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Da Redação
Venezuela nega ataque dos EUA em Maracaibo e atribui explosão a incidente controlado
A empresa venezuelana Primazol desmentiu informações que circularam nas redes sociais e em declarações de autoridades norte-americanas sobre um suposto ataque dos Estados Unidos às suas instalações em Maracaibo, no estado de Zulia. Segundo a companhia, o episódio registrado na madrugada de 24 de dezembro foi um incidente operacional, rapidamente controlado, sem vítimas ou danos pessoais. Entenda na TVT News.
Em comunicado oficial, a Primazol, distribuidora de matéria-prima e insumos químicos, o evento ocorreu em uma de suas plantas e foi prontamente atendido por equipes internas da empresa, em conjunto com o Corpo de Bombeiros. Os protocolos de segurança foram acionados e a situação foi controlada ainda na madrugada. A empresa afirmou que, atualmente, coordena com as autoridades locais os trabalhos de limpeza e avaliação da área afetada.
“Aclaramos com responsabilidade que as afirmações que circulam não têm relação alguma com o incidente ocorrido e não correspondem a informação oficial nem verificada”, declarou a Primazol em um segundo comunicado. A empresa também afirmou que as versões difundidas buscam “afetar o prestígio do fundador e da organização” e reforçou seu compromisso com a segurança dos trabalhadores, o respeito à comunidade local e o cumprimento de suas responsabilidades corporativas.
EUA atrás do petróleo
A manifestação da empresa venezuelana ocorre após declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que afirmou que forças americanas teriam realizado um ataque em território venezuelano contra uma suposta estrutura ligada ao narcotráfico. Segundo Trump, o alvo teria sido uma zona costeira usada para o carregamento de embarcações com drogas.
Mesmo sem provas da ligação estatal venezuelana com o tráfico de drogas, Trump vem utilizando desta justificativa para atacar embarcações no Mar do Caribe. Inclusive, parte destes ataques resultaram em atos de pirataria, quando os Estados Unidos roubaram dois cargueiros venezuelanos carregados de petróleo.
O que diz Trump
“Houve uma grande explosão na área de um cais onde carregam as embarcações com drogas. Atacamos todas as embarcações e agora atacamos a zona… e ela não existe mais”, disse o presidente norte-americano a jornalistas. Em outras declarações recentes, Trump mencionou a destruição de “uma grande instalação” ligada ao narcotráfico, sem informar o local exato nem esclarecer se a ação teria sido conduzida por forças militares ou pela agência de inteligência CIA.
As declarações, no entanto, não foram acompanhadas de provas, coordenadas geográficas ou confirmação independente, tampouco houve identificação oficial do suposto alvo. Autoridades venezuelanas, por sua vez, não reconheceram qualquer operação militar estrangeira em Maracaibo ou na região de Zulia nos últimos dias.
Informações não verificadas na Venezuela
No comunicado mais recente, a Primazol enfatizou que as informações divulgadas em plataformas digitais carecem de verificação e não correspondem a dados oficiais. A empresa reforçou que o incidente ocorrido em suas instalações foi de natureza interna e industrial, sem relação com ações militares ou conflitos internacionais.
Ao reafirmar seu compromisso com o desenvolvimento industrial do país, a companhia destacou que mantém cooperação com as autoridades competentes para a apuração técnica do ocorrido, rechaçando qualquer tentativa de associar o episódio a operações estrangeiras ou atividades ilícitas.
Até o momento, não há confirmação independente de que o incidente em Maracaibo mencionado pela Primazol tenha qualquer vínculo com as declarações do presidente dos Estados Unidos.
EUA fazem primeiro ataque por terra na Venezuela
Donald Trump disse nesta segunda-feira (29) que os Estados Unidos atacaram e destruíram uma zona de atraque de embarcações na Venezuela supostamente usada pelo narcotráfico, o que seria o primeiro ataque em terra desde o lançamento da campanha militar contra o narcotráfico na América Latina.
“Houve uma grande explosão na área de um cais onde carregam as embarcações com drogas”, disse o presidente americano aos jornalistas. “Atacamos todas as embarcações e agora atacamos a zona [de atraque]… e já não existe”, acrescentou.
“Estava na costa”, disse, sem detalhar se era uma operação militar ou da agência de inteligência CIA, nem onde aconteceu o ataque.


