O presidente Donald Trump pediu, no domingo (10), que a China quadruplique suas compras de soja dos Estados Unidos. Saiba mais em TVT NEWS.
EUA querem que China compre mais soja dos norte-americanos
No perfil na rede Truth Social, Trump escreveu: “A China está preocupada com a escassez de soja. Nossos grandes agricultores produzem a soja mais robusta. Espero que a China quadruplique rapidamente seus pedidos de soja” e agradeceu ao presidente Xi Jinping sem especificar motivo, dando a entender que um acordo sobre o assunto está em andamento.

O pedido foi feito dois dias antes da trégua tarifária entre Washington e Pequim acabar. Na segunda (11), a Casa Branca estendeu por mais 90 dias a suspensão das tarifas sobre importações chinesas.
A China é a maior compradora de soja no mundo. Em 2024, os chineses importaram 105 milhões de toneladas do grão, segundo dados da Administração Geral de Alfândegas da China. Menos de um quarto desse valor veio dos EUA, enquanto o Brasil representa cerca de 70% do total de exportação para o país.
Apesar de improvável, medida prejudicaria exportações do Brasil para o país asiático
Em 2024, o Brasil exportou 74,7 milhões de toneladas de soja para a China, totalizando US$ 36,5 bilhões.
Segundo analistas, o pedido do presidente estadunidense é quase impossível de ser concretizado. No ano passado os EUA produziram 118 milhões de toneladas de soja, 44 milhões foram exportadas com quase 52% desse total sendo direcionado para o mercado chinês (22 milhões de toneladas) .
Para quadruplicar as vendas, o país teria que enviar à China 88 milhões de toneladas, o que comprometeria outros setores que dependem do grão, como a produção de farelo e óleo.
Para o cientista político e professor do Insper, Leandro Consentino, o problema central dessa proposta é justamente a capacidade produtiva dos Estados Unidos: “provavelmente os Estados Unidos não teriam soja suficiente para entregar, o que dificulta muito esse tipo de promessa a ponto de torná-la crível. Parece muito mais algo para prejudicar o Brasil do que, de fato, para tornar isso algo palpável em termos de exportações reais”, argumenta.

Cosentino ainda reforça que mesmo se o Estados Unidos conseguissem suprir a demanda de produção, a proposta é impraticável pela relação econômica estratégica entre Brasil e China: “eu não acredito que isso seria nem vantajoso em termos financeiros, econômicos e nem razoável do ponto de vista da parceria estratégica que se detém. A China é nosso principal parceiro comercial, então dificilmente ela concretizaria isso para agradar Donald Trump”.
O professor diz que, se aceita, a proposta poderia ser um desastre para o Brasil, mas enfatiza que a concretização da medida é pouco provável. “Seria um desastre para o setor agro do agronegócio, sobretudo para o setor de soja no Brasil, mas que dificilmente vai se concretizar”.
Cosentino analisa que o post de Trump soa como uma medida desesperada do presidente que parece enfrentar dificuldades nas negociações com a China em relação ao tarifaço: “Parece muito mais algo de desespero do presidente americano, sobretudo ao tentar atingir o Brasil e dar uma resposta para essa questão do tarifário com a China que está de alguma forma difícil de chegar a um ponto de consenso”, finaliza.