18) no seu sexto dia. A confirmação foi feita pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, à agência Interfax. Entenda na TVT News.

Ryabkov alertou que qualquer assistência militar direta dos Estados Unidos a Israel poderia “desestabilizar radicalmente toda a situação”. O clima é de instabilidade diante da política agressiva de Israel contra vizinhos. Nos últimos dois anos, o regime sionista israelense já atacou sem qualquer provocação o Líbano, a Síria e o Irã. Além disso, promove um genocídio sistemático contra a população palestina na Faixa de Gaza.

Agora, sucessivos bombardeios entre Teerã e Tel Aviv escalou já que, pela primeira vez, um país decidiu revidar as agressões de Israel. Segundo o diplomata russo, até mesmo cogitar essas “opções especulativas”, em relação aos EUA ajudar Israel nos ataques, seria extremamente perigoso.

Catástrofe ao lado

O alerta também encontra eco nas palavras da porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, que declarou que o mundo está “a milímetros de uma catástrofe”, principalmente diante dos ataques diários israelenses contra a infraestrutura nuclear iraniana.

Na última sexta-feira (13), Israel atacou de surpresa instalações energéticas, civis, cientistas e líderes militares iranianos. Moscou classificou a ofensiva como “não provocada e ilegal”. Em retaliação, Teerã disparou mísseis e drones contra cidades israelenses, dando início, enfim, a uma guerra que Israel tanto buscou.

EUA no jogo

A pressão por uma entrada formal dos Estados Unidos no conflito cresceu nas últimas 24 horas. Formal, já que os EUA já financiam e apoiam Israel há décadas. Em solo sionista, a expectativa se traduziu em capas de jornais e horas de debates televisivos. O diário Yedioth Ahronoth estampou na capa a foto de Donald Trump a bordo do Air Force One, acompanhada do pedido direto: “Mr. President, give the order” (“Senhor presidente, dê a ordem”).

O entusiasmo, porém, reflete também um reconhecimento de fragilidade. Segundo analistas militares israelenses, o país não teria capacidade de alcançar sozinho os objetivos que traçou no atual conflito, especialmente diante do desgaste das defesas antimísseis e as múltiplas frentes de ataques.

Fontes ligadas ao governo norte-americano revelaram que Trump e sua equipe avaliam diversas opções, incluindo ataques conjuntos às instalações nucleares do Irã. Na terça-feira (17), Trump chegou a sugerir nas redes sociais a possibilidade de eliminar o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei — mas recuou parcialmente: “Não vamos eliminá-lo, pelo menos não por enquanto.”

Irã promete retaliar

Em pronunciamento transmitido pela TV estatal iraniana hoje, o aiatolá Ali Khamenei reagiu às declarações de Trump e deixou claro: qualquer ataque direto dos Estados Unidos ao Irã acarretará “consequências sérias e irreparáveis” para Washington.

“O Irã jamais se renderá. Aqueles que conhecem a nossa história sabem que os iranianos não respondem bem à linguagem da ameaça”, afirmou o líder.

China no tabuleiro

Enquanto os EUA ameaçam, a China também pode ter entrado em cena de forma mais discreta. Dados de voo analisados pelo jornal The Telegraph indicam que cargueiros Boeing 747 decolaram de cidades chinesas com destino declarado a Luxemburgo, mas desapareceram dos radares ao se aproximarem do espaço aéreo iraniano.

Especialistas apontam que esses cargueiros são comumente usados para transportar equipamentos e armamentos. A empresa Cargolux, que operou os voos, afirmou que não sobrevoou o espaço iraniano, mas se recusou a comentar sobre o conteúdo das cargas.

Analistas indicam que, apesar da cautela, há uma expectativa concreta de que Pequim ofereça algum tipo de suporte ao Irã, fortalecendo uma aliança estratégica que desafia diretamente a ordem global liderada pelos Estados Unidos. Além disso, os países possuem acordos de cooperação, sendo que a China é grande compradora de energia iraniana.

À beira do abismo

A guerra aérea, que já deixou mais de 240 mortos e milhares de feridos em ambos os países, avança sem sinais de trégua. As mortes na Palestina superam as 55 mil e seguem; maioria de vítimas civis, particularmente mulheres e crianças. Enquanto mísseis cruzam os céus do Oriente Médio, o mundo segura a respiração diante do risco de que um conflito localizado se transforme numa guerra de proporções globais.

O presidente russo, Vladimir Putin, que firmou em janeiro um acordo de parceria estratégica com Teerã, pediu publicamente o fim imediato das hostilidades. Mas, com as peças do tabuleiro global já em movimento, e com interesses sobrepostos de Washington, Moscou e Pequim, o cessar-fogo parece, neste momento, distante.

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