Palm Beach, Estados Unidos, com informações da AFP
EUA apreendem petroleiros da Venezuela

Foi a segunda vez em duas semanas que as forças americanas interceptaram um petroleiro na região, e ocorre dias depois de o presidente Donald Trump anunciar um bloqueio a “navios petrolíferos sancionados” que se dirigem à Venezuela e dela saem. (Foto: Divulgação / Conta do LinkedIn da Secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem / AFP)
© Agence France-Presse
Fake news: é falso que transações acima de R$ 5 mil serão taxadas
A Presidência da República, por meio da Receita Federal, divulgou nota oficial para desmentir informações falsas, fake news, disseminadas nas redes sociais por setores da extrema direita bolsonarista sobre a criação de um suposto imposto incidente sobre movimentações financeiras acima de R$ 5 mil, inclusive por meio do PIX. Segundo o governo federal, a alegação é “completamente falsa” e não encontra qualquer respaldo jurídico ou legislativo. Entenda na TVT News.
“Não existe, nem está prevista, a instituição de imposto incidente sobre movimentações financeiras acima de R$ 5 mil, inclusive aquelas realizadas por meio do PIX”, afirma a nota. O texto reforça que o governo Lula “não criou, não propôs e não debate qualquer medida que preveja a tributação de transferências, pagamentos ou recebimentos com base no valor movimentado”.
Não há proposta no Congresso
A Presidência também esclarece que a criação ou alteração de tributos depende, obrigatoriamente, da aprovação de projeto de lei pelo Congresso Nacional. De acordo com o governo, “não há qualquer proposta com esse teor em tramitação na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal, tampouco debate legislativo sobre a adoção dessa medida”.
No comunicado, o Executivo destaca que nem mesmo no contexto da reforma tributária existe qualquer discussão sobre taxação de movimentações financeiras, desmontando narrativas que tentam associar o tema às mudanças recentes no sistema de impostos.
Imposto de Renda não incide sobre transações
Outro ponto central das fake news combatidas pela nota diz respeito ao Imposto de Renda. A Presidência é categórica ao afirmar que o tributo “incide exclusivamente sobre a renda auferida, conforme critérios definidos em lei, e não sobre operações financeiras, transferências bancárias ou meios de pagamento, independentemente do valor envolvido”.
A Receita Federal, citada no comunicado, reforça que a Constituição Federal “proíbe a tributação de movimentações financeiras” e que esse tipo de imposto “não existe e nunca irá existir nos termos da Constituição atual”.
Mentiras sobre alíquotas e multas
A nota também rebate boatos específicos que circularam nas redes sociais, incluindo a falsa informação de que haveria uma tributação de 27,5% sobre transações financeiras. “Não existe nenhuma tributação de 27,5% em transações, é completamente falso”, afirma a Receita Federal.
Outro ponto desmentido é a suposta aplicação de multa de 150% por falta de declaração. Segundo o órgão, “também é mentira que exista qualquer multa de 150% por falta de declaração”, reiterando que “não existe tributação por movimentação financeira”.
Isenção ampliada a partir de 2026
Ao final da nota, a Receita Federal destaca mudanças reais e já anunciadas na política tributária, em sentido oposto ao que afirmam as fake news. A partir de janeiro de 2026, rendimentos de até R$ 5 mil mensais estarão integralmente isentos do Imposto de Renda. Já quem recebe até R$ 7.350 contará com redução da carga tributária.
Alerta contra fake news
O governo orienta a população a buscar informações exclusivamente em canais institucionais e a desconsiderar conteúdos não oficiais ou de origem duvidosa. A Receita Federal ressalta ainda que “disseminar mentiras, fake news e pânico financeiro interessa apenas a criminosos”, em referência ao uso político e econômico da desinformação.
A nota se soma a uma série de desmentidos recentes do governo federal diante da intensificação de campanhas de fake news nas redes sociais, especialmente envolvendo temas sensíveis como impostos, economia e políticas públicas.
Desigualdade climatica: Paraisópolis registra 15°C a mais do que Morumbi durante o verão em SP
Um estudo do Centro de Estudos da Favela (Cefavela), da Universidade Federal do ABC (UFABC), mostrou que as mudanças climáticas acentuam as desigualdades na capital paulista. As altas temperaturas revelam mais uma dimensão da crise habitacional da cidade, atingindo sobretudo os locais em que a situação já era estruturalmente mais precária e vulnerável.
