Pesquisa do Projeto Brief aponta que Brasil Paralelo, Revista Oeste e Paulo Guedes, ligados à extrema direita, são os três que mais investem em impulsionamento nas redes sociais da Meta, chegando em valores acima de 1,5 milhões de reais. Segundo o levantamento, o conteúdo é desinformativo e pode confundir brasileiros. Entenda na TVT News.
Publicidade na Meta: extrema direta gasta mais de 1 milhão para espalhar desinformar nas redes sociais
No dia 26 de agosto, o Projeto Brief, plataforma com a missão de fortalecer a comunicação progressista no Brasil, apresenta o novo estudo dentro da iniciativa Quem Paga a Banda — referente a investigações sobre o financiamento de campanhas, narrativas e redes de influência. O relatório foi feito a partir dos dados da Biblioteca de Anúncios da Meta.
Esta nova edição apresentará os dez maiores investidores da categoria Sociedade. Não foram considerados partidos políticos, pessoas políticas, ações comerciais de marcas, arrecadações de ONGs e perfis assistencialistas, colocando-se o foco nas narrativas e nos conteúdos impulsionados no primeiro semestre de 2025 (de 1 de janeiro a 28 de junho). O relatório poderá ser acessado no site do Projeto Brief.

O relatório Quem Paga a Banda analisa temas como redefinição de liberdade, catástrofes climáticas exploradas pelas mídias de extrema-direita de forma estratégica, a narrativa coordenada conservadora versus os argumentos fragmentados progressistas e aponta personalidades que buscam comercializar a prosperidade.
O estudo mostra não apenas um retrato dos maiores investidores em anúncios, mas se constitui em um raio-x da disputa cultural e política da opinião pública no país.
Anunciantes | Valor investido (R$) | Volume de anúncios (nº de publicações) | Valor por anúncio (R$) |
Brasil Paralelo | 1.613.410 | 1.320 | 1.222 |
Revista Oeste | 923.778 | 836 | 1.105 |
Paulo Guedes | 624.493 | 54 | 11.565 |
Victor Doné | 469.756 | 16.087 | 29 |
Greenpeace Brasil | 355.999 | 820 | 434 |
GloboNews | 330.022 | 97 | 3.402 |
ICL Notícias | 248.234 | 745 | 333 |
Canal Meio | 237.062 | 191 | 1.241 |
Oxfam Brasil | 221.539 | 663 | 334 |
Brasil Paralelo Select | 150.744 | 78 | 1.933 |
No primeiro semestre de 2025, a Brasil Paralelo, segundo maior anunciante com selo político do Brasil em volume de investimentos, aplicou quatro vezes mais do que o Governo do Estado de São Paulo (R$ 398 mil), segundo apurado pelo Projeto Brief.
Distorção da liberdade pela extrema direita
Esse dado ajuda a revelar quem está por trás do financiamento de novas narrativas. A análise também reflete a disputa política por temas sensíveis como liberdade — seja de expressão, financeira ou política — e mostra como a extrema direita vem patrocinando ideias e discursos que buscam redefinir o significado desse termo.
Os enfoques dados à liberdade são usados de três formas estratégicas pelas mídias. A liberdade de expressão é citada frequentemente e usada para reforçar o título de veículos “independentes”, livres de financiamento público que seria associado à censura. Percebe-se que os maiores investidores utilizam a liberdade de expressão como bandeira, apresentando-se como vítimas de censura, perseguição diante da remoção de conteúdos e suspensão de perfis.
Esse discurso reforça a ideia de que apenas jornalistas e plataformas “independentes” estariam dispostos a enfrentar o sistema. Nota-se que a narrativa da resistência é transformada em negócio com a venda de cursos e documentários com frases de impacto como “informação independente” ou “liberdade de imprensa”.
