A elevação da taxa de juros na última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central interessa ao mercado financeiro — banqueiros, investidores, acionistas, donos de títulos da dívida pública — que, independente da conjuntura, seguem ganhando e querendo mais. Veja artigo da Presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro.
“Mercado dita o futuro da política monetária”
Por Neiva Ribeiro
Presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região
Na última semana, em última reunião presidida por Campos Neto, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa básica de juros, em 1 ponto percentual, para 12,25%, o que colocou o Brasil no segundo lugar do ranking dos maiores juros reais do planeta com 9,48%. A ata do Copom menciona que o futuro é mais preciso e mais adverso e, portanto, novos aumentos devem ocorrer nas próximas reuniões.
O cenário é o mercado sempre ditando o futuro da política monetária numa espécie de profecia autorrealizada. Projeta alta do dólar e projeta cenário fiscal adverso esperando aumento de inflação para ações contracionistas, para ampliar a taxa de juros. E mesmo quando projeta resultados piores na economia real, como menor crescimento e perda da dinâmica do emprego, e erra, usa uma nova narrativa para justificar seu desejo voraz.
O mercado, um ser fantasmagórico impiedoso, pressiona a situação política, econômica e social. Somos reféns do mercado? Essa nova pressão está direcionada diretamente a Gabriel Galipolo, que passará a presidir o Banco Central no início de 2025, mas também é um recado ao Ministro Haddad, ao presidente Lula e também ao Congresso.
A quem interessa a taxa de juros tão alta?
A Febraban divulgou que não possui interesse nas altas taxas de juros e spreads bancários. A Confederação Nacional da Indústria afirmou que a Selic elevada é danosa para o setor produtivo. Mas o que fazem de fato para um pacto que possa interferir de maneira a melhorar esta configuração?
Ora, o mercado são eles próprios: banqueiros, investidores, acionistas, donos de títulos da dívida pública que, independente da conjuntura, seguem ganhando e querendo mais. São o conjunto de pessoas mais ricas do país.
A economia real, a vida dos trabalhadores, não pode ficar refém desta situação. Não é possível que a sociedade pague caro pelos efeitos colaterais, desse remédio tão amargo, como o encarecimento do crédito que impactam o endividamento das famílias e empresas, dificuldade no financiamento imobiliário, falta de investimento produtivo que compromete a dinâmica econômica e geração de emprego e renda.
Leia sobre a economia real:
- CNI prevê crescimento da economia de 2,4% em 2025
- CNC estima injeção de R$ 125,6 bilhões na economia com 13º salário
- Produção de aço bruto no Brasil cresce 5,6% em um ano
- Governo Lula: atividade econômica cresce em outubro
As alternativas necessárias precisam ser discutidas com os mais afetados, com participação popular. Discutir a auditoria da dívida pública, fiscalizar a influência de poucos agentes no câmbio, rever a meta de inflação e criar alternativas para que os alimentos mantenham preços estáveis e cheguem com qualidade na mesa do povo.
Por que o dólar está subindo?
- Câmbio é flutuante e dólar vai se acomodar, diz Haddad
- Dólar em alta; especialistas explicam oscilação da moeda
Defendemos a centralidade do trabalho na economia para gerar renda e condições dignas de vida para toda sociedade. O movimento sindical, ao contrário do mercado, não joga contra o desenvolvimento do país. Não só apostamos num futuro melhor como estamos na luta para ganhar esse jogo.
Sobre a autora
Neiva Ribeiro é a atual presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região. É formada em Letras pela Universidade Guarulhos, pós-graduada em Gestão Pública pela Fesp-SP, e em Gestão Universitária pela Unisal. É funcionária do Bradesco desde 1989. Ingressou na direção do Sindicato em 2000.
Foi diretora-geral da Faculdade 28 de Agosto de Ensino e Pesquisa, secretária de Formação e secretária-geral da entidade.