Votação da isenção do imposto de renda até R$ 5 mil: quais cenários são possíveis?

Proposta do governo Lula pode beneficiar até 20 milhões de trabalhadores, mas enfrenta resistência na taxação dos super-ricos e risco de desequilíbrio fiscal

A proposta de ampliar a faixa de isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais deve chegar ao plenário do Congresso Nacional ainda nesta quarta-feira (1º). A medida, é uma prioridade máxima do governo Lula e vai beneficiar de 14 a 20 milhões de trabalhadores; mas enfrenta o desafio de compensar a perda de arrecadação estimada em R$ 25 bilhões. Entenda na TVT News.

A reforma da tabela do IR, congelada por anos e considerada defasada, busca corrigir o que o governo classifica como “injustiça tributária”. Atualmente, milhões de trabalhadores de renda média-baixa pagam imposto mesmo sem alcançar níveis considerados de classe média em países desenvolvidos.

A nova regra pretende aliviar a carga tributária dessas famílias e, de acordo com técnicos do Ministério da Fazenda, também estimular a economia, já que consumidores de renda mais baixa tendem a gastar a maior parte de seus ganhos. 

O impasse fiscal

O ponto mais delicado da proposta está no financiamento do benefício. Pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), qualquer renúncia de receita deve ser acompanhada de medidas que compensem integralmente a perda.

Para atender a essa exigência, o governo incluiu no Projeto de Lei 1.087/2025 três pilares de arrecadação:

  1. Imposto de renda mínimo para super-ricos: cobrança progressiva para quem ganha mais de R$ 600 mil por ano, chegando a 10% para rendas acima de R$ 1,2 milhão.
  2. Tributação de lucros e dividendos: retenção de 10% na fonte sobre valores mensais acima de R$ 50 mil recebidos por pessoas físicas.
  3. Taxação de lucros remetidos ao exterior: alíquota de 10% sobre transferências internacionais, pondo fim à isenção atual.

Na Câmara, onde o projeto tem como relator o deputado Arthur Lira (PP-AL), a tendência é aprovar a isenção do imposto de renda até R$ 5 mil com apoio quase unânime. O entrave está na votação das compensações, muitas delas para reduzir ou suprimir a taxação dos super-ricos.

O Centrão articula uma estratégia de “aprovar o benefício e deixar a conta para o governo”, enquanto no Senado, há apoio para endurecer a tributação sobre os mais ricos. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) já aprovou um projeto similar, o PL 1.952/2019, como forma de pressionar a Câmara.

Além da questão política, governadores e prefeitos acompanham de perto a votação, já que parte da arrecadação do IR é compartilhada com estados e municípios. Para evitar perdas locais, o texto prevê compensações da União até 2035.

Cenários possíveis

Especialistas apontam três caminhos prováveis para a votação sobre o imposto de renda:

  • Aprovação modificada, com diluição das compensações: considerado o cenário mais provável, o PL garantiria a isenção até R$ 5 mil, mas enfraqueceria a taxação sobre os mais ricos, criando risco de rombo fiscal.
  • Aprovação integral, com todas as medidas compensatórias: atende à Lei de Responsabilidade Fiscal, mas enfrenta risco de judicialização, o que poderia atrasar a arrecadação e gerar insegurança para o governo.
  • Aprovação da isenção sem compensação: o pior cenário para o Executivo, pois abriria um déficit imediato de até R$ 45 bilhões, sem a taxação dos super ricos e colocando em xeque o novo arcabouço fiscal.

A votação vai além do ajuste na tabela do imposto de renda: é também um teste político para o governo Lula. Apesar da isenção de até R$ 5 mil ter grande chance de ser aprovada pelo apoio popular, há o risco de desequilíbrio nas contas públicas. O Congresso, pressionado por diferentes interesses, terá de escolher entre dividir a conta com os super-ricos, assumir o custo fiscal ou encontrar um meio-termo que preserve o impacto social sem comprometer a estabilidade econômica.

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