Saúde mental: Brasil vive epidemia de transtornos e afastamentos

Em 2024, foram registrados 471.649 afastamentos do trabalho por transtornos mentais
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Em 2024, foram registrados 471.649 afastamentos do trabalho por transtornos relacionados à saúde mental. Foto: EBC

O Brasil enfrenta crise de saúde mental que tem deixado marcas no cotidiano dos trabalhadores e no funcionamento das empresas. Entre os mais afetados, bancários e servidores. Governo tenta reagir com nova normal regulamentar. Entenda na TVT News.

Em 2024, foram registrados 471.649 afastamentos do trabalho por transtornos mentais — o maior número em pelo menos uma década, segundo dados do Ministério da Previdência Social. O ano anterior registrou 283.345 afastamentos. Um aumento de mais de 66%.

Ansiedade, depressão e transtornos de adaptação são os principais responsáveis por essa explosão nos afastamentos. Especialistas apontam que os efeitos prolongados da pandemia de Covid-19, aliados à pressão crescente do mercado de trabalho e à precarização das condições laborais, contribuíram para esse quadro alarmante.

Setores mais afetados e causas

Em relação ao principais causas de afastamento, os maiores grupos são: reações ao stress grave e transtornos de adaptação; transtornos ansiosos; episódios depressivos; transtorno depressivo recorrente; transtorno afetivo bipolar.

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Principais transtornos mentais. Fonte: Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho/SmartLab

Já em relação aos setores mais afetados: administração pública; bancos múltiplos; atendimento hospitalar; transporte coletivo; Correios; Caixas Econômicas; vigilância; entre outras.

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Setores mais afetados. Principais transtornos mentais. Fonte: Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho/SmartLab

Sobre as profissões mais afetadas: motoristas de ônibus; gerente de contas; escriturário de banco; técnico de enfermagem; vigilantes; assistentes administrativos; faxineiro; caixa de banco.

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Profissões mais afetadas. Fonte: Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho/SmartLab

Reposta do governo

Em resposta, o governo Lula decidiu agir. O Ministério do Trabalho anunciou a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece as diretrizes gerais sobre saúde e segurança no ambiente de trabalho. A principal novidade é a obrigatoriedade de avaliação dos chamados fatores de risco psicossociais, como estresse crônico, assédio moral e sobrecarga emocional, nos Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR) das empresas.

Saúde mental em pauta

A atualização entra em vigor a partir desta segunda-feira (26), mas em caráter orientativo. As empresas terão de se adaptar às novas exigências. Durante esse período, a fiscalização terá caráter educativo. Após esse prazo, descumprimentos poderão acarretar multas e sanções.

Entre os principais pontos da atualização, estão:

  • Inclusão de riscos psicossociais no PGR: As empresas agora devem identificar e mapear riscos à saúde mental no ambiente de trabalho.
  • Treinamento dos colaboradores: As equipes deverão receber capacitação específica sobre os novos critérios de saúde mental e prevenção de riscos psicossociais.
  • Fiscalização intensificada: A norma prevê auditorias mais frequentes e rigorosas para verificar o cumprimento das medidas.

Cultura organizacional

A exigência de medidas concretas para o cuidado com a saúde mental dos trabalhadores representa uma mudança de paradigma na gestão de pessoas no Brasil. Não se trata mais apenas de prevenir acidentes físicos, mas de garantir um ambiente psicologicamente seguro.

“A realidade social, econômica, política, cultural e ambiental impacta diretamente na saúde mental da população, não sendo um problema meramente individual. Dessa maneira, compreende-se que os problemas de saúde mental resultam da coletividade, demandando políticas públicas, redes de proteção, melhores condições de vida, segurança alimentar e suporte comunitário”, informa o Ministério da Saúde.

O custo humano

O impacto da crise não é apenas humano. Os afastamentos por transtornos mentais têm um custo bilionário para o sistema previdenciário e para a economia como um todo. A produtividade cai, os times se desorganizam, e o clima organizacional se deteriora.

Ao mesmo tempo, trabalhadores adoecidos frequentemente enfrentam dificuldade para acessar cuidados adequados, e muitos só conseguem afastamento quando a situação já se tornou insustentável.

A atualização da NR-1 é um passo para a construção de ambientes de trabalho mais saudáveis e humanos. Mas, para que as mudanças realmente façam diferença, será preciso que empresas, gestores e trabalhadores estejam dispostos a assumir responsabilidades e transformar práticas.

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