Sindicalização cresce pela primeira vez desde 2012 e alcança 8,9% dos trabalhadores

Aumento recente de sindicalização em setores importantes indica possível reorganização do setor, de acordo com análise do IBGE
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O Brasil registrou em 2024 o primeiro aumento na taxa de sindicalização desde o início da série histórica da Pnad Contínua, em 2012 Imagem: Divulgação/Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

O Brasil registrou em 2024 o primeiro aumento na taxa de sindicalização desde o início da série histórica da Pnad Contínua, em 2012. Segundo dados divulgados nesta terça-feira (19) pelo IBGE, 8,9% dos 101,3 milhões de ocupados estavam associados a sindicatos, um total de 9,1 milhões de pessoas. Em 2023, a taxa era de 8,4% (8,3 milhões), o menor patamar já registrado. O crescimento representa 812 mil novos sindicalizados, alta de 9,8% em um ano. Entenda na TVT News.

Mesmo com a recuperação recente, o recuo acumulado desde 2012 ainda é expressivo: a taxa de sindicalização caiu 7,2 pontos percentuais em doze anos. Naquele ano, 16,1% dos trabalhadores eram sindicalizados.

Sindicalização disseminada entre setores

Pela primeira vez desde 2016, todos os grupamentos de atividades registraram aumento na sindicalização entre 2023 e 2024, com apenas uma exceção: agricultura, pecuária, pesca e aquicultura, que recuou 0,2 ponto percentual. Os maiores avanços ocorreram em:

  • Administração pública, defesa e seguridade social, educação, saúde e serviços sociais: 15,5% (+1,1 p.p.);
  • Indústria geral: 11,4% (+1,1 p.p.);
  • Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas: 9,6% (+0,8 p.p.);
  • Comércio: 5,6% (+0,5 p.p.).

Apesar do movimento positivo no curto prazo, todos os setores mostram retração quando comparados a 2012. Um dos casos mais emblemáticos é o de transporte, armazenagem e correios, cuja taxa caiu de 20,7% para 8,3%, perda de 12,4 pontos percentuais. A indústria também sofreu queda significativa desde 2012, recuando de 21,3% para 11,4%.

Para o analista do IBGE William Kratochwill, o aumento recente em setores importantes indica possível reorganização sindical. “É possível que exista um movimento de retomada, já que historicamente são grupos mais organizados em termos de sindicalismo”, explica. Ele lembra que a queda na agricultura, por exemplo, está mais associada à redução do contingente ocupado do que ao abandono das entidades pelos trabalhadores.

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Carteira assinada e setor público puxam alta

O avanço da sindicalização também foi impulsionado pelo emprego formal, tanto no setor privado quanto no público.

  • Empregados com carteira assinada no setor privado: a taxa subiu de 10,1% para 11,2%.
  • Servidores públicos e militares: de 18,3% para 18,9%.

Ambos os grupos haviam concentrado parte das perdas desde 2017, e agora mostram sinais de recuperação.

Nas bases mais vulneráveis do mercado de trabalho, a sindicalização continua baixa:

  • Empregados sem carteira: 3,8%;
  • Trabalhadores domésticos: 2,6%.

“Os sem carteira estão à margem do mercado e os trabalhadores domésticos são uma classe menos organizada, com alta informalidade”, afirma Kratochwill.

Mais escolaridade, mais sindicalização

O nível de instrução também influencia a probabilidade de sindicalização. Entre os 9,1 milhões de sindicalizados:

  • 37,5% tinham ensino médio completo;
  • 37,2% tinham superior completo, grupo com a maior taxa de sindicalização: 14,2%.

Todos os níveis de escolaridade registraram aumento em relação a 2023.

Ainda assim, a queda na sindicalização desde 2012 é mais profunda justamente entre os trabalhadores com nível superior, onde a retração chega a 14,1 pontos percentuais, a maior entre todos os grupos.

Sul e Sudeste lideram recuperação; Nordeste tem mais mulheres sindicalizadas

As regiões Sul (9,8%) e Sudeste (9,2%) foram responsáveis pela maior parte do crescimento nacional.

A região Nordeste se destaca por ser a única onde a taxa de sindicalização entre mulheres (10,0%) supera a dos homens (8,9%). No total do país, os homens seguem levemente à frente: 9,1% ante 8,7%.

Cresce formalização entre conta-próprias e empregadores

Além da sindicalização, a Pnad investigou o registro no CNPJ entre trabalhadores por conta própria e empregadores — grupo que chegou a 29,8 milhões de pessoas em 2024, alta de 1,8%.

  • 33,6% desse contingente possuem CNPJ, maior valor desde o início da série (exceto 2022).
  • Entre os empregadores, 80% têm registro;
  • Entre os conta-própria, 25,7%.

O avanço entre os autônomos está ligado à adoção de pagamentos digitais e plataformas de serviços.

“A necessidade de acessar meios eletrônicos de pagamento e serviços bancários exige algum grau de formalização”, explica o analista do IBGE.

A formalização cresce conforme o nível de instrução aumenta: apenas 11% dos autônomos sem ensino básico completo têm CNPJ, ante 48,4% dos que possuem nível superior.

Cresce também o número de trabalhadores em seus próprios estabelecimentos

A pesquisa mostra que 59,4% dos ocupados trabalhavam em estabelecimento próprio, aumento pelo segundo ano seguido. Caiu, por outro lado, o trabalho em domicílio, que recuou para 7,9%, após pico em 2022.

Cooperativas seguem com baixa adesão

Apenas 4,3% dos trabalhadores por conta própria ou empregadores participavam de cooperativas de trabalho ou produção, o menor percentual da série. A Região Sul lidera, com 8,2%.

Indicadores mostram mercado em reorganização

Os dados de 2024 sugerem uma inflexão após anos de queda contínua na sindicalização e um avanço lento, porém consistente, na formalização do trabalho autônomo. A retomada econômica, a reorganização do movimento sindical e mudanças tecnológicas que exigem formalização ajudam a explicar os movimentos captados pela Pnad Contínua.

As tabelas completas estão disponíveis no sistema Sidra, do IBGE.

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