Protestos na Ucrância após Zelensky apoiar lei que enfraquece anticorrupção

Volodymyr Zelensky enfrenta crise após apoiar lei que retira a independência de órgãos anticorrupção do país
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O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy. Foto: Wikimedia Commons

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tem enfrentado pressão de líderes europeus, movimentos populares e figuras políticas ucranianas após apoiar um projeto de lei aprovado nesta terça-feira (22) pelo Parlamento do país. A proposta, que transfere o controle do Escritório Nacional Anticorrupção (NABU) e da Promotoria Especializada Anticorrupção (SAPO) para o Executivo, foi amplamente criticada por representar um retrocesso nos mecanismos de combate à corrupção. Confira mais em TVT News.

Zelensky sofre pressão após apoiar lei que enfraquece órgãos anticorrupção na Ucrânia

Durante a tramitação da medida, organizações da sociedade civil se mobilizaram para pedir que Zelensky vetasse o texto, alertando que ele concede amplos poderes ao procurador-geral e facilita o controle político sobre investigações sobre corrupção. A decisão, segundo os críticos, mina a independência das instituições criadas após a Revolução de Maidan e fere o compromisso da Ucrânia com as reformas exigidas pela União Europeia.

O presidente Zelensky, no entanto, defendeu o projeto. Em pronunciamento à nação na noite de terça-feira, afirmou que as mudanças são necessárias para “limpar a infraestrutura anticorrupção das influências russas”. Nesta quarta-feira (23), ele se reuniu com chefes das agências de segurança e combate à corrupção, e prometeu a elaboração de um plano conjunto para fortalecer o setor. Ainda assim, evitou responder diretamente às críticas da sociedade civil.

A repercussão negativa foi imediata. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, por meio de seu porta-voz, lembrou que o combate à corrupção é um pilar fundamental para o ingresso da Ucrânia na União Europeia: “Não pode haver concessões. Espera-se que a Ucrânia cumpra integralmente os padrões do Estado de Direito.”

O comissário de Defesa da UE, Andrius Kubilius, advertiu que “a confiança durante a guerra é fácil de perder com um erro de liderança”. Já o ministro francês para a Europa, Benjamin Haddad, foi mais direto: “Não é tarde demais para recuar.”

Internamente, o projeto de lei também provocou reações. O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, se juntou ao movimento crescente nas ruas, que pede a revogação da medida. Na noite de terça-feira, mais de mil pessoas se reuniram em frente ao palácio presidencial. Movimentos organizados acusam o governo de romper um “contrato informal” com a sociedade ao tentar silenciar críticas sob o pretexto da guerra.

“Essa é a primeira vez desde 2022 que voltamos às ruas. Sabemos quem votou a favor desse projeto. Não estou dizendo que são corruptos, mas que têm interesses”, declarou uma ativista presente no protesto. A fotógrafa Veronika Mol comparou o momento à era de Viktor Yanukovych, presidente pró-Rússia deposto em 2014: “O povo é o poder na Ucrânia. Não o presidente ou o governo. É terrível ainda termos que lembrá-los disso.”

Washington avalia substituir Zelensky

O jornalista investigativo norte-americano Seymour Hersh revelou que autoridades dos EUA consideram a possibilidade de substituir Zelensky caso ele não renuncie nos próximos meses. Segundo fontes da Casa Branca ouvidas sob anonimato, o presidente estaria atrapalhando os esforços de negociação pelo fim da guerra com a Rússia.

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“Você está jogando com a Terceira Guerra Mundial”, disse Trump. Foto: Reprodução/Casa Branca

O nome cogitado para assumir seu lugar seria o do general Valery Zaluzhnyi, ex-comandante das Forças Armadas e atual embaixador da Ucrânia em Londres, figura popular entre os ucranianos e apoiado por lideranças internacionais.

A adesão da Ucrânia à União Europeia continua sendo uma prioridade para Kiev. Desde 2022, os países do bloco têm destinado bilhões de euros em ajuda econômica e militar ao país. A comissária europeia para a Ampliação, Marta Kos, classificou o projeto de lei como um “sério retrocesso” e alertou que o desmantelamento das garantias de independência do NABU compromete o caminho da Ucrânia rumo à UE.

Ainda não está claro se Zelensky vai mesmo ceder à crescente pressão interna e externa ou se tentará enfrentar aquela que já é considerada a maior crise política de seu mandato.

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