Em meio a tarifaço, Trump quer minerais críticos do Brasil

A segunda maior reserva de terras raras do mundo está em território brasileiro
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Os minerais críticos são essenciais para as transformações tecnológicas e energéticas. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Os Estados Unidos querem acesso a minerais críticos e estratégicos (MCEs) do Brasil. O interesse foi revelado pelo presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, após uma reunião privada com Gabriel Escobar, encarregado de negócios e embaixador interino dos EUA, nesta quinta-feira (24). A conversa com representantes do setor de mineração ocorreu no contexto da chantagem econômica e política de Trump com a imposição de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Entenda em TVT News.

De acordo com a Constituição, os recursos minerais são bens da União. Como o Ibram é uma instituição privada das mineradoras do Brasil, Jungmann não pode representar institucionalmente o país para negociar com governos estrangeiros. O presidente do Instituto disse que o mesmo interesse havia sido manifestado por Escobar há três meses.

As maiores reservas de minerais críticos e estratégicos do mundo estão na China e no Brasil. Além da presença de lítio, cobre e cobalto, o território brasileiro se destaca por ter a maior reserva mundial de nióbio, a segunda maior de grafite e a terceira maior de terras raras e níquel. Os minerais são essenciais para a produção de baterias, semicondutores, chips, drones e outras tecnologias.

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Arte: TVT News

O acesso aos minerais críticos de outros países é estratégico para os EUA, porque seria uma forma de reduzir a dependência da China, que domina o setor e fornece cerca de 80% dos minerais usados pela indústria estadunidense. O interesse de Trump em reviver o passado colonial minerador do Brasil está sendo visto como uma forma de imposição dos termos de negociação sobre o tarifaço.

Em abril, os Estados Unidos e a Ucrânia fecharam um acordo de exploração dos minerais de Kiev. No território ucraniano, há terras raras, ferro, manganês, urânio, petróleo, carvão, gás e zircônio. A contrapartida é um fundo de investimento para reconstrução do país, que está em guerra com a Rússia desde 2022.

Nesta quinta-feira (24), sem mencionar nomes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender a soberania nacional e criticou o interesse do governo Trump nos minerais: “aqui ninguém põe a mão”. A declaração ocorreu durante um evento do governo federal em Minas Novas (MG) para anunciar investimentos em educação indígena e quilombola no Vale do Jequitinhonha.

“Temos todos o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês [EUA] querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, afirmou Lula.

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Lula usa o boné “Minha bandeira é do Brasil”. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Entenda o tarifaço de Trump

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou em 9 de julho a tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil. A nova alíquota entra em vigor a partir do dia 1º de agosto. A cobrança é uma forma de chantagem política e econômica para intereferir nos assuntos internos do Brasil, como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, a legislação sobre big techs e, agora, a gestão estratégica dos mineirais críticos.

Na carta postada na rede social de Trump, Truth Social, Trump afirmou que acompanhará “de perto” os processos contra o ex‑presidente brasileiro, em defesa de seu campo político extremista de direita. “O único julgamento que deveria existir é o julgamento pelos eleitores do Brasil, isso se chama eleição. Deixem Bolsonaro em paz!”, escreveu. O republicano afirmou ainda que Bolsonaro “não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo povo”.

Desde então, Lula tem dito que o Brasil “qualquer interferência ou tutela” estrangeira sobre o Judiciário brasileiro. Diplomatas recordam que o princípio da não‑intervenção em assuntos internos é pilar histórico da política externa brasileira e que manifestações de líderes estrangeiros sobre processos judiciais em curso extrapolam a praxe diplomática.

Lei de Reciprocidade Comercial pode ser utilizada como resposta ao tarifaço. O texto autoriza o governo brasileiro a adotar medidas comerciais contra países que imponham barreiras unilaterais aos produtos do Brasil no mercado global. A medida poderá ser usada para responder à imposição da tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos (EUA), a partir do dia 1º de agosto, conforme anunciado na semana passada pelo presidente norte-americano, Donald Trump.  

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