Confira na TVT News.
No último verão, entre o final de 2024 e início de 2025, a favela de Paraisópolis registrou temperaturas de superfícies – como telhados, ruas e solo – de até 45°C. Enquanto isso, no Morumbi, bairro vizinho considerado de alto padrão econômico, foram registradas médias em torno de 30°C.
Os pesquisadores utilizaram dados de 19 imagens termais de um satélite de observação da Terra, referentes ao período de dezembro de 2024 a fevereiro de 2025. As imagens medem a temperatura das superfícies, portanto, os valores obtidos são mais altos do que a temperatura do ar.
Pesquisador do Cefavela, Victor Fernandez Nascimento afirmou que 30 °C já é um valor absurdamente alto. “Nessa temperatura, aumenta em 50% os riscos de problemas de saúde, principalmente para aquelas pessoas que são mais vulneráveis, como bebês, idosos e [portadores de] alguns tipos de doenças”, disse.
“Além desses aspectos biológicos, um dos fatores que influencia bastante [na vulnerabilidade ao calor] são os aspectos sociais. Normalmente as regiões mais pobres do município de São Paulo são aquelas mais vulneráveis a sofrer com as os efeitos de ondas e ilhas de calor. Isso leva a vários problemas, como aumento do número de infartos”, acrescentou o pesquisador.
Ele explicou que os problemas de saúde causados pelas ondas e ilhas de calor são chamados silent killers ou assassinos silenciosos. “Morrem no Brasil hoje 21 vezes mais pessoas por doenças causadas por aumento da temperatura e ilhas de calor do que por desastres como o deslizamento de terra”, alertou.
Desigualdade climática
Condições como a morfologia do terreno e a disposição de estruturas pela cidade influenciam diretamente as diferenças nas temperaturas entre territórios tão próximos. “Esse fator [morfológico] é fortemente explicado pela falta ou abundância de vegetação nos bairros. Quanto mais arborizado o bairro for, mais amena costuma ser a temperatura”, mencionou Nascimento.
O intenso adensamento nas favelas é um elemento que também impacta nas temperaturas mais altas, registradas pelo estudo. Em Heliópolis, outra favela paulistana entre as mais populosas, os registros ficaram acima de 44 °C nos dias mais quentes.
Os pesquisadores destacam que é importante sensibilizar a sociedade para o fato de que o calor não se trata apenas de um fenômeno meteorológico, mas resultado também do planejamento territorial. Para diminuir o impacto das altas temperaturas na cidade, Nascimento avalia que seria necessário uma combinação de ações em diferentes escalas.
“Podemos pensar, por exemplo, na escala da cidade, atualizando a questão do plano diretor, favorecendo a arborização urbana, construções de jardins de chuva, melhorar a drenagem como um todo”, disse.
Considerando as áreas de assentamentos e favelas, a mitigação de danos inclui aumentar a quantidade de jardins coletivos e hortas urbanas, além de melhorar a questão da ventilação cruzada. “Como são construções muito adensadas, uma grudada na outra, aquela ventilação cruzada que traria um pouquinho mais de frescor, acaba não acontecendo, o que aumenta ainda mais o desconforto térmico dentro das residências”, apontou.
O eclipse da ciência americana
Artigo de Celso P. de Melo, professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco. Leia na TVT News
“Quaisquer que sejam nossos desejos, inclinações ou paixões, nada disso altera o estado dos fatos e das evidências”. A advertência feita por John Adams, em 1770, ao defender soldados britânicos acusados de matar civis em Boston, ecoa como manifesto contra o obscurantismo. Ele assumiu a causa mais impopular de sua época porque acreditava que razão e Estado de Direito não podem ceder à histeria. Era esse o espírito iluminista que moldaria a jovem democracia americana: a separação entre Igreja e Estado, o primado da razão e a legitimidade do questionamento – inclusive da autoridade – tornaram-se pilares da república e do que hoje chamamos de método científico.
Esse legado iluminista se materializou, no século XX, em políticas de Estado que reconheceram a ciência como infraestrutura estratégica da democracia e do desenvolvimento. A autonomia universitária, o financiamento público estável, a proteção a servidores técnicos e a separação entre evidência científica e decisão partidária não eram acidentes: eram escolhas conscientes, herdadas da convicção de que fatos não se submetem à vontade política. O sistema científico americano floresceu porque foi institucionalmente blindado contra dogmas, inclusive os do poder.
