Medo crescente: mundo se prepara para possível guerra

Países europeus emitem alertas sobre possível guerra, enquanto crescem os abrigos. Entenda o cenário de receio que ronda o mundo
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A China, gigante que não para de crescer, eleva gastos com o setor bélico na faixa de 7% ano ano. Foto: Xinhua

Mundo se aproxima de uma nova guerra? Os países estão se preparando para novos conflitos? Entenda os cenários na TVT News.

Além da Rússia, quais as guerras que podem acontecer?

“Não é preciso assustar ninguém. Os perigos são muitos. Estão aumentando. E vemos o que nosso adversário está fazendo hoje. A situação está se agravando. Se é assim que eles querem, então deixe que tenham uma vida difícil, que continuem a escalar a situação.” As palavras são do presidente da Rússia, Vladimir Putin, em entrevista concedida a um veículo russo no fim de 2024. Ele assim respondeu a uma pergunta sobre se a Terceira Guerra Mundial já estaria em curso.

Trata-se de um risco crescente. Não faltam previsões de especialistas e até mesmo de místicos que apontam para um futuro próximo sombrio de conflitos locais, espelhando uma grande escalada bélica global. “Escolham um alvo em Kiev (Ucrânia). Concentrem todas as suas forças de defesa aérea e nós atacaremos com o Oreshnik (míssil de alta técnologia, hipersônico e compacto) para ver o que acontece. Nós estamos prontos, será que o outro lado está?”, disse Putin sobre poder da artilharia russa.

Portanto, enquanto a Rússia está abertamente em conflito contra os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – particularmente no front da Ucrânia – outras regiões também abraçam a guerra ou se preparam para ela.

Tensões e genocídio no Oriente Médio

O Oriente Médio é outro flanco preocupante, marcado pelo expansionismo de Israel sobre territórios da Síria, Líbano e, sobretudo, com o genocídio da população da Palestina. Já em um contexto mais amplo, China e Estados Unidos seguem com atritos. Donald Trump, que assume o governo dos Estados Unidos neste mês de janeiro, promete sanções e taxas abusivas contra produtos chineses. A China, gigante que não para de crescer, faz pouco caso, enquanto eleva gastos com o setor bélico na faixa de 7% ao ano.

Preparativos para a guerra

Em meio às crescentes tensões, quatro países europeus, pelo menos, já atualizaram e publicaram suas cartilhas e orientações para a população em situações de crise. Os cenários envolvem ataques cibernéticos, condições climáticas extremas e a possibilidade de um novo conflito armado no continente. A iniciativa reflete o agravamento das ameaças na região, especialmente com a intensificação das tensões com a Rússia.

A guerra e os nórdicos

Na Suécia, cerca de cinco milhões de exemplares de um guia intitulado “Se houver crise ou guerra” começaram a ser distribuídos aos cidadãos. Este documento detalha passo a passo como agir em emergências, incluindo orientações sobre proteção contra bombardeios e a localização de abrigos. É a quinta edição publicada desde o final da Segunda Guerra Mundial e possui o dobro do tamanho da versão anterior, demonstrando a crescente preocupação do governo sueco com a deterioração da segurança regional.

A vizinha Finlândia, que recentemente aderiu à Otan ao lado da Suécia, também lançou novas orientações online sobre como os cidadãos devem se preparar para crises, com ênfase no armazenamento de alimentos e água. A adesão dos dois países à aliança militar, após décadas de neutralidade, foi justificada por eles pelo “receio de uma invasão russa” – ainda que uma ação russa contra países neutros estava fora de cogitação – após o início da guerra na Ucrânia.

Na Noruega, os cidadãos receberam panfletos alertando sobre a necessidade de se preparar para situações atípicas, como condições meteorológicas extremas ou conflito armado. A recomendação é que as pessoas estejam prontas para se virar sozinhas por até uma semana.

Por sua vez, na Dinamarca, a agência de gerenciamento de emergências enviou e-mails com orientações detalhadas sobre como estocar suprimentos essenciais, como água, alimentos e medicamentos, suficientes para três dias de isolamento. Também há relatos de cartilha similar distribuida na Espanha.

