Cidade de São Paulo bate recorde de feminicídios em 2025

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Estado de São Paulo também registra aumento, com 207 até agora. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A cidade de São Paulo alcançou em 2025 o mais alto número anual de feminicídios desde que o crime passou a ser contabilizado separadamente, em 2015. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), obtidos via Portal da Transparência, apontam 53 casos de feminicídio consumados entre janeiro e outubro — já superando todas as somas de anos anteriores. Leia em TVT News.

O aumento consolida uma trajetória dramática de alta na capital paulistana, desenhada ao longo da série histórica: foram 6 casos em 2015 (início da contagem), 13 em 2016, 26 em 2017, oscilando até 44 em 2019, 40 em 2020, 33 em 2021, 41 em 2022, 38 em 2023, 51 em 2024 — até os 53 de 2025.

Série histórica e a escalada da violência

A estatística revela um salto expressivo: os 53 feminicídios registrados até outubro deste ano já superam o total de todo ano passado. Mesmo sem incluir os meses finais de 2025 — novembro e dezembro —, o recorde está praticamente selado.

Em relação ao primeiro semestre de 2025, o número de 29 casos já marcava o maior patamar para o período desde a tipificação do crime como feminicídio — e já indicava o alerta para a escalada que culminou na cifra atual.

Paralelamente, o estado de São Paulo também registra aumento. Segundo a SSP-SP, foram 207 feminicídios registradas entre janeiro e outubro em todo o estado, ante 191 no mesmo período de 2024 — um acréscimo de cerca de 8%. Dessas, 101 ocorreram no interior, 40 na região metropolitana e 53 na capital.

O que dizem os dados — e os casos recentes

A tipificação do feminicídio como crime autônomo desde 2015 permitiu que mortes de mulheres por violência de gênero fossem registradas com precisão, separadas dos homicídios comuns. A lei define como feminicídio homicídios de mulheres em contexto de violência doméstica, familiar ou motivados por menosprezo ou discriminação de gênero.

Mas os números atuais expõem que, mesmo com a legislação vigente, a violência contra a mulher segue numa curva ascendente. Em 2025, além do elevado número de casos consumados, há uma sequência de episódios brutais e recentes na capital. Apenas no fim de novembro e início de dezembro, dois casos chamaram atenção:

  • Uma mulher de 31 anos foi atropelada e arrastada por um carro na Marginal Tietê, na zona Norte da capital. O motorista — suspeito de feminicídio — foi preso. A vítima, que teve as duas pernas amputadas, permanece internada em estado grave.
  • Em outro episódio, um homem disparou pelo menos seis vezes contra sua ex-companheira dentro de uma pastelaria onde ela trabalhava, em São Paulo. A Polícia Civil já solicitou prisão temporária do agressor.

Esses casos ilustram que, por trás dos números, há vidas destruídas, corpos violados e famílias marcadas para sempre — muitas vezes com testemunhas e filhos das vítimas.

Por que o recorde? Análise e contexto

Especialistas alertam que o salto nos registros de feminicídio não pode ser explicado apenas pelo aumento da violência de gênero. Parte do crescimento pode decorrer da consolidação da tipificação legal e da ampliação da capacidade de registro e tipificação correta desses crimes com perspectiva de gênero.

Segundo a coordenadora de um laboratório de pesquisa sobre feminicídios, o fato de o crime ser considerado hediondo e estar sob legislação específica aumentou a atenção das autoridades para mortes violentas de mulheres — o que, paradoxalmente, pode revelar melhor o problema que já existia.

Ainda assim, alertam, não se trata apenas de registro. A escalada indica uma realidade estrutural: misoginia, desigualdade de gênero, falhas nas redes de proteção, insuficiência de políticas públicas integradas e de prevenção. A luta contra o feminicídio exige ação conjunta de segurança, justiça, assistência social, saúde, habitação e educação — não basta tipificar, é preciso transformar.

O desafio para 2026 e o papel da sociedade

O risco é que 2025 se consolide como o pior ano da capital desde o início da contagem — e que essa escalada continue em 2026. Se por um lado algumas políticas de proteção feminina avançaram, como a ampliação de delegacias especializadas e programas de acolhimento, por outro o aumento dos femicídios denuncia falhas graves: em prevenção, resposta, responsabilização e — sobretudo — na mudança cultural necessária.

É urgente um debate público intenso, que não trate apenas dos casos mais chocantes, mas das causas estruturais: violência doméstica, desigualdade, precarização econômica, discriminação de gênero. E uma mobilização coletiva para que mais do que contabilizar mortes, se invista em políticas de vida, dignidade e segurança para todas as mulheres.

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