Secretário de Trump retira 381 livros sobre raça, gênero e sexualidade

Lista inclui obras significativas como a autobiografia de Maya Angelou
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Pete Hegseth é um dos mais radicais no combate à suposta ideologia de gênero. Foto: Casa Branca
O governo do presidente Donald Trump retirou 381 livros da biblioteca da Academia Naval dos Estados Unidos (USNA), como parte da sua ofensiva contra conteúdos relacionados à diversidade, equidade e inclusão. A decisão partiu do gabinete do secretário de Defesa, Pete Hegseth, um dos mais engajados no combate à suposta ideologia de gênero e diversidade nas Forças Armadas. 

A iniciativa gerou debates intensos sobre o papel da diversidade, equidade e inclusão (DEI) nas instituições militares. Essa ação é parte de um esforço mais amplo da administração Trump para eliminar conteúdos relacionados a DEI de agências federais e escolas militares.​

Entre os títulos removidos estão obras significativas como a autobiografia de Maya Angelou, “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola”, e “Memorializing the Holocaust: Gender, Genocide and Collective Memory” (Memorializando o Holocausto: Gênero, Genocídio e Memória Coletiva, em tradução livre), da socióloga Janet Liebman Jacobs, e “Half American: The Epic Story of African Americans Fighting World War II at Home and Abroad” (Meio Americano: A História Épica de Afro-Americanos Lutando na Segunda Guerra Mundial em Casa e no Exterior), do historiador Matt F. Delmont. Além disso, livros que tratam de temas como identidade de gênero, feminismo e direitos civis também foram retirados das prateleiras.

A iniciativa de revisar e remover esses livros foi comunicada à academia no final da semana passada. Uma busca inicial identificou aproximadamente 900 títulos para análise mais aprofundada, resultando na decisão de retirar cerca de 400 volumes. A remoção foi concluída antes da visita previamente agendada de Hegseth à academia nesta terça-feira (8), embora oficiais tenham afirmado que a visita não estava relacionada à ação de remoção dos livros.

Essa medida está alinhada com uma ordem executiva do presidente Donald Trump, emitida em janeiro, que proíbe instruções, programas ou currículos relacionados à DEI em escolas de ensino fundamental e médio que recebem financiamento federal. Embora as academias militares, por serem instituições de ensino superior, não estivessem inicialmente incluídas nessa ordem, o Departamento de Defesa ampliou seu escopo para abranger também essas instituições. Um oficial dos EUA mencionou que a academia foi instruída no final da semana passada a conduzir a revisão e remoção, embora não esteja claro se a ordem veio diretamente de Hegseth ou de alguém de sua equipe.

A decisão de Hegseth reflete sua postura crítica em relação às políticas de DEI nas forças armadas. Em seu livro “The War on Warriors: Behind the Betrayal of the Men Who Keep Us Free” (A Guerra contra os Guerreiros: Por Trás da Traição dos Homens que nos Mantêm Livres), publicado em 2024, Hegseth argumenta que a ênfase em políticas “woke” – termo que se refere às agendas feminista, antirracista e diversidade, que vem ganhando conteúdo pejorativo – e esforços para combater o extremismo político enfraqueceram a cultura militar dos EUA. Ele critica líderes militares por promoverem iniciativas de diversidade e inclusão, sugerindo que isso tornou as Forças Armadas menos eficazes. ​

Além disso, em fevereiro de 2025, Hegseth anunciou reformas nas academias militares para eliminar políticas identitárias e agendas progressistas radicais que, segundo ele, haviam sido implementadas nos últimos anos. Ele enfatizou a necessidade de priorizar disciplinas como história, engenharia e estudos de guerra, abandonando o ensino de temas ligados a políticas identitárias radicais. Hegseth afirmou: “Precisamos restaurar o espírito guerreiro no Departamento de Defesa, e isso começa com nossos futuros líderes”. ​

A remoção dos livros gerou reações diversas. Críticos argumentam que a eliminação de materiais que abordam temas como o Holocausto, direitos civis e questões de gênero pode levar à censura e à falta de compreensão sobre a diversidade e a história. Por outro lado, apoiadores da decisão acreditam que a remoção desses materiais é necessária para manter o foco nas missões centrais das academias militares e evitar influências consideradas politicamente motivadas.​

A medida também levanta questões sobre o equilíbrio entre a manutenção da tradição militar e a adaptação às mudanças sociais. Enquanto alguns veem as políticas de DEI como essenciais para promover a inclusão e a representatividade nas Forças Armadas, alas conservadoras ligadas ao trumpismo consideram distrativas ou prejudiciais à coesão e prontidão militar.​

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