‘The Young Pope’: a série que antecipou a eleição de um papa dos EUA

Na série de Paolo Sorrentino, Jude Law vive um papa conservador dos EUA. Agora, a realidade recebe o aparentemente moderado Papa Leão XIV
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"The Young Pope" apresenta Lenny Belardo (interpretado por Jude Law), um cardeal norte-americano que se torna o fictício Papa Pio XIII. Foto: HBO

Em paralelo entre arte e realidade, a série “The Young Pope“, lançada em 2016, parece ter previsto um marco histórico ocorrido hoje, 8 de maio de 2025: a eleição do primeiro papa norte-americano, Robert Francis Prevost, que adotou o nome de Leão XIV. Entenda na TVT News.

Papa dos EUA

Criada por Paolo Sorrentino, “The Young Pope” apresenta Lenny Belardo (interpretado por Jude Law), um cardeal norte-americano que se torna o fictício Papa Pio XIII. A série explora as complexidades do poder e da fé, destacando um pontífice jovem, enigmático e conservador, que desafia as tradições estabelecidas do Vaticano. Belardo, órfão criado por freiras, é retratado como uma figura controversa que busca restaurar o mistério e a autoridade da Igreja Católica.

Leão XIV: O primeiro Papa norte-americano

Hoje, a realidade alcançou a ficção com a eleição de Robert Francis Prevost como Papa Leão XIV. Nascido em Chicago e membro da Ordem de Santo Agostinho, Prevost dedicou grande parte de sua vida missionária ao Peru antes de assumir cargos importantes na Cúria Romana. Sua eleição marca uma mudança significativa na história da Igreja, sendo o primeiro pontífice dos Estados Unidos e o segundo das Américas.

Em seu primeiro discurso como papa, Leão XIV enfatizou a importância da paz e do diálogo, refletindo uma abordagem pastoral e inclusiva que contrasta com a rigidez de seu homólogo fictício. Sua trajetória missionária e experiência internacional sugerem um compromisso com a diversidade e a justiça social.

Ficção e realidade

Embora “The Young Pope” e a eleição de Leão XIV compartilhem a nacionalidade norte-americana dos papas, as semelhanças parecem terminar aí. Enquanto Pio XIII é retratado como um líder autoritário e conservador, Leão XIV demonstra uma postura mais moderada. A série de Sorrentino, com seu estilo visual marcante e narrativa provocativa, oferece uma reflexão crítica sobre o poder e a fé.

O Papa das duas pátrias

Nascido em Chicago em 1955 e ordenado sacerdote na Ordem de Santo Agostinho, Prevost atuou como missionário no Peru nos anos 1980. Lá, ganhou fluência em espanhol e compreensão das tensões sociais e religiosas que marcam a América Latina, onde a fé se entrelaça com pobreza, injustiça e espiritualidade popular.

Foi essa vivência que lhe valeu o apelido de “pastor de duas pátrias”. Ainda que nascido no coração dos EUA, Prevost sempre manteve um olhar para o Sul Global. Como bispo de Chiclayo, destacou-se pelo contato direto com comunidades marginalizadas e por uma abordagem pastoral marcada pela escuta.


Da missão à cúpula

Desde 2023, Prevost ocupava o estratégico cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos, órgão responsável por avaliar e nomear novos bispos no mundo inteiro. Foi um dos papéis mais influentes sob o pontificado de Francisco, e lhe proporcionou conhecimento profundo da maquinaria vaticana, além de dar visibilidade internacional à sua liderança.

Apesar disso, sua atuação nesse posto também gerou críticas. Em particular, sua participação em processos de investigação de abuso clerical foi vista como tecnicamente correta, mas pouco transparente ou sensível às vítimas. Esse aspecto deve ser observado com atenção por movimentos que exigem mais responsabilidade institucional da Igreja.

Desafios à frente

Como primeiro papa norte-americano da história, Leão XIV carrega sobre os ombros uma ambivalência geopolítica. A tradição do Vaticano sempre evitou papas dos EUA para não associar a Igreja à superpotência global. Sua eleição rompe essa cautela histórica — e será observado com atenção redobrada, especialmente em temas como política externa, economia global e conflitos culturais.

Além disso, terá de lidar com uma Igreja polarizada, entre vozes que exigem reformas estruturais (inclusão de mulheres, revisão do celibato, maior sinodalidade) e forças conservadoras que querem restaurar uma autoridade doutrinária rígida.

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