O governo brasileiro formalizou, por carta oficial, a insatisfação com a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos às exportações brasileiras a partir de 1º de agosto. Entenda na TVT News.
Em carta endereçada ao Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao Representante de Comércio norte-americano, Jamieson Greer, os ministros Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Mauro Vieira (Relações Exteriores) expressaram “indignação” com a medida e defenderam a retomada do diálogo diplomático e comercial entre os dois países.
Segundo o Itamaraty, o texto reafirma que a taxação unilateral e abrangente colocará em risco setores importantes da economia de ambos os lados e ameaça uma parceria econômica construída ao longo de dois séculos.
“A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países”, diz a carta, que classifica o comércio como “um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas”.
Diplomacia brasileira
No documento, o governo brasileiro revela ter encaminhado aos EUA, ainda em 16 de maio, uma minuta confidencial de proposta, contendo áreas de negociação com potencial para soluções conjuntas. Segundo o texto, apesar das iniciativas diplomáticas e da boa-fé demonstrada por Brasília, os Estados Unidos não responderam formalmente à proposta.
“O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral”, diz o trecho final da carta.
O governo brasileiro também lembra que, nas últimas décadas, acumulou um déficit comercial de cerca de US$ 410 bilhões com os EUA, somando bens e serviços, conforme dados do próprio governo norte-americano. Por isso, defende que qualquer reequilíbrio comercial deve ser feito de maneira negociada e responsável, e não por meio de sanções unilaterais.
Contexto: tarifaço de Trump e Bolsonaro
A medida imposta por Donald Trump, que reassumiu a presidência dos EUA neste ano, foi anunciada oficialmente no último dia 9 de julho. A Casa Branca justificou a decisão como resposta à “perseguição política” do governo brasileiro contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, uma clara retaliação com motivações políticas, segundo diplomatas brasileiros.
Com o tarifaço, todos os produtos brasileiros enviados aos EUA sofrerão uma sobretaxa de 50%, o que afeta desde commodities agrícolas (como café, carne bovina e suco de laranja) até bens industrializados (como aço, celulose, máquinas e aeronaves). A medida já preocupa empresários dos dois países.
Organizações como a U.S. Chamber of Commerce e a Amcham Brasil divulgaram nota conjunta alertando que a tarifa elevará custos para famílias norte-americanas, afetará empregos e poderá prejudicar milhares de empresas que operam entre os dois países.
Próximos passos
Com a carta, o governo Lula formaliza sua disposição de evitar uma escalada comercial e política, ao mesmo tempo em que pressiona Washington por uma resposta concreta à proposta de negociação. “À luz da urgência do tema”, escreve o Itamaraty, o Brasil espera que os Estados Unidos se manifestem com celeridade.

Leia a íntegra da carta do governo brasileiro aos EUA
CARTA DO GOVERNO BRASILEIRO AOS EUA
No contexto do anúncio por parte do Governo norte-americano da imposição de tarifas contra exportações de produtos brasileiros para os EUA, o Vice-Presidente e Ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enviaram ontem, dia 15 de julho, carta ao Secretário de Comercio dos EUA Howard Lutnick e ao Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, nos seguintes termos:
1. O Governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto. A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países. Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas.
2. Desde antes do anúncio das tarifas recíprocas em 2 de abril de 2025, e de maneira contínua desde então, o Brasil tem dialogado de boa-fé com as autoridades norte-americanas em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral, apesar de o Brasil acumular com os Estados Unidos grandes déficits comerciais tanto em bens quanto em serviços, que montam, nos últimos 15 anos, a quase US$ 410 bilhões, segundo dados do governo dos Estados Unidos. Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte-americano.
3. Com esse mesmo espírito, o Governo brasileiro apresentou, em 16 de maio de 2025, minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação nas quais poderíamos explorar mais a fundo soluções mutuamente acordadas.
4. O Governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA à sua proposta.
5. Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o Governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira. O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral.