Trump começa a desmontar o Departamento de Saúde dos EUA

Trump toca uma política de desmonte dos serviços à população dos EUA. Uma das unidades mais afetadas será o Centro de Controle de Doenças
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Status do funcionário foi verificado por meio de um sistema de identificação eletrônica: um sinal verde significava permanência no cargo, enquanto um vermelho indicava demissão. Foto: The White House

Milhares de funcionários do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês) foram demitidos nesta terça-feira (1). Os desligamentos marcam o início do plano de redução da força de trabalho e desmonte da seguridade social nos Estados Unidos, promovido pelo governo do radical de extrema direita Donald Trump. A medida, que pode resultar na demissão de até 10 mil servidores, soma ao desmonte recente do Departamento de Educação.

O corte de empregos é a primeira consequência prática da reestruturação anunciada na semana passada pelo secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr. O plano ocorre poucos dias após Trump revogar direitos de negociação coletiva de servidores do HHS e de outras agências federais.

De acordo com relatos locais, manhã de hoje, servidores do departamento formaram longas filas do lado de fora de prédios federais em Washington, D.C. e Maryland, aguardando para saber se ainda tinham emprego.

Em algumas unidades, o status do funcionário foi verificado por meio de um sistema de identificação eletrônica: um sinal verde significava permanência no cargo, enquanto um vermelho indicava demissão.

“Sabíamos há meses que o HHS seria um dos alvos desta administração”, disse uma funcionária com 20 anos de casa à reportagem do The Guardian. “Está tudo no Projeto 2025. Desde fevereiro nos alertaram que poderíamos ser dispensados.”

A situação provocou indignação entre os servidores, muitos dos quais passaram por um rigoroso controle de segurança antes de ingressar nos prédios. “É como passar pela segurança do aeroporto”, disse uma supervisora do HHS. “Tivemos que tirar os sapatos, colocar nossos laptops em bandejas e verificar se nossos crachás ainda funcionavam.”

Desmonte da saúde pública

A reestruturação proposta por Kennedy pretende mudar drasticamente o órgão responsável por fiscalizar a segurança alimentar, monitorar surtos de doenças, realizar pesquisas médicas e administrar planos de saúde que atendem quase metade da população americana. Além disso, o governo planeja criar um novo departamento, denominado “Administração para uma América Saudável”, que centralizará recursos bilionários destinados a serviços de tratamento contra dependências químicas e centros de saúde comunitários.

O plano prevê a redução do quadro de funcionários do HHS de 82 mil para 62 mil, eliminando quase um quarto das vagas por meio de demissões e aposentadorias antecipadas. Setores administrativos como recursos humanos, compras, finanças e tecnologia da informação estão entre os mais afetados. Além disso, regiões de alto custo e cargos considerados “redundantes ou duplicados” foram priorizados para corte.

As perdas serão significativas em várias agências vinculadas ao departamento: 3.500 demissões na Food and Drug Administration (FDA), 2.400 nos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), 1.200 no Instituto Nacional de Saúde (NIH) e 300 no Centers for Medicare and Medicaid Services (CMS).

A decisão iniciou uma onda revolta entre sindicalistas e servidores. Uma ex-diretora do CMS, Karen Shields, relatou que um grupo de funcionários recebeu um aviso de dispensa que sugeria entrar em contato com um ex-diretor para mais informações — porém, essa pessoa faleceu em dezembro. “Eu a conhecia”, escreveu Shields no LinkedIn. “Isso teria partido seu coração.”

A administração Trump não forneceu declarações detalhadas sobre os impactos da medida, mas especialistas alertam que a redução drástica de pessoal pode comprometer a capacidade do HHS de prestar serviços essenciais. Sindicatos e organizações civis já prometem recorrer contra a decisão.

Plano Trump

No Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), os funcionários demitidos trabalhavam no Centro Nacional de Saúde Ambiental, na Administração de Serviços de Abuso de Substâncias e Saúde Mental e no Centro Nacional de Imunização e Doenças Respiratórias, incluindo pelo menos uma pessoa que atuava na resposta federal a surtos de sarampo, de acordo com outra fonte.

“O HHS impacta a vida de praticamente todos os americanos, e uma reorganização e redução dessa magnitude normalmente levaria meses e meses de trabalho”, disse Kevin Griffis, que renunciou ao cargo de diretor de comunicações do CDC em 21 de março.

Com informações da Reuters e do The Guardian

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