Alessandro Vieira critica tentativa de retrocesso na Lei da Ficha Limpa

Parlamentar elogia veto de Lula a trechos que reduziam punições na Lei da Ficha Limpa e aponta riscos da Pec da Blindagem
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Vieira fala em "batalha permanente" contra a impunidade no Congresso. Foto: Reprodução

O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) defendeu a importância da ética na política e elogiou a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vetar trechos do projeto que alterava a Lei da Ficha Limpa. Em entrevista ao Jornal TVT News Primeira Edição, o parlamentar afirmou que o veto representa um freio a mais uma tentativa de retrocesso no combate à corrupção.

“Eu votei contra essa alteração na Ficha Limpa aqui no Senado da República. Acho que foi bem o presidente em fazer esse veto. Melhor seria se tivesse vetado na integralidade”, afirmou Vieira. Para o senador, há uma disputa permanente entre “determinados grupos muito poderosos” que buscam ampliar a impunidade e a sociedade civil que pressiona por integridade: “É uma batalha permanente e a cada vez que a sociedade consegue se conectar com a pauta e cobrar, aumenta muito as nossas chances de sucesso aqui em Brasília”.

A entrevista ocorreu em meio às discussões sobre a chamada PEC da Blindagem — criticada por amplos setores da sociedade e que, segundo Vieira, significaria um grave enfraquecimento dos instrumentos de responsabilização política. O senador destacou que conseguiu articular resistências dentro do Congresso para impedir sua aprovação. “Nós vivemos um momento de polarização, de cristalização de imagens e pensamentos. Isso deixa apenas uma margem, no máximo 5% do eleitorado, disposta a mudar de voto. Essa faixa deu vitória a Bolsonaro em 2018 e a Lula em 2022, e estará em disputa novamente”, avaliou.

Para ele, os erros recentes do bolsonarismo e do centrão, que incluíram “abraçar a PEC da Blindagem” e adotar medidas impopulares, reforçam a posição do governo Lula: “Esse conjunto de erros leva essa massa novamente para os braços do grupo capitaneado pelo presidente Lula”.

Senado como “adulto na sala”

Vieira também comentou sobre a necessidade de o Senado manter seu papel de equilíbrio diante de pautas polêmicas e, muitas vezes, oportunistas. “O papel do Senado, que está na Constituição, é justamente ser o, entre aspas, adulto na sala. Mas o fato é que temos pautas que ficam na fila por anos, enquanto devaneios ideológicos ou brechas para a corrupção furam a fila e avançam”, criticou.

O senador admitiu o desgaste da luta contra retrocessos no Congresso, mas defendeu que a mobilização social é decisiva. “Quando a população é bem informada, quando a pauta é relevante e você consegue mobilizar, acaba empoderando os bons políticos. Eles ganham mais força para o enfrentamento e o convencimento de plenário”, disse.

Ele citou como exemplo o ECA Digital, de sua autoria, sancionado recentemente pelo presidente Lula após aprovação no Congresso. O projeto, que cria mecanismos de proteção para crianças e adolescentes no ambiente digital, contou com apoio de parlamentares de diferentes espectros, como a senadora Damares Alves (Republicanos-DF). “Foi um processo longo para enfrentar as big techs. E tive aqui uma ajuda muito grande da senadora Damares, que é bolsonarista, mas se conecta com pautas de defesa à criança”, relatou.

Além da Ficha Limpa, pautas sociais e econômicas

Na entrevista, Vieira também tratou da discussão sobre a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais. Ele ressaltou que o Senado agiu de forma estratégica ao aprovar projeto terminativo que atende à demanda, evitando que o tema fosse usado como barganha política. “O Senado fez um movimento político muito inteligente. Tirou essa possibilidade que estava sendo exercida por alguns deputados de usar essa pauta necessária e positiva como mecanismo de ameaça e distorção para obter vantagens junto ao governo federal”, afirmou.

Para o senador, a medida é fundamental para milhões de brasileiros: “Não é crível, ainda mais às vésperas de uma eleição, que você tenha parlamentares contrários à isenção até R$ 5 mil, compensada por aumento de tributação sobre as faixas mais altas”.

Olhar para 2026

Questionado sobre as eleições de 2026, quando estarão em disputa dois terços das cadeiras do Senado, Vieira alertou para a necessidade de candidaturas sólidas e de alianças amplas. “É preciso colocar os interesses do Brasil acima dos interesses partidários ou pessoais. Se no estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a esquerda optar por duas candidaturas competitivas, como parece ser o caso de Benedita e Molon, o resultado vai ser a derrota para a direita”, avaliou.

Segundo o parlamentar, o desafio é superar a fragmentação e buscar consensos em torno de critérios claros: “A honestidade, a qualidade técnica e o desejo de reduzir desigualdades. Qualquer pessoa honesta e qualificada reconhece que o Brasil precisa reduzir desigualdades”.

Vieira recordou sua entrada na política em 2018, quando foi eleito com a bandeira do combate à corrupção. “Entrei pela pauta do combate à corrupção, mas tentei aprender rápido como as coisas funcionam. É muito difícil compatibilizar os egos e as vontades, mas os votos decisivos não estão nos extremos. Estão nas pessoas que buscam perfis e entregas concretas”, concluiu.

Com a defesa de uma atuação ética, a valorização do papel institucional do Senado e a necessidade de diálogo com a sociedade, Alessandro Vieira reafirmou a centralidade da luta contra a corrupção como condição para fortalecer a democracia brasileira.

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