Caso não aconteça nenhuma hecatombe política nas próximas horas, a eleição para a presidência do Senado, neste sábado (1º) deve marcar o retorno de Davi Alcolumbre (União-AP) ao comando da Casa da Federação. Aos 47 anos de idade, ele é um dos políticos mais influentes da República. Presidente do Senado entre 2019 e 2021, foi um dos principais articuladores das duas vitórias de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que liderou a chamada “Câmara Alta” nos últimos quatro anos.
Agora, com um amplo leque de alianças, que vão do PT ao PL, passando pelos partidos do chamado Centrão, e contando com o apoio de Pacheco, Alcolumbre tem tudo para vencer a disputa, marcada para as 10h deste sábado, e receber de volta o bastão.
Nos últimos dois anos, o senador amapaense comandou a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa. Acumulando poder e capacidade de articulação, é ele também quem controla a distribuição de emendas aos senadores e influencia na indicação da maioria dos cargos.
Em 2019, Alcolumbre enfrentou Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela presidência do Senado. Foi a eleição mais acirrada dos últimos. Na ocasião, a primeira votação foi anulada, após a contagem dos votos depositados na urna revelar 82 cédulas – quando são 81 senadores no total, três por estado – incluindo duas delas sem envelopes. Diante do imbróglio, Renan acabou abandonando a disputa. Com os votos de 42 senadores, Alcolumbre foi eleito o mais jovem presidente do Senado, aos 41 anos.
Desta vez, no entanto, o cenário parece muito mais confortável. Ele conta com o apoio de 12 partidos, e de mais três senadores do Podemos, que liberou o voto da bancada na disputa pela presidência. Assim, mais de 70 senadores devem depositar os votos no ex-presidente. Favorito, o senador amapaense já sinalizou que PT e PL devem ocupar as vice-presidências do Senado, estabelecendo divisão mais equânime de poderes.
Durante a sua primeira presidência, Alcolumbre atuou como fiador do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi, por exemplo, um dos principais articuladores da aprovação da dita “reforma” da Previdência, que restringiu o acesso às aposentadorias. Habilidoso, soube se repaginar e se aproximar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais recentemente. Foi assim que, no comando da CCJ, articulou para aprovar desta vez o novo arcabouço fiscal do governo petista.
Alcolumbre: Biografia
David Samuel Alcolumbre Tobelem nasceu em 1977, em Macapá, capital amapaense, e é empresário. É casado com Liana Andrade e pai de dois filhos: Davi e Matheus. Começou na política no PDT, partido pelo qual se elegeu vereador de Macapá em 2000. Também foi secretário de Obras do município. Em 2002 foi eleito deputado federal, sendo reeleito em 2006 e em 2010. Em 2006 se filiou ao DEM, fazendo parte do diretório nacional e do conselho político do movimento jovem da legenda.
Em 2014 foi eleito senador, com 36,26% dos votos válidos. No Senado, presidiu a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) e participou de colegiados como a Comissão Temporária para Reforma do Código Comercial e da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul. Em 2018, foi candidato ao governo do Amapá, mas não se elegeu.
Em 2021, o DEM se fundiu ao PSL, formando o União Brasil. Na eleição de 2022, Alcolumbre foi reeleito senador, com o apoio de 196 mil eleitores.
Além da influência plena no Senado, e do livre trânsito com o governo de ocasião, o candidato favorito ainda mantém pontes com o Judiciário. Ele é próximo, por exemplo, dos ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Flávio Dino. Este último comanda no Supremo Tribunal Federal (STF) investigações sobre o chamado Orçamento Secreto, o esquema de distribuição de emendas que surgiu ainda durante o governo Temer, e se ampliou sob Bolsonaro. Nesse sentido, Dino tem cobrado critérios técnicos e de transparência na aplicação dos recursos de emendas. Ao mesmo tempo, também investiga eventuais desvios na destinação das verbas.
Adversários de Alcolumbre correm por fora
Como azarões, com chances mínimas de avançarem na disputa, também são candidatos os senadores Marcos Pontes (PL-SP), Marcos do Val (Podemos-ES), Eduardo Girão (Novo-CE). A última a entrar na disputa foi senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que apresentou sua candidatura nesta quinta-feira (30). Porém, à exceção de Girão – único representante da sua legenda – os demais competidores não contam nem sequer com o apoio integral dos seus próprios partidos.
O PL, do ex-presidente Bolsonaro, preferiu apoiar Alcolumbre em troca de cargos na Mesa Diretora, em vez de endossar a candidatura de seu ex-ministro, que ficou isolado no partido. Além disso, a ala bolsonarista cultiva a esperança de emplacar, no Senado, a tese da anistia aos golpistas de 8 de janeiro. O candidato favorito, no entanto, não deu qualquer sinalização nesse sentido.
Já no Podemos, que tem seis senadores, metade de bancada também já declarou apoio ao ex-presidente oriundo do Amapá. Portanto, todos os demais candidatos devem apenas fazer figuração na disputa que se desenrola neste sábado, que deve culminar com a quase aclamação de Alcolumbre.
Com informações da Agência Senado