Vala Clandestina de Perus voltará a ter pesquisa de identificação das ossadas

Governo Federal fará pedido formal de desculpas e irá viabilizar a continuidade da identificação das ossadas, via Unifesp
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Vala Clandestina de Perus quando descoberta com a presença de Caco Barcellos. Foto: Memórias da Ditadura/Reprodução

Vala Clandestina de Perus voltará a ter trabalho de pesquisa pela Unifesp para identificação das ossadas encontradas em 1990. O restos mortais possivelmente pertencem a presos políticos, indigentes e desconhecidos enterrados ilegalmente durante a ditadura militar. Também haverá pedido de desculpas da União em relação a negligência na guarda e identificação dos remanescentes ósseos. Saiba mais na TVT News.

Pesquisa dos restos ósseos da Vala Clandestina de Perus

O Governo Federal, por meio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e da atuação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), está comprometido em viabilizar a continuidade e finalização dos trabalhos de identificação dos remanescentes ósseos da Vala Clandestina de Perus.

Neste sentido, em 2024, o MDHC assinou novo Acordo de Cooperação Técnica junto ao CAAF/Unifesp e à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e da Cidadania (SMDHC) da Prefeitura de São Paulo, e mediou a celebração do instrumento de Carta Acordo entre a Unifesp e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no âmbito do Projeto BRA/15/006, de modo a financiar a contratação da equipe pericial e a retomada dos trabalhos.

O MDHC também tem repassado recursos anualmente para a manutenção e o funcionamento do CAAF desde 2017, conforme estabelecido no Gabinete de Conciliação.

Pedido de desculpas do Estado Brasileiro

Nesta segunda-feira (24), haverá cerimônia de pedido de desculpas quanto à negligência da União na guarda e identificação dos remanescentes ósseos da Vala Clandestina de Perus.

Evento terá a participação da ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Macaé Evaristo, a iniciativa do Governo Federal faz referência ao caso conhecido como Vala Clandestina de Perus, um resquício das violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar no Brasil.

Desde o lançamento do filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, o debate público sobre a crueldade dos crimes cresceu.

Na obra é relatado o desaparecimento do ex-deputado federal Rubens Paiva, opositor da política aplicada na ditadura militar. O foco fica na família que ficou e resistiu a tortura, principalmente a esposa do político, Eunice Paiva.

No papel de Eunice, Fernanda Torres, brilhou. A mãe de cinco filhos que não tinha mais emprego, retornou para a faculdade, se mudou do Rio de Janeiro para São Paulo e lutou pelos direitos de quem foi esquecido pelo Brasil: os desaparecidos pela forças militares da ditadura. Ao mesmo tempo também buscou trabalhar em outra área igualmente difícil: os direitos dos povos indígenas.

O que se espera dessa cerimônia não é um final feliz de filme, pois não há como ter um desfecho perfeito quando a sociedade foi e ainda é corrompida por ideias cruéis de superioridade e autoritarismo. O pedido de desculpas formal é o mínimo para se começar a tratar os sintomas remanescente de uma ditadura militar nunca condenada.

Vala Clandestina de Perus

No local, foram enterrados ilegalmente corpos de pessoas indigentes, de desconhecidos, e daqueles considerados opositores ao regime de opressão iniciado em 1964.

Os remanescentes ósseos foram descobertos em 1990 no Cemitério Dom Bosco, em Perus — Zona Noroeste de São Paulo —, e inicialmente levados à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para, posteriormente, serem encaminhados para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Após diversas denúncias relacionadas às condições precárias de armazenamento das ossadas, estas foram removidas e realocadas para o Instituto Médico Legal do Estado de São Paulo. Depois, os remanescentes ósseos foram levados ao Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para os devidos trabalhos de identificação.

Considerando as graves violações de direitos humanos perpetradas, o pedido de desculpas em nome do Estado brasileiro será feito aos familiares dos desaparecidos políticos durante a ditadura militar, que durou até 1985; e à sociedade brasileira pela negligência, entre 1990 e 2014, na condução dos trabalhos de identificação das ossadas encontradas na Vala Clandestina de Perus.

A Cerimônia de pedido de desculpas ainda contará com a presença de familiares das vítimas, autoridades e representantes da sociedade civil.

Por Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania

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