O Conselho Deliberativo do Sport Club Corinthians Paulista aprovou o impeachment de Augusto Melo, agora ex-presidente do clube. Agora, o time do povo segue em um cenário de incertezas e com a cúpula do comando manchada por defensores da ditadura e do bolsonarismo. Entenda na TVT News.
Impeachment no Corinthians
Em sessão realizada no Salão Nobre do Parque São Jorge, 176 conselheiros votaram a favor do afastamento, contra 57 votos contrários e um nulo — num total de 236 participantes. A votação marca um novo e conturbado capítulo na história do Timão, que tem agora Osmar Stabile, então vice-presidente, como presidente interino.
O impeachment tem relações com investigações sobre o contrato do clube com a casa de apostas VaideBet, que rescindiu com o Corinthians após denúncias de irregularidades. A Polícia Civil de São Paulo concluiu o inquérito em 22 de maio, indiciando Augusto Melo por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Também foram indiciados o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura, o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano e Alex Fernando André, conhecido como “Cassundé”, apontado como intermediário do contrato. O ex-diretor jurídico, Yun Kim Lee, segue sob análise.
Augusto Melo admitiu a derrota antes mesmo da votação, citando feitos de sua gestão. Mas sua saída evidencia um cenário de degradação institucional que não é novo no clube — como explica o jornalista e apresentador da TVT em entrevista para o TVT News Primeira Edição, Juca Kfouri.
“É preciso contextualizar a situação de Augusto Melo. Ele foi eleito não por suas qualidades, mas pelos defeitos do grupo anterior a ele na presidência. Grupo representado por Andrés Sánchez”, disse Juca. “Quando ele foi eleito, boa parte de seus eleitores dizia que agora, na primeira bobagem que ele fizer e fará, moveremos impeachment e tiramos ele. Difícil era tirar o Andrés. Esse vai ser fácil. Desde o início. Cheguei a escrever que ele não duraria seis meses.”
Crônicas de uma morte anunciada
Para Juca, a derrocada de Melo já estava escrita desde sua chegada, principalmente por sua falta de preparo para a gestão de um clube da dimensão do Corinthians:
“Ele tratou o Corinthians como havia tratado a União Barbarense, que esteve em suas mãos por curto período e quase faliu. Logo de cara, ele faz o que fez, com o contrato com a Vai de Bet. Aparecem laranjas que receberam parte do dinheiro de comissões que chegariam a 25 milhões de reais. Entre quatro pessoas, todas indiciadas, além de Augusto, mais três.”
Embora o indiciamento só tenha ocorrido recentemente, Kfouri ressalta que a responsabilidade política independe de investigações policiais:
“Ele só não caiu antes por alguns argumentos fracos do tipo ‘vamos esperar ele ser indiciado’. Nada a ver uma coisa da outra. Independia do indiciamento pela Polícia Civil […] Desde logo.”
Grupo de Augusto
Apesar da contundência dos indícios e da ampla maioria dos votos pelo impeachment, o jornalista demonstra perplexidade com os 57 conselheiros que votaram pela permanência de Melo:
“Assustador é que, na votação pelo impeachment, um quarto, quase 25% dos votos, foram por sua manutenção. Veja a que ponto chegou o Corinthians.”
A decisão final agora cabe aos sócios do clube, que deverão ratificar ou não a saída definitiva de Augusto Melo. Para Kfouri, este momento será definidor:
“Diante deste quadro, do que já surgiu e ainda deve surgir, diria que se os sócios quiserem a manutenção do Augusto Melo, é porque realmente reuniram-se no Corinthians o maior número de anti corintianos já imaginado. Porque os que denunciavam Augusto, em algum momento, eram ditos anti corintianos.”
Bolsonarismo no time da democracia
A crise política no Parque São Jorge também traz à tona uma tensão ideológica. O novo presidente interino, Osmar Stabile, teve um vídeo pró-ditadura republicado por Jair Bolsonaro em 2019, no canal oficial do Palácio do Planalto. O conteúdo foi divulgado justamente em 31 de março — data do golpe militar de 1964 que instaurou 21 anos de ditadura no Brasil.
Para Juca Kfouri, a presença de figuras com esse alinhamento político no comando do clube é mais um reflexo de como o Corinthians atual se distancia de sua história democrática:
“Embora o Corinthians seja o clube da democracia, onde houve o movimento nos anos 1980 capitaneado por Sócrates, Casagrande e Vladimir, o Corinthians também foi presidido por Wadih Helou. Que era do Arena, que fez discurso que redundou em tortura e morte de Vladimir Herzog.”
Sobre Stabile, Kfouri não poupa críticas.
“Este Stábile financiou esse vídeo produzido com quem era diretor de marketing na gestão Augusto Melo. Então, esta praga do bolsonarismo está posta no Corinthians inclusive por Augusto Melo, que também tem em sua folha corrida um baita elogio ao ditador Ernesto Geisel.”
Mesmo figuras históricas como Doutor Sócrates e Casagrande, ícones da Democracia Corinthiana, são — segundo o jornalista — exceções em um cenário de futebol brasileiro amplamente conservador:
“Doutor Sócrates, Casagrande, foram exceções. Não apenas na vida do Corinthians, mas na vida do futebol brasileiro que é profundamente reacionário e corrupto. A começar pela CBF.”