A liberdade financeira defende formas de garantir liberdade monetária, proteção contra governos autoritários – se referindo ao progressismo – e apoia a sobrevivência financeira com investimentos de Bitcoin como um meio de limitar o poder do governo. Amplamente associada à prosperidade, é vendida em cursos, fórmulas de sucesso e promessas de independência.

O que eles não contam é que esses veículos “independentes” não podem falar mal ou investigar os próprios investidores/donos. Por exemplo, se um banco compra um jornal, ele terá investimento livre do governo, porém se a instituição se envolver em um escândalo de corrupção o jornal não poderá noticiar sob o risco de perder o investimento.
Já a liberdade política é associada à defesa da democracia, mas sob a narrativa de que o Brasil viveria um “estado de exceção”. É usada por jornais e portais conservadores como produto de consumo: assinar veículos “independentes” é apresentado como ato de resistência contra um Estado opressor e uma mídia que assumiu o papel de censor.
Catástrofes como produtos na Meta
O levantamento aponta que catástrofes climáticas são usada pelo campo conservador como produto de engajamento e desinformativo.
A estratégia usada pelos veículos, como Brasil Paralelo e Revista Oeste, é tratar as questões ambientais ou os grupos que sofrem violência por meio de uma questão social que consiste ir a campo entrevistar a população local para dar a sensação de acolhimento e acompanhamento de perto da situação, a fim de vender a ideia de culpabilização e inação do atual governo federal, evidenciando ainda a resistência do povo.
Essa iniciativa pode distorcer a informação e confundir a população sobre a real responsabilidade pelos problemas apresentados, considerando as esferas de governo municipal, estadual e federal.
Além disso, detectou-se que a mídia conservadora investe nesse tipo de conteúdo, que gera engajamento devido ao cunho social e de interesse público, resultando em forte impacto de credibilidade já que apresenta pessoas emitindo suas próprias experiências.
O relatório do Quem Paga a Banda ainda analisa a presença progressista dividida e a coordenação conservadora nas redes da Meta. Enquanto o campo progressista se fragmenta na abordagem de temas de importância para a sociedade, mas sem um fio condutor de comunicação único, que geraria identificação, a extrema-direita atua de forma unificada e coordenada.
As múltiplas causas abordadas pela esquerda — meio ambiente, diversidade, justiça social, trabalho, democracia, saúde — repercutem como convites frios para consumir relatórios ou assinar petições, sem criar aproximação prévia.
E, do lado dos conservadores, o investimento é em narrativas que despertam conexão emocional antecedendo a mobilização com a repetição dos mesmos termos: liberdade, família e fé.
Outro ponto destacado no estudo é o excesso de foco em críticas e denúncias. Progressistas apontam inimigos, mas raramente apresentam soluções e um caminho a seguir. Em contrapartida, a direita, que igualmente escolhe seus adversários, oferece uma promessa clara de ordem, segurança e liberdade. O contraste é nítido: enquanto um lado fragmenta, o outro coordena.
O relatório deixa claro que a disputa comunicacional não é apenas sobre anúncios, e sim sobre o futuro da democracia brasileira. “São investimentos milionários destinados a influenciar como as pessoas percebem o mundo, mas com uma diferença fundamental: de um lado, um campo que entende plenamente o papel da comunicação para a disputa cotidiana da opinião pública, do outro, um campo que usa anúncios de modo essencialmente tático, quase como um recurso auxiliar de campanhas”, afirma Ricardo Borges Martins, coordenador-geral do Projeto Brief.
O ranking também aponta algumas personalidades entre os dez maiores investidores na Biblioteca de Anúncios da Meta. Paulo Guedes, ex-ministro da economia do Brasil durante o governo de Jair Bolsonaro, por exemplo, ocupa a quarta posição em valor investido em campanhas. Aparece como coach financeiro, apostando na legitimidade técnica e econômica por meio de cursos e comparações internacionais para defender menos Estado e mais liberdade de mercado.
