Trump critica Lula e Moraes enquanto protege regimes autoritários

Trump expõe a contradição: defesa seletiva da “liberdade” como ferramenta para proteger aliados ideológicos e atacar adversários políticos
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A postura de Trump levanta críticas por sua incoerência: enquanto acusa o Brasil e até países europeus de restringirem liberdades. Foto: WhiteHouse/MollyRiley

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a mirar o Brasil democrático e suas instituições, ao mesmo tempo em que poupa ou mesmo exalta governos que flertam com o autoritarismo. Entenda na TVT News.

Em relatório anual de direitos humanos do Departamento de Estado, preparado por sua gestão e apresentado ao Congresso norte-americano nesta terça-feira (12), a Casa Branca sob Trump acusa o governo Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes de “suprimir desproporcionalmente” o discurso de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado e uma série de crimes no Brasil.

Segundo o Washington Post, o documento afirma que “a situação dos direitos humanos no Brasil piorou” e classifica Moraes como um “censor”, mencionando decisões do ministro que suspenderam perfis de extrema direita na rede X (antigo Twitter). Trump já havia sancionado o magistrado com base na Lei Magnitsky, dispositivo contra violações graves de direitos humanos, decisão que o próprio criador da lei condenou publicamente.

Trump inimigo da democracia

A postura de Trump levanta críticas por sua incoerência: enquanto acusa o Brasil e até países europeus de restringirem liberdades, o relatório oficial declara que não há “abusos significativos de direitos humanos” em El Salvador, governado por Nayib Bukele, aliado político do republicano. Bukele, que recentemente aprovou a reeleição ilimitada, comanda um regime acusado por organizações internacionais de promover detenções em massa, perseguição a opositores e enfraquecimento do Judiciário.

A seletividade do documento reflete interesses ideológicos claros. Para proteger Bolsonaro, seu aliado de extrema direita, Trump ataca democracias consolidadas, ao mesmo tempo em que blinda governos com práticas autoritárias evidentes. É o caso também de Israel, outro país defendido pelo presidente, mesmo em meio a denúncias internacionais de genocídio e limpeza étnica contra palestinos, com um saldo de mais de 80 mil civis mortos na Faixa de Gaza.

Relatório anterior

O contraste com a política anterior é notório. No relatório de 2024, elaborado pela administração democrata de Joe Biden, as eleições brasileiras foram reconhecidas como “livres e justas”, apesar de apontar problemas como tentativas de interferência no voto por milícias e pela Polícia Rodoviária Federal, especialmente no Nordeste. O documento também registrou preocupações com violência policial, corrupção, más condições carcerárias, discriminação contra negros, indígenas e população LGBTQIA+, mas sem questionar a legitimidade democrática do Brasil.

Ao acusar o Brasil de censura e perseguição política, mas absolver regimes que concentram poder e restringem direitos de forma sistemática, Trump expõe a contradição central de sua política externa: a defesa seletiva da “liberdade” como ferramenta para proteger aliados ideológicos e atacar adversários políticos. Essa postura, que ecoa no apoio irrestrito a Bolsonaro e Bukele e na blindagem a Israel, reforça o alerta de que a democracia, longe de estar ameaçada apenas em países estrangeiros, enfrenta erosão também nos próprios Estados Unidos.

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