Trump intensifica isolamento e retira EUA da Unesco por ideologia extremista

Seis meses após reassumir, o extremista Trump intensifica sua cartilha ideológica, colocando inclusive o interesse dos EUA em segundo plano
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Decisão marca mais um passo na cruzada de Trump contra instituições multilaterais e normas internacionais. Foto: WhiteHouse/Flickr

Nesta terça-feira (22), o Departamento de Estado anunciou a segunda retirada americana da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), repetindo o gesto feito por Trump em 2018. Entenda na TVT News.

Seis meses após reassumir a presidência dos Estados Unidos, o radical de extrema direita Donald Trump intensifica a cartilha ideológica que marcou seu primeiro mandato. Confronto com organismos internacionais, nacionalismo agressivo e uma política externa de viés ideológico.

A diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, lamentou a decisão. “Por mais lamentável que seja, esse anúncio já era esperado, e a Unesco se preparou para isso”, afirmou. A retirada será efetivada em dezembro de 2026, provocando abalo (relativamente controlado) no financiamento da entidade. Os EUA são responsáveis por cerca de 8% do orçamento total, valor que já foi de 20% antes da primeira saída durante o governo Trump.

Ideologia extremista de Trump

Segundo o governo republicano, a agência da ONU teria se tornado “ideológica”, promovendo “causas polarizadoras” e priorizando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda que Trump e seus aliados descrevem como “globalista”.

Trata-se de uma visão conspiracionista amplamente difundida entre extremistas, baseada em desinformação e disseminação de ódio contra questões mínimas humanitárias, como a preservação ambiental ou defesa de direitos humanos para crianças vítimas de massacres pelo mundo.

America Fisrt?

“A Unesco promove causas sociais e culturais polarizadoras e mantém um foco desproporcional nos ODS, uma agenda ideológica que vai contra nossa política externa de America First”, declarou a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce sobre a decisão.

America First, em tradução literal, significa “América Primeiro”. Contudo, a postura de Trump sequer interessa aos próprios norte-americanos. Na questão do tarifaço contra o Brasil, por exemplo, os EUA possuem balança superavitária com o país. As tarifas foram impostas em prejuízo maior aos norte-americanos do que ao Brasil à rigor, já que lá eles vão pagar mais por produtos básicos como carne, café e laranja. Tudo isso para ajudar seu parceiro ideológico no país, Jair Bolsonaro, político inelegível e réu por uma série de crimes.

Ataques ao multilateralismo

A decisão marca mais um passo na cruzada de Trump contra instituições multilaterais e normas internacionais, movimento que analistas consideram sintoma da radicalização da extrema direita norte-americana no cenário global. Além da Unesco, o republicano já retirou os EUA novamente da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Conselho de Direitos Humanos da ONU, além de suspender o financiamento à UNRWA, agência da ONU que atende refugiados palestinos.

O isolamento americano também se reflete nas posturas comerciais. A Casa Branca tem imposto tarifas unilaterais, sem critérios técnicos, contra diversos países, em especial o Brasil, como parte de sua estratégia de retaliação ideológica e proteção de aliados estratégicos, como Bolsonaro.

Brasil sob ataque tarifário

Desde fevereiro, o governo brasileiro tem sido alvo de uma série de sanções comerciais arbitrárias por parte dos EUA, incluindo sobretaxas de até 50% sobre produtos como aço, alumínio, carne bovina e papel. A justificativa pública da Casa Branca oscila entre proteção à indústria nacional e “insegurança sanitária”, mas bastidores diplomáticos apontam motivação política: Trump estaria “punindo” o governo brasileiro atual por romper com a subordinação ideológica da era Bolsonaro, vista por Washington como estratégica.

Diplomatas brasileiros denunciam violações às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), ignoradas por Trump, que tem sistematicamente desrespeitado decisões do órgão, ou simplesmente bloqueado seu funcionamento, como no caso do órgão de apelação.

Saída da Unesco: cultura, ciência e cooperação em risco

A nova retirada da Unesco é emblemática. Criada após a Segunda Guerra Mundial para promover a paz por meio da cooperação cultural, científica e educacional, a agência é responsável por ações como a preservação de línguas ameaçadas, alfabetização global, liberdade de imprensa e a famosa lista de Patrimônios da Humanidade, que inclui desde o Grand Canyon, nos EUA, até o centro histórico de Ouro Preto, em Minas Gerais.

Os Estados Unidos foram membros fundadores da Unesco em 1945, mas têm um histórico turbulento com a agência: saíram em 1984 sob Ronald Reagan, voltaram em 2003 com George W. Bush, saíram novamente em 2018 com Trump e retornaram em 2023 com Joe Biden. Agora, com a nova retirada, o país volta a descartar décadas de diplomacia cultural em nome de uma agenda de confrontação.

Retrocesso civilizatório com Trump

A decisão de Trump de se retirar sistematicamente de organismos internacionais e impor sanções unilaterais ameaça o próprio conceito de ordem global baseada em normas e cooperação. Especialistas alertam para o retorno a uma política internacional baseada em interesses de força, sem respeito ao direito internacional, à ciência ou à diplomacia.

Com sua cruzada contra o “globalismo” e sua aliança tácita com lideranças de extrema direita pelo mundo, Trump não apenas repete seu primeiro mandato, mas aprofunda sua política isolacionista e radical. Muito disso se dá particularmente pela força que conseguiu nas últimas eleições. Trump conseguiu maioria nas duas Casas legislativas, além de ter controle parcial da Suprema Corte. Empoderado, o extremista segue com sua sanha imperialista.

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