Desinformação do Brasil Paralelo
Buscando verificar o tamanho do problema que é ter veículos e personalidades como estes tendo tanto impulsionamento nas redes sociais, a TVT abriu o site do Brasil Paralelo. Uma das primeiras notícias estava com o título: “Governo Lula muda slogan em meio à queda de aprovação”.
Abrimos cientes que diferentes pesquisas eleitorais apontam que a aprovação do governo Lula tem crescido desde o anúncio da taxação pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump. A rejeição tem reduzido na mesma escala.
O pesquisa que sustentou a afirmação no título do Brasil Paralelo foi realizada pelo instituto Paraná e mesmos dados revelam a redução da rejeição e o aumento na aprovação, ainda que pequenos.
O texto publicado pelo Brasil Paralelo mente sobre a taxação no seguinte trecho: “Lula reforçou o discurso de defesa da soberania e fez críticas à política comercial dos Estados Unidos, em especial ao aumento de tarifas anunciado pelo governo Joe Biden.”
Joe Biden não exerce nenhuma função administrativa nos EUA desde que deixou o cargo da presidência em janeiro de 2025 e o republicano Donald Trump assumiu para o segundo mandato. No dia 9 de julho, Trump anunciou a taxação pelo perfil na Truth Social. Você pode ler a carta na íntegra aqui:
Conspirações e venda de cursos
Outro destaque é o do quinto colocado em investimento e primeiro em volume, o influenciador Victor Doné, que segue por outro caminho. Sua estratégia é baseada no volume: sozinho, disparou mais de 16 mil anúncios na Meta em seis meses, uma quantidade 12 vezes maior que o do segundo colocado em investimento, o Brasil Paralelo, e superior à aplicação do próprio Governo de São Paulo no período. Ao todo, foram R$ 469 mil em anúncios pagos, contra R$ 398 mil do governo estadual.
O influenciador Doné investe em narrativas conspiratórias e místicas. Vende o chamado “Código de Deus”, apresentando-o como um segredo milenar acessado apenas pelo 1% mais rico e poderoso. Seus anúncios exploram a frustração popular sobre trabalhar muito e ganhar pouco, mas deslocam a causa da desigualdade do sistema econômico para o campo espiritual. Assim, Doné transforma um problema estrutural em algo de responsabilidade pessoal, afirmando que, se alguém não prospera, é porque ainda não acessou o código.
A plataforma se dedica a produzir análises estratégicas, dados e orientações práticas que ajudam comunicadores, organizações e lideranças a disputar narrativas com mais eficácia no debate público, fortalecendo a comunicação progressista no Brasil.
O trabalho está estruturado em três pilares abordando temas políticos complexos de forma acessível e estratégica, a investigação sobre o financiamento de campanhas, o uso de dados e a construção de discursos capazes de mover a opinião pública. Assim como esse estudo, busca trazer informações que resultem no entendimento da política para que a população a compreenda antes de dar o passo para transformá-la.
Sobre o Projeto Brief
Não é preciso se estender muito para constatar a crescente importância da comunicação online na disputa política. Está, para o bem ou para o mal, na nossa cara, no nosso dedão rolando a tela, nas notificações dos grupos de zap, na batalha de hashtags… enfim, em toda parte e influindo cada vez mais nos rumos do país e do mundo.
O Projeto Brief é uma iniciativa que visa compartilhar inteligência em comunicação para aprimorar narrativas, mapear e antecipar estratégias de comunicação, monitorar investimentos em mídia paga e democratizar o acesso a pesquisas avançadas em comunicação e psicologia social.
O intuito é capacitar atores progressistas para uma comunicação mais assertiva e influente no cenário político atual. Acredita que entender melhor o jogo nos deixa um pouco mais perto de vencê-lo.
Assista entrevista ao vivo que detalha o estudo na TVT News:
Sergio Amadeu, professor associado da Universidade Federal do ABC e pesquisador de redes sociais, aponta que o processo de desinformação em massa é utilizado como uma estratégia política, como exemplo, citou o processo eleitoral à Presidência da República em 2018. Assista: