Zuckerberg se alia a Trump, acaba com checagem de fatos e desregula a Meta

CEO da Meta, Zuckerberg, deu declaração elogiando Trump, atacando tribunais e anunciando fim da checagem de fatos no Facebook e Instagram
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"Zuckerberg segue a mesma cartilha de Elon Musk e declara uma cruzada contra quem revindica maior transparência". Foto: Wikicommons

O presidente-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou hoje (7) o fim da checagem de fatos das plataformas de sua empresa. A Meta controla o Facebook, o Instagram e o Whatsapp. Zuckerberg deu uma declaração em aceno positivo àqueles que divulgam desinformação e fake news. Ele fala, abertamente, de um alinhamento com o extremista Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, e ataca a soberania de países que tentam combater mentiras em massa.

“Vamos trabalhar com o presidente Trump para pressionar os governos de todo o mundo, que visam perseguir empresas americanas e pressionando para implementar mais censura”, disse Zuckerberg. Então, também apelou para falas sem correspondência na realidade. “Os países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que as empresas retirem as coisas silenciosamente”, disse sem apresentar provas de suas palavras.

A TVT News conversou sobre o tema com Ergon Cugler, especialista em desinformação com larga experiência, mais de 500 artigos, ensaios e palestras, mestre pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e MBA em análise de dados pela Universidade de São Paulo (USP). “Zuckerberg segue a mesma cartilha de Elon Musk (CEO do X, antigo Twitter, aliado de primeira ordem de Trump) e declara uma cruzada contra quem revindica maior transparência das plataformas”, disse.

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Zuckerberg anuncia fim da checagem na Meta. Foto: Instagram

Ataques de Zuckerberg

Musk também cita diretamente a Europa. O continente possui as legislações mais avançadas do mundo a respeito do controle de mentiras e desinformação disseminadas em massa, muitas vezes com objetivo de deteriorar governos e a própria democracia. “Em sua fala, Zuckerberg deixa claro que se aliará à Trump para enfrentar “legislações” de países da Europa e da América Latina, citando nominalmente uma “Suprema Corte” de um país latinoamericano (vide Brasil), que estaria supostamente tentando trazer censura para a internet”, explica Ergon.

Então, para o especialista, trata-se de um movimento de tentar enfraquecer a soberania das nações diante de um cenário de ascensão de uma extrema direita com fortes vínculos com o liberalismo econômico. “Esse posicionamento enfraquece os esforços de Estados para proteger os direitos de seus cidadãos no ambiente digital, desrespeitando as soberanias nacionais. Além disso, ao priorizar os interesses corporativos em detrimento de regulações democráticas que promovam um ambiente digital mais seguro e justo, a Meta reforça um desequilíbrio de poder entre as Big Techs e os Estados nacionais.”

Tiro no pé

Em sua declaração de alinhamento com a extrema direita, Zuckerberg fez uma espécie de mea culpa sobre o que chamou de “censuras” anteriores em suas plataformas. Contudo, essa desculpa, ao contrário do efeito lógico esperado de que “mais liberdade” seria a solução, apenas mostra como o Estado precisa controlar estes espaços, como explica Ergon.

“A fala de Zuckerberg foi um tiro no pé, pois ele assumiu que seus mecanismos de moderação de conteúdo são tão falhos que fizeram com que ‘milhões de usuários’ tivessem as suas publicações erroneamente removidas, por simples erro da plataforma. Zuckerberg evidencia que são necessárias regras claras de moderação de conteúdos para evitar crimes como exploração de menores e linchamentos virtuais, pois a autoregulação das plataformas não tem dado conta de proteger a liberdade de expressão e inibir crimes”, disse.

Livres para mentir

Então, o que pode-se esperar para o futuro destas plataformas é a intensificação da disseminação de fake news, mentiras e desinformação. “Aos olhos de um cidadão comum, isso pode soar democrático, pois parece dar o poder de decidirmos o que deve ou não estar nas redes sociais. Mas, na prática, significa expor milhões de usuários diariamente à desinformações e até mesmo a crimes que somente serão removidos ou corrigidos após muitas pessoas decidirem que aquilo é negativo.”

“Em outras palavras, substituir a curadoria de conteúdos por uma checagem realizada pelos próprios usuários é um atestado de que a Meta prefere construir um monopólio da verdade, uma “IA-cracia”, em que a opinião de especialistas passa a valer menos do que o senso comum. Se um especialista apontar que algo está errado, mas se um grupo de usuários mal intencionados apontar que algo está certo, a mentira poderá continuar online, por simplesmente a Meta decidir que a quantidade vale mais que a qualidade. Essa medida, longe de democratizar o espaço digital, enfraquece os esforços para combater crimes e proteger os usuários”, finaliza o especialista Ergon.

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