Guerra nuclear

Recentemente, o presidente Putin anunciou a flexibilização dos protocolos para o uso de armas nucleares, ampliando os critérios para seu emprego. Esta decisão ocorreu após os Estados Unidos e o Reino Unido permitirem que a Ucrânia utilizasse mísseis de longo alcance fornecidos pelo Ocidente contra alvos em território russo. Em resposta, Putin ameaçou os países que continuam a apoiar a Ucrânia com armamentos modernos.

O primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, alertou para o risco de uma guerra global, descrevendo a situação como “séria e real”. Durante discurso no Sindicato dos Professores Poloneses, ele ressaltou que o conflito na Ucrânia está entrando em uma fase decisiva e alertou sobre o desconhecido que se aproxima.

No Reino Unido, o vice-chefe do Estado-Maior, Rob Magowan, assegurou que as forças britânicas estão prontas para intervir caso a Rússia expanda o conflito para outras nações do Leste Europeu. Por sua vez, Valery Zaluzhny, embaixador da Ucrânia no Reino Unido, afirmou que a Terceira Guerra Mundial já começou devido à crescente colaboração entre a Rússia e aliados como China, Irã e Coreia do Norte.

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Míssil de alta técnologia russo. Foto: newsinfo.ru

Preparações civis

O aumento da tensão também gerou uma corrida por abrigos antibomba em toda a Europa. Na Espanha, empresas especializadas em bunkers relatam um crescimento significativo na demanda. De acordo com levantamentos locais, os pedidos triplicaram nos últimos meses, com clientes também provenientes da França, Alemanha e até da Colômbia. Na Alemanha, o governo está elaborando um levantamento detalhado de abrigos de emergência e incentivando os cidadãos a adaptarem porões e garagens como esconderijos.

Além disso, várias embaixadas ocidentais na Ucrânia, incluindo as dos EUA, Itália, Espanha, Grécia, Portugal e Canadá, foram fechadas temporariamente (EUA já reabriu no início de 2025) após alertas sobre possíveis ataques aéreos. Em comunicado, a embaixada norte-americana pediu aos cidadãos para procurarem abrigo em caso de alerta. “Como medida de precaução, a embaixada vai ser encerrada e os funcionários da embaixada são aconselhados a procurar abrigo em caso de ataque”, informou a representação dos EUA a seus cidadãos.

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A embaixada dos EUA chegou a ser temporariamente fechada por risco de ataques em Kiev. Foto: Spputnik/dpe/DW

Infraestrutura de guerra

A Otan intensificou os apelos para que as empresas europeias ajustem suas linhas de produção e distribuição a fim de reduzir a dependência de países como Rússia e China. Enquanto isso, o tratado militar liderado pelos EUA amplia suas garras na Europa e ameaça, inclusive, abraçar a Ucrânia, além de países nórdicos recém filiados. Trata-se de um desrespeito da Otan a acordos fechados com russos anteriormente.

“Se por “Terceira Guerra Mundial” entendemos uma guerra entre Rússia e Estados Unidos, então ela tem duas fases, a primeira delas a de uma guerra indireta que já começou há décadas – digamos  que tenha sido no dia 12 de março de 1999, com a adesão da Polônia, Hungria e República Tcheca à Otan, violando os acordos de não-expansão da OTAN para Leste firmados com a então União Soviética uma década antes”, explica o ativista Ruben Bauer Naveira, para o GGN.

Sobre os problemas de estrutura, fica clara a necessidade de reformas para garantir um “fechamento” destes países para grandes mercados, como o chinês e mesmo o russo. O almirante Rob Bauer, presidente do comitê militar da aliança, afirmou que a resiliência econômica é crucial para a dissuasão e destacou o perigo de chantagem por parte de governos estrangeiros em situações de guerra. Enquanto isso, a Alemanha sofre com o desabastecimento, particularmente de gás, que era comprado a preços baixos da Rússia antes da escalada.

Desertores na Ucrânia

O medo é real e afeta, especialmente, quem está no front. O Exército ucraniano enfrenta um de seus maiores desafios: a deserção. Desde o início da invasão russa, mais de 43.000 soldados foram perdidos, e dezenas de milhares estão desaparecidos. Apenas em 2024, houve um aumento significativo nos casos de deserção ou ausência sem permissão, totalizando cerca de 90.000 investigações desde o início da guerra. Trata-se de um reflexo da escalada e do medo que se alastra pelos continentes, particularmente pela Europa.

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