Percentual de trabalhadores com ensino superior cresce e home office recua

Trabalhadores do país estão mais escolarizados, ao mesmo tempo em que o home office perde espaço pelo segundo ano consecutivo
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Segundo a edição especial da Pnad Contínua, 23,4% dos trabalhadores ocupados tinham ensino superior completo em 2024, ante 22,9% em 2023. Foto: José Cruz/Agência Brasil

O mercado de trabalho brasileiro segue em transformação. Dados divulgados nesta quarta-feira (19) pelo IBGE mostram que a força de trabalho do país está mais escolarizada, ao mesmo tempo em que o teletrabalho, impulsionado pela pandemia, perde espaço pelo segundo ano consecutivo. Entenda na TVT News.

Segundo a edição especial da Pnad Contínua, 23,4% dos trabalhadores ocupados tinham ensino superior completo em 2024, ante 22,9% em 2023. Doze anos antes, em 2012, essa proporção era de apenas 14,1%. Trata-se de um crescimento contínuo ao longo da série.

O grupo com ensino médio completo e superior incompleto, que reúne a maior parcela da população ocupada, também cresceu: passou de 42,8% em 2023 para 43,4% em 2024, bem acima dos 35,7% registrados em 2012.

Em sentido oposto, diminuiu a presença de trabalhadores com menor escolaridade. O percentual de pessoas com ensino fundamental completo e médio incompleto caiu para 13,6%, ante 14% no ano anterior. Já a proporção de ocupados sem instrução ou com fundamental incompleto recuou de 20,3% para 19,6%.

Home office perde força

Os dados do IBGE também mostram que o teletrabalho deixou de avançar e tem recuado gradualmente desde o pico de 2022. Nesse ano, 8,4% dos trabalhadores exerciam suas atividades em casa, número que caiu para 8,2% em 2023 e para 7,9% em 2024, o equivalente a 6,6 milhões de pessoas.

Ainda assim, o home office permanece acima dos níveis pré-pandemia. Em 2019, apenas 5,8% trabalhavam de casa; em 2012, eram 3,6%.

Segundo o analista da pesquisa, William Kratochwill, o teletrabalho inclui também quem utiliza coworkings, mesmo declarando trabalhar “de casa”. “‘Eu trabalho de casa’ não significa necessariamente trabalhar na própria residência. Muitos escolhem coworkings”, explica.

O levantamento também mostra forte recorte de gênero: 61,6% dos trabalhadores em home office são mulheres. Considerando o total de ocupados, 13% das mulheres estavam em teletrabalho, contra apenas 4,9% dos homens.

Pressão das empresas

A queda no home office tem gerado tensões em empresas que vinham adotando esquemas flexíveis desde a pandemia. No início de novembro, o Nubank anunciou mudanças para reduzir o trabalho remoto. A medida provocou insatisfação interna e resultou na demissão de 12 funcionários, segundo o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

Em março, empregados da Petrobras também realizaram paralisação criticando a diminuição do teletrabalho, entre outros pontos da pauta.

Onde estão os trabalhadores?

O levantamento do IBGE mostra que o local mais comum de trabalho continua sendo o estabelecimento do próprio empreendimento, que concentrou 59,4% dos ocupados em 2024, ligeiramente acima dos 59,1% de 2023, embora abaixo dos 62,7% registrados em 2012.

Veja a distribuição completa:

  • Estabelecimento do próprio empreendimento: 59,4%
  • Local designado pelo empregador, patrão ou freguês: 14,2%
  • Fazenda, sítio, granja ou chácara: 8,6%
  • Domicílio de residência (home office): 7,9%
  • Veículo automotor: 4,9%
  • Via ou área pública: 2,2%
  • Estabelecimento de outro empreendimento: 1,6%
  • Domicílio do empregador ou freguês: 0,9%
  • Outro local: 0,2%

Cresce o trabalho em veículos

O trabalho realizado em veículos automotores, categoria que inclui motoristas de aplicativo e trabalhadores de food trucks, também cresceu. A proporção subiu de 3,7% em 2012 para 4,9% em 2024.

Para Kratochwill, esse movimento está ligado às novas formas de ocupação trazidas por plataformas digitais e serviços de mobilidade: “Com certeza há um impacto do transporte de passageiros. Mas também há a nova onda de food trucks, cada um contribuindo um pouco para esse crescimento.”

Há grande diferença entre homens e mulheres nesse tipo de atividade: 7,5% dos homens trabalham em veículo automotor, contra apenas 0,7% das mulheres.

Brasil mais escolarizado

Os dados divulgados pelo IBGE indicam um mercado de trabalho em reconfiguração: mais escolarizado, com expansão contínua dos trabalhadores com ensino superior e médio completo, mas também marcado por transformações pós-pandemia, como a retração do home office e o crescimento de ocupações ligadas a aplicativos e serviços móveis.

A pesquisa abrange 82,9 milhões de trabalhadores, excluindo empregados do setor público e trabalhadores domésticos, conforme a metodologia do instituto.

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