Ao longo do século XX, os EUA colheram os frutos dessa arquitetura intelectual. Suas universidades tornaram-se referência mundial – Harvard, MIT, Stanford, Caltech, Berkeley – e seus laboratórios atraíram talentos de todos os continentes. A política de imigração voltada para pesquisadores e estudantes estrangeiros foi decisiva para esse avanço. O país atraiu gerações de imigrantes altamente qualificados que moldaram a face do século: o Projeto Manhattan, os semicondutores, a informática, a biotecnologia, o sequenciamento genético. Não por acaso, cerca de 40% de todos os Prêmios Nobel de ciência foram concedidos a pesquisadores baseados nos EUA – um terço deles não nascidos no país.
De Einstein e von Neumann à Karikó e Schally, passando por Fermi, Yang e Lee, a ciência americana foi, em larga medida, obra de imigrantes que reinventaram áreas como física, medicina, biologia e computação, encontrando no país um terreno fértil para pensar e criar. Essa combinação de liberdade intelectual, diversidade e recursos alçou os EUA à liderança científica mundial, em um impulso que transformou a academia e a própria geopolítica. O século americano foi também o século da ciência americana.
Hoje, porém, esse fluxo se inverte. Entre 2016 e 2021, os novos vistos estudantis caíram mais de 40%, e programas de pós-graduação nas áreas de exatas e engenharia registraram a menor proporção de doutorandos internacionais em duas décadas. A hostilidade crescente do governo a pesquisadores e estudantes estrangeiros agrava o quadro: universidades relatam dificuldade para atrair e reter talentos diante de políticas migratórias restritivas e de um clima político adverso. A evasão de cérebros tornou-se preocupação real, sobretudo em computação, engenharia, biomedicina e matemática.
O impacto dessa retração vai além da academia. A perda de liderança científica compromete diretamente a competitividade econômica dos Estados Unidos, ao enfraquecer cadeias de inovação que conectam pesquisa básica, desenvolvimento tecnológico e produção industrial. Setores estratégicos – como semicondutores, biotecnologia, inteligência artificial e energias limpas – dependem de universidades fortes, financiamento estável e circulação internacional de talentos. Ao minar esses pilares, o país fragiliza sua capacidade de responder a desafios globais como a transição climática e futuras pandemias.
Quando ciência vira alvo, o prejuízo aparece em duas escalas ao mesmo tempo: no cotidiano (saúde, escola, clima) e na estratégia (inovação, padrões tecnológicos, poder internacional). Mas esse movimento não ocorre no vácuo: integra um projeto político que vem reconfigurando o Estado. Um edifício antes sólido começa a ruir – e não por acaso, mas por escolhas deliberadas. Uma nova direita radicalizada, que combina neoconservadorismo, fundamentalismo religioso e um ecossistema digital inflamado, busca redesenhar o Estado segundo uma lógica abertamente ideológica.
O Project 2025, manual de um eventual segundo governo Trump, e o Project Esther, de matriz teocrática, defendem a eliminação do Departamento de Educação, a submissão de agências reguladoras – da proteção ambiental à saúde pública – e até da NOAA, responsável por previsões climáticas e segurança meteorológica, ao controle político direto, além da substituição de servidores de carreira por “quadros leais”. O Project 2025, elaborado por think tanks ligados à Heritage Foundation, propõe a reestruturação do Executivo para concentrar poder na Presidência, desmontar o Estado técnico e subordinar a produção de dados e evidências científicas a critérios ideológicos. Já o Project Esther articula grupos religiosos fundamentalistas que defendem a substituição de currículos laicos por conteúdos alinhados ao cristianismo conservador, rejeitando explicitamente o ensino da evolução, da educação sexual e da ciência climática.
Essa guinada foi viabilizada pela retomada de dispositivos normativos que permitem recategorizar servidores e demiti-los sem proteção legal, abrindo espaço para um Estado partidário em lugar do Estado ancorado em expertise técnica. O precedente é claro: em 2019, a Casa Branca pressionou a NOAA a endossar uma afirmação falsa do Presidente Trump sobre a trajetória do furacão Dorian, resultando na censura de seus próprios meteorologistas.
