O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, autorizou a Agência Central de Inteligência (CIA) a conduzir operações secretas na Venezuela em um novo capítulo da ofensiva contra a soberania do país latino-americano. O Republicano confirmou as informações que foram divulgadas pelo jornal The New York Times nesta quarta-feira (15).
As ações secretas da CIA autorizadas por Trump podem incluir “operações letais” na Venezuela e a condução de variadas operações no Caribe, segundo o The New York Times. O presidente dos EUA não respondeu se a agência teria autoridade para depôr Nicolás Maduro, presidente venezuelano: “não seria ridículo se eu a respondesse?”, disse. Não há informações sobre os próximos planos da CIA na região.
Marco Rubio, secretário de Estado, elaborou a autorização com apoio de John Raticliffe, diretor da CIA. Segundo Trump, está sendo estudada a possibilidade de realizar ataques terrestres contra supostos cartéis de droga venezuelanos. O “combate às drogas” é pretexto para as motivações geopolíticas dos EUA na América Latina, onde o presidente estadunidense tentar atacar governos soberanos.
Com a mesma justificativa de combater cartéis, Trump mobiliza navios de guerra e tropas para o mar do Caribe desde agosto. A política intervencionista não deixa dúvidas de que tem como objetivo a retirada de Maduro do poder, já que o venezuelano não se alinha aos interesses dos EUA.
A operação militar no Caribe inclui bombardeio de barcos de pescadores, que as forças dos EUA acusam de ser narcotraficantes. A escalada mais recente ocorreu na terça-feira (14), quando um novo ataque contra uma suposta embarcação ligada ao tráfico de drogas matou seis pessoas. Ao todo 27 já morreram.
O ataque desta semana é o quinto do Exército dos EUA contra barcos na costa venezuelana. Em outro episódio no início de agosto, Trump chegou a oferecer uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão de Maduro, acusando-o sem provas de participação em narcotráfico internacional.
Venezuela exigirá medidas na ONU
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela divulgou uma nota naesta quarta em que afirma que levará uma denúncia ao Conselho de Segurança e ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres, pedindo que os EUA “preste contas e que sejam adotadas medidas urgentes para impedir uma escalada militar no Caribe”. As ações de Trump são definidas como “política de agressão, ameaça e assédio” contra o país.
Confira o comunicado na íntegra:
“A República Bolivariana da Venezuela rejeita as declarações belicistas e extravagantes do presidente dos Estados Unidos, nas quais ele admite publicamente ter autorizado operações destinadas a agir contra a paz e a estabilidade da Venezuela. Essa afirmação sem precedentes constitui uma gravíssima violação do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas, e obriga a comunidade internacional a denunciar tais declarações claramente desmedidas e inconcebíveis.
Observamos com extrema preocupação o uso da CIA, assim como os desdobramentos militares anunciados no Caribe, que configuram uma política de agressão, ameaça e assédio contra a Venezuela.
É evidente que tais manobras buscam legitimar uma operação de ‘mudança de regime’ com o objetivo final de se apropriar dos recursos petrolíferos venezuelanos. Da mesma forma, as declarações do mandatário norte-americano buscam estigmatizar a migração venezuelana e latino-americana, alimentando discursos xenófobos e perigosos.
Na reunião extraordinária de chanceleres da CELAC, convocada pela Presidência Pro Témpore da Colômbia, a Venezuela apresentou formalmente essa denúncia e exigiu uma resposta regional imediata. Amanhã, nossa Missão Permanente junto à ONU levará essa denúncia ao Conselho de Segurança e ao Secretário-Geral, exigindo que o Governo dos Estados Unidos preste contas e que sejam adotadas medidas urgentes para impedir uma escalada militar no Caribe, zona declarada de paz pela CELAC em 2014. A comunidade internacional deve compreender que a impunidade diante desses atos terá consequências políticas perigosas que precisam ser detidas imediatamente.”
Maduro: Trump promove uma “guerra psicológica diária”
Em discurso no evento do Conselho Nacional pela Soberania e Paz nesta quarta, Maduro condenou “golpes de Estado promovidos pela CIA”, em referência às ingerências na América Latina.
“Ante a escalada de guerra psicológica diária, de ameaças, de notícias, de declarações, de vídeos, há uma grande vacina, vacina de todos os venezuelanos: o nosso Conselho Nacional de Soberania e Paz”, afirmou o presidente venezuelano. O Conselho foi criado em setembro após a investida militar dos EUA no Caribe.
Maduro criticou a “covardia” de Trump e apelou pela paz: “Dizer ao povo dos Estados Unidos: não à guerra. Não queremos uma guerra no Caribe ou na América do Sul. Não”.