Venezuela afirma que avanço militar de Trump na região é “ameaça criminosa”

Trump divulgou suposto ataque contra embarcação da Venezuela. Contudo, o governo Maduro questiona a veracidade do vídeo. Entenda
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Para o presidente Nicolás Maduro, o episódio representa uma ameaça direta e sem precedentes à soberania venezuelana. “A Venezuela está enfrentando a maior ameaça que já foi vista no nosso continente nos últimos 100 anos" Foto: Leandra Felipe - Repórter da Agência Brasil/EBC

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou ontem (2) um vídeo que, segundo ele, comprova um ataque militar contra uma embarcação de suposto tráfico de drogas ligada a um grupo da Venezuela. Contudo, o governo do país latino-americano contesta a autenticidade do vídeo e acusa Washington de fabricar provas para justificar uma escalada militar na região. Entenda na TVT News.

Trump afirmou que pelo menos 11 “terroristas” foram mortos na operação, supostamente conduzida por forças americanas em águas internacionais sob responsabilidade do Comando Sul. “Deixe isto servir de aviso para qualquer pessoa que esteja pensando em trazer drogas para os Estados Unidos da América. CUIDADO!”, escreveu Trump em sua rede social, Truth Social.

No vídeo, que mostra uma embarcação sendo atingida por mísseis, Trump afirma que ordenou o ataque contra o que chamou de “narcoterroristas” ligados à Venezuela. Ele acusou diretamente o presidente Nicolás Maduro de liderar o Tren de Aragua, organização que foi designada como terrorista pelo governo dos EUA.

O secretário de Estado Marco Rubio corroborou a versão, afirmando em seu perfil na rede X que os Estados Unidos “realizaram um ataque letal” contra o suposto navio.

Ataques contra a América Latina

Para o presidente Nicolás Maduro, o episódio representa uma ameaça direta e sem precedentes à soberania venezuelana. “A Venezuela está enfrentando a maior ameaça que já foi vista no nosso continente nos últimos 100 anos. Barcos militares com 1.200 mísseis e submarino nuclear. Uma ameaça extravagante, injustificável, imoral. Absolutamente criminosa e sangrenta. Querem avançar na máxima pressão militar. Diante disso, nós declaramos a máxima preparação pela defesa da Venezuela”, declarou Maduro em pronunciamento transmitido pela televisão estatal.

O ministro das Comunicações da Venezuela, Freddy Ñañez, divulgou um comunicado oficial denunciando a falsificação do vídeo por meio de inteligência artificial. “Parece que Marco Rubio continua mentindo para o seu presidente (Donald Trump): depois de colocá-lo em um beco sem saída, agora lhe apresenta como ‘prova’ um vídeo com IA (assim comprovado)”, afirmou Ñañez.

EUA e IA contra a Venezuela

Junto à denúncia, o governo venezuelano divulgou uma análise técnica realizada com base na plataforma de IA Gemeni, que concluiu que é “muito provável” que o vídeo tenha sido gerado artificialmente. O relatório apontou diversas anomalias visuais, como a explosão que se assemelha a uma “animação simplificada, quase de desenho animado, do que a uma representação realista”, além da presença de “artefatos de movimento”, “falta de detalhamento realista” e comportamento da água considerado “muito estilizado e pouco natural”.

O vídeo também continha o texto “SEM CLASSIFICAÇÃO” e uma marca d’água de origem desconhecida. Elementos que, segundo o laudo técnico, são comuns em conteúdos gerados por IA.

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Imagem divulgada por Trump de suposto barco da Venezuela abatido. Foto: Reprodução

A acusação de Caracas expõe um problema crescente nas relações internacionais contemporâneas: o uso de tecnologias como deepfakes para justificar ações bélicas ou sanções. Se confirmada a falsificação, o caso abriria um precedente perigoso, demonstrando como provas fabricadas podem ser utilizadas como casus belli, com o potencial de desestabilizar países inteiros com base em realidades artificiais.

Para analistas venezuelanos, o episódio se insere numa estratégia mais ampla dos Estados Unidos para manter controle geopolítico sobre os recursos naturais da América Latina. As ações recentes coincidem com o agravamento das relações de Washington com a China e outros países exportadores de matérias-primas estratégicas, como as terras raras, essenciais para a indústria tecnológica e energética.

Até o momento, o Departamento de Estado dos EUA não comentou oficialmente as acusações do governo venezuelano, nem respondeu aos questionamentos sobre a autenticidade do vídeo divulgado por Trump.

Enquanto isso, a Venezuela reforça seu discurso de alerta ao continente. Para Maduro, o momento exige “máxima preparação” e união regional diante do que classifica como uma agressão imperialista travestida de combate ao narcotráfico.

Com informações da TeleSUR

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