Esse projeto político vem acompanhado de uma onda de proibições de livros – dezenas de milhares de casos de banimento em escolas públicas desde 2021 – e de perseguições a professores por ensinarem evolução, história da escravidão ou mudanças climáticas. Em vários estados, currículos de ciências foram reescritos para minimizar o aquecimento global ou omitir o papel humano nas emissões. Trata-se de um ataque frontal ao que restava de consenso científico na educação pública. Ao mesmo tempo, universidades relatam crescente intimidação política e retração de liberdades acadêmicas – especialmente em cursos de ciências sociais, clima, saúde pública e raça.
O conflito com a ciência, que nunca esteve ausente da vida política americana –em 1925, o ensino da evolução chegou a ser levado aos tribunais – encontrou na internet uma máquina de amplificação. Hoje, negar o aquecimento global tornou-se política pública em estados governados por trumpistas. O slogan “Drill, baby, drill” virou mantra energético: exaltar combustíveis fósseis como patriotismo e tratar regulações ambientais como ameaça à liberdade. A retirada do país do Acordo de Paris foi a face externa de um movimento interno ainda mais profundo.
A pandemia de COVID-19 funcionou como prova de estresse: quando evidências viram bandeiras partidárias, a resposta pública perde coordenação e confiança. A erosão institucional que começou ali não se dissipou; migrou para vacinas de rotina, para a vigilância epidemiológica e para a credibilidade das agências reguladoras. No campo da saúde, o movimento antivacina vinha ganhando força há anos, impulsionado por figuras como Robert F. Kennedy Jr. – um dos maiores propagadores de desinformação sobre o tema. Esse avanço encontrou seu ponto de inflexão quando, em fevereiro de 2025, Kennedy passou a ocupar posição central na condução da política federal de saúde, com influência direta sobre as agências reguladoras do setor. Sua nomeação deu ao negacionismo uma institucionalidade inédita: o discurso antivacina deixou de ser marginal. Os efeitos de longo prazo desse movimento já eram visíveis antes mesmo da posse. Em 2024, os EUA registraram mais de 1.300 casos de sarampo – o maior número em trinta anos – concentrados sobretudo entre crianças não vacinadas. Doenças antes eliminadas voltaram a circular com a queda persistente da cobertura vacinal.
Enquanto isso, a alt-right – um conjunto heterogêneo que vai de libertários radicais a supremacistas e influenciadores hiperativos – trava uma guerra contra energias renováveis, direitos civis, políticas de diversidade e pesquisas sobre desigualdades raciais. Relatórios ambientais desapareceram de sites oficiais; dados foram adulterados; estudos sobre violência policial foram censurados. O objetivo permanece o mesmo: substituir ciência por ideologia.
A erosão institucional encontra seu complemento na erosão moral. A advertência de Benjamin Franklin – “Quem abre mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merece nem liberdade nem segurança” – nunca foi tão atual. Se na ocasião ele denunciava a troca de autonomia institucional por conveniência política, hoje o paralelo é evidente: ao submeter agências técnicas ao controle ideológico e transformar servidores de carreira em peças descartáveis, o trumpismo sacrifica liberdades estruturantes em troca de segurança ilusória. Para o cidadão comum, isso significa menos proteção ambiental, menos segurança sanitária e escolas mais vulneráveis. Na prática, isso se traduz em alertas meteorológicos menos confiáveis em eventos extremos; em decisões locais de saúde pública mais expostas à pressão política; e em salas de aula onde temas básicos – evolução, vacinas, clima – deixam de ser ciência para virar “opinião”. O custo não é abstrato: é tempo de resposta, vidas e dinheiro público gasto para remediar o que poderia ser prevenido.
O paradoxo é gritante: a ciência que impulsionou a inovação, a prosperidade e a projeção global dos Estados Unidos passou a ser tratada como obstáculo quando suas conclusões entram em conflito com agendas políticas, interesses econômicos de curto prazo ou dogmas ideológicos. A mesma nação que levou o homem à Lua, inventou a computação moderna e acolheu refugiados intelectuais agora tolera perseguição a bibliotecas, obscurantismo na academia e desinformação sancionada por autoridades. Democracias não se rompem apenas por golpes; quebram-se por dentro, quando abandonam seus fundamentos. E nenhum fundamento foi mais central para o projeto americano do que o compromisso público com a razão.
