Cinco anos de pandemia de Covid-19: mortes ficam na conta do negacionismo

Há cinco anos, OMS decretava pandemia em razão da Covid-19. A resposta do Brasil, comandado à época por Bolsonaro, não poderia ser pior
cinco-anos-pandemia-covid-mortes-negacionismo-foto-amazonia-real-tvt-news
O Brasil viveu uma sequência de erros e de desdém na pandemia de covid-19. O então presidente, Jair Bolsonaro (PL), abraçou o negacionismo. Foto: Amazônia Real

Há exatos cinco anos, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de Covid-19. O anúncio feito pelo diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus marcou o início de uma nova realidade para a humanidade. Veja como foram esses tempos da Covid-19 com a TVT News

11 de março de 2020, o início da pandemia da Covid-19

O vírus, que teve seus primeiros casos registrados em Wuhan, na China, já havia se espalhado por 114 países, infectando 120 mil pessoas e causando 5 mil mortes. No Brasil, àquela altura, eram apenas 52 casos confirmados. Mas a tragédia sanitária que se desenharia nas semanas e meses seguintes tornaria o país um dos mais afetados do mundo.

O Brasil viveu uma sequência de erros e de desdém. O então presidente, Jair Bolsonaro (PL), abraçou o negacionismo. Durante toda a pandemia, negou a gravidade da doença, estimulou aglomerações, atacou cientistas e medidas de contenção da doença, como uso de máscaras. Ele chegou a ligar vacinas à disseminação de HIV, entre outras mentiras.

Então, de forma messiânica, passou a recomendar de forma intensiva o uso de medicamentos que simplesmente não funcionavam. Cloroquina e Ivermectina, particularmente. Remédios antiparasitários, sem qualquer relação com o combate viral.

Resposta do Brasil

O primeiro óbito por Covid-19 no Brasil ocorreu ainda em março de 2020. A preocupação com a capacidade do sistema de saúde em absorver a alta demanda levou o Ministério da Saúde a recomendar, inicialmente, o isolamento social. No entanto, essa estratégia logo encontrou oposição no próprio governo federal, sob o comando de Bolsonaro.

Desde o início da crise sanitária, Bolsonaro minimizou a gravidade da doença, chamando-a de “gripezinha” e desdenhando das recomendações científicas para conter a disseminação do vírus. Em meio a uma sucessão de trocas no Ministério da Saúde – Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga ocuparam o cargo em menos de um ano –, o governo federal insistiu em medidas ineficazes, como a distribuição do chamado “kit Covid”, composto por medicamentos sem comprovação científica, como a cloroquina.

O Brasil enfrentou um agravamento da pandemia em 2021, ano que registrou o maior número de óbitos. Somente nesse período, mais de 400 mil brasileiros perderam a vida para a Covid-19. A crise foi intensificada pelo atraso na compra e distribuição de vacinas, o que impediu uma resposta mais rápida ao avanço da doença.

CPI da Covid

A condução desastrosa da pandemia levou à instalação da CPI da Covid no Senado, que investigou não apenas a negligência do governo Bolsonaro, mas também suspeitas de corrupção na aquisição de imunizantes e a disseminação deliberada de fake news sobre a pandemia. O relatório final da comissão apontou a responsabilidade do governo federal pelo agravamento da crise e recomendou o indiciamento de 78 pessoas, incluindo Bolsonaro.

O Brasil, que representa menos de 3% da população mundial, acumulou cerca de 10% das mortes globais pela doença. A vacinação, finalmente acelerada em 2021, foi fundamental para reduzir os índices de mortalidade e controlar a pandemia.

Cinco anos depois: os números e o impacto duradouro

Atualmente, o Brasil soma mais de 39 milhões de casos confirmados e ultrapassa as 715 mil mortes. A pandemia deixou marcas profundas, seja na economia, na saúde pública ou na sociedade como um todo. Além das perdas humanas, milhões de brasileiros enfrentam sequelas da doença e o impacto psicológico de uma tragédia sem precedentes.

Cinco anos depois, a lição mais evidente é a importância da ciência, da transparência e de uma liderança responsável para enfrentar crises sanitárias. O negacionismo custou caro ao Brasil, e a história deve lembrar os erros cometidos para que não se repitam no futuro.

covid
Bolsonaro mostra uma cartela de cloroquina para uma Ema. Foto: Redes Sociais

Distanciamento social e a Covid

Um dos pontos mais atacados pelo negacionismo era o do distanciamento social. Mesmo impopular, a redução da mobilidade no período anterior à vacina vem sendo cientificamente ligada à queda no contágio da Covid-19. No caso de São Paulo, essa relação foi evidenciada por um estudo publicado na revista Chaos, conduzido por quatro pesquisadores, incluindo dois professores do Departamento de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Com base na análise de um modelo matemático que considerava dados de mobilidade e fatores meteorológicos, a pesquisa concluiu que o decreto municipal de situação de emergência, implementado em março de 2020, teve um papel “crucial” na diminuição das infecções. Entre as medidas adotadas estavam o fechamento de museus e centros culturais, a suspensão gradual das aulas, o teletrabalho ou férias para servidores públicos e a suspensão de alvarás para eventos públicos.

cinco-anos-de-pandemia-de-covid-19-metro-oxford-street-em-londres-no-reino-unido-durante-o-lockdown-da-covid-19-em-29-de-abril-de-2020-vazio-quando-normalmente-estaria-cheio-de-viajantes-foto-wikimedia-commons-2020-tvt-news
Metrô Oxford Street em Londres, no Reino Unido durante o lockdown da COVID-19 em 29 de abril de 2020: vazio quando normalmente estaria cheio de viajantes. Foto: Wikimedia Commons/2020

Além da redução da mobilidade, os pesquisadores identificaram uma correlação entre o aumento da temperatura e da pressão máximas com o crescimento do número de contágios. Isso ocorre porque condições meteorológicas influenciam o comportamento das pessoas. Em dias mais quentes, por exemplo, a adesão ao “fique em casa” tende a diminuir.

“Nosso trabalho conclui, mais uma vez, pelo papel importante do distanciamento social para o enfrentamento da pandemia”, afirma Marcus Werner Beims, professor na UFPR e líder de um grupo de pesquisa sobre caos, desordem e complexidade em sistemas físicos, em entrevista para a revista da UFPR Ciência. O estudo avança ao integrar três variáveis amplamente investigadas separadamente — mobilidade, tempo e novas infecções — e analisá-las simultaneamente.

A metodologia utilizada no estudo, chamada correlação de distância (distance correlation ou DC), permitiu detectar relações não-lineares entre séries temporais distintas. Assim, os pesquisadores puderam verificar a correlação entre novas infecções, redução de mobilidade e mudanças climáticas dentro de janelas de tempo específicas para cada fator.

Outra contribuição relevante da pesquisa foi a identificação do tempo necessário para que mudanças no comportamento da população refletissem nos números de contágio: um intervalo de oito a 17 dias. Essas informações são valiosas para a formulação de estratégias de saúde pública no combate a doenças infecciosas semelhantes à Covid-19.

“Para um outro vírus que se comporte como a Covid-19, nossos resultados podem ser levados em consideração, sem dúvida. Basta adequar os parâmetros”, destaca Carlos Fábio de Oliveira Mendes, um dos autores do artigo, doutor em Física pela UFPR e professor na Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Com informações da Ciência UFPR

Assuntos Relacionados