Terrorismo Parlamentar e Violência Política: como a Extrema Direita reforça o Machismo e a violência no Brasil

A agressão à Marina Silva está relacionada à violência física, psicológica e sexual que atinge mulheres nos lares, locais de trabalho e espaços públicos
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Violência contra Marina Silva é reflexo de uma realidade alarmante enfrentada diariamente por milhões de mulheres no Brasil. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Por Neiva Ribeiro

Artigo da Presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região para a TVT News

Terrorismo Parlamentar e Violência Política

A recente violência política sofrida pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no Senado, por parlamentares (homens e brancos) não é um caso isolado, mas sim um reflexo de uma realidade alarmante enfrentada diariamente por milhões de mulheres no Brasil. Essa agressão simbólica e institucional está entrelaçada com a violência física, psicológica e sexual que atinge mulheres em seus lares, locais de trabalho e espaços públicos.

Fica então um questionamento: Se esse tipo de violência atinge uma parlamentar, uma ministra de Estado, imagine o que não acontece com a trabalhadora invisibilizada e vulnerável? É a dura realidade brasileira, onde gênero e condição social se cruzam para aprofundar desigualdades e violências.

Há um agravante ainda mais perverso na violência sofrida pela ministra: ela é uma mulher negra. O racismo estrutural se soma ao sexismo, ampliando a vulnerabilidade e a violência, evidenciando como a interseccionalidade de gênero e raça agrava as desigualdades e alimenta práticas violentas, mesmo — e sobretudo — contra mulheres que ocupam espaços de poder.

Violência contra mulheres

A violência contra as mulheres se manifesta de diversas formas, muitas vezes de maneira silenciosa e naturalizada no ambiente de trabalho. No setor bancário, essa realidade é ainda mais evidente entre as mulheres que lidam diretamente com o público ou em áreas de liderança, mais expostas a agressões e situações de assédio.

As que atuam em áreas como cobrança são particularmente vulneráveis, tornando-se alvos recorrentes de insultos, humilhações e constrangimentos que configuram formas de assédio moral e violência psicológica. Essas agressões impactam profundamente a saúde mental e física dessas trabalhadoras, revelando como o ambiente profissional pode ser um espaço de reprodução da violência de gênero.

Na política, o professor João Cezar de Castro Rocha, em entrevista ao ICL Notícias, analisa a estratégia da extrema direita brasileira, que ele denomina de “terrorismo parlamentar”. Segundo ele, essa tática consiste em utilizar o espaço legislativo para promover discursos de ódio, desinformação e ataques sistemáticos às instituições democráticas, com o objetivo de desestabilizar o sistema político e avançar agendas autoritárias.

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Marina Silva recebeu solidariedade das mulheres do governo Lula. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Essa abordagem se manifesta por meio de projetos de lei provocativos, discursos inflamados e ações coordenadas que visam minar a confiança nas instituições e polarizar a sociedade. O professor destaca que essa prática não apenas compromete o funcionamento do parlamento, mas também representa uma ameaça direta à democracia, ao transformar o espaço legislativo em um palco para a disseminação de ideologias extremistas.

Violência política de gênero

A violência política de gênero tem se intensificado no Brasil, especialmente contra mulheres que ocupam cargos de poder. Em 2024, foram registradas 403 denúncias de violência política contra mulheres, um aumento de 484% em relação ao ano anterior, que teve 69 casos.

É fundamental lembrar também o que ocorreu com a presidenta Dilma Rousseff, que foi alvo de intensa violência política, marcada por perseguições, ataques misóginos e um processo de impeachment que jamais será plenamente reparado pela sociedade brasileira.

Hoje, Dilma ocupa um papel de destaque internacional no banco dos BRICS e foi inocentada de todos os processos a que foi submetida, mas os danos simbólicos e institucionais sofridos durante aquele período permanecem como uma ferida aberta na nossa democracia. A postura firme e imperativa de mulheres como Dilma Rousseff e Marina Silva evidencia como nós, mulheres que assumimos posições de liderança, nos empoderamos frente às opressões e seguimos lutando por espaços democráticos, enfrentando o machismo estrutural que tenta nos silenciar.

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“Eu não poderia ter outra atitude”, disse a ministra. Foto: Lula Marques/ABR

É essa política de enfrentamento e denúncia que inspira e representa o movimento feminista: não se trata apenas de ocupar espaços, mas de transformá-los. Por isso, é imprescindível exigir punição exemplar no Conselho de Ética aos parlamentares que praticam violência política de gênero, reafirmando o compromisso com a democracia, a igualdade e o respeito às mulheres na vida pública.

Movimento sindical na luta contra a violência de gênero

O movimento sindical reafirma seu compromisso com a defesa dos direitos das mulheres, promovendo ações concretas que visam à eliminação da violência e à construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Nesta sexta-feira (30/05), será realizada mais uma rodada com os bancos sobre Diversidade, Inclusão e Pertencimento e temos orgulho de manter uma Mesa de Igualdade de Oportunidades no setor bancário, um espaço histórico e fundamental de diálogo entre as entidades sindicais e a representação patronal.

A Mesa, que há décadas é referência no movimento sindical, busca combater as desigualdades de gênero, raça, orientação sexual e outras formas de discriminação no ambiente de trabalho, promovendo políticas inclusivas e de valorização da diversidade. Esse espaço tem permitido avanços importantes, como a ampliação de direitos, o fortalecimento de mecanismos de prevenção ao assédio e a construção de uma cultura organizacional mais respeitosa e igualitária.

Sobre a autora

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Neiva Ribeiro, presidente do Sindicato dos Bancários

Neiva Ribeiro é a atual presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região. É formada em Letras pela Universidade Guarulhos, pós-graduada em Gestão Pública pela Fesp-SP, e em Gestão Universitária pela Unisal. É funcionária do Bradesco desde 1989. Ingressou na direção do Sindicato em 2000.

Foi diretora-geral da Faculdade 28 de Agosto de Ensino e Pesquisa, secretária de Formação e secretária-geral da entidade. 

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