O resto do mundo observa – e não sem inquietação. Uma ciência americana fragilizada não significa apenas um retrocesso doméstico: significa a perda de um contrapeso essencial na arquitetura global de conhecimento, inovação e democracia. Sem a liderança científica dos EUA, a balança moral e estratégica do Ocidente se desequilibra, abrindo espaço para aventuras autoritárias e para uma nova era de instabilidade internacional.
China e União Europeia, por vias institucionais distintas, tendem a reagir de maneiras diferentes, mas convergentes no efeito: ampliar investimento em pesquisa estratégica, atrair talentos e disputar a definição de padrões tecnológicos. Em áreas como IA, biotecnologia, semicondutores e transição energética, liderança científica não é prestígio – é poder de mercado, cadeias produtivas e capacidade regulatória. Se os EUA recuam, outros avançam e passam a ditar normas, plataformas e prioridades globais.
A história mostra que a ciência sempre perde quando é subjugada à doutrina. O lysenkoísmo na União Soviética, ao sacrificar a genética em nome de uma ortodoxia política, ilustra como a interferência ideológica pode impor atrasos científicos duradouros. Em contraste, como mostrado nas respostas diferenciadas durante a recente pandemia, países que reforçaram a autonomia científica após grandes crises colheram ganhos institucionais e tecnológicos consistentes. A questão que se coloca aos Estados Unidos não é se erraram, mas se ainda estão dispostos a corrigir o rumo antes que o dano se torne estrutural. O Iluminismo americano apostava que sociedades guiadas por fatos, e não por dogmas, produziriam liberdade e prosperidade; essa promessa hoje está sob ataque. Nenhuma democracia resiste quando a ignorância se converte em política de Estado.
*O artigo expressa exclusivamente a opinião do autor / Publicado orginalmente no Jornal da Ciência
Novidade? Mercado reduz previsão de inflação em 2025
O mercado financeiro prevê que o ano de 2025 fechará com uma inflação de 4,32%, resultado abaixo do teto da meta. Com relação ao crescimento do país, manteve a expectativa da semana com o Produto Interno Bruto (PIB) em 2,26%.
Trata-se de mais um “erro” dos especialistas do mercado em relação à economia brasileira.
Confira na TVT News.
Por se tratar do último mês do ano, quando os números se apresentam praticamente consolidados, o Boletim Focus, produzido pelo Banco Central, após consultar o mercado financeiro, não apresentou, nesta segunda-feira (29), em Brasília, projeções para a taxa básica de juros – a Selic. Ela está em 15% ao ano.
A taxa básica de juros situa-se no maior nível desde julho de 2006, quando estava em 15,25% ao ano. Após chegar a 10,5% ao ano em maio do ano passado, a taxa começou a ser elevada em setembro de 2024. A Selic chegou a 15% ao ano na reunião de junho, sendo mantida nesse nível desde então.
Inflação
As variações foram mínimas tanto para a inflação como para o câmbio. No caso do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, a inflação oficial do país), o mercado financeiro reduziu as expectativas pela sétima semana consecutiva. Há uma semana, a previsão estava em 4,33%; e há quatro semanas, em 4,43%.
Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para 2025 é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5%, e o superior, 4,5% (acima, portanto, do resultado estimado, de 4,32%)
Em novembro, a alta no preço das passagens aéreas fez a inflação chegar a 0,18%. Em outubro, o IPCA havia sido de 0,09%. Com o resultado, a inflação acumulada em 12 meses é 4,46%, também dentro da meta do Conselho Monetário Nacional – CMN.
Para 2026, a expectativa do mercado financeiro é de que o IPCA fique em 4,05%; e para 2027 é de que o índice seja de 3,8%.
Câmbio e PIB
No caso do câmbio, o mercado projeta que o dólar feche o ano cotado a R$ 5,44, projeção ligeiramente maior que a da semana passada que estava em R$ 5,43; e inferior à projeção apresentada há quatro semanas, que estimava o dólar cotado em R$ 5,40.
Com relação ao PIB, estável segundo as expectativas do mercado em 2,26%, o Boletim Focus manteve também as estimativas anteriores para 2026, com um crescimento projetado de 1,80% – mesma projeção para 2027.
Puxada pelas expansões dos serviços e da indústria no segundo trimestre deste ano, a economia brasileira cresceu 0,4%. Em 2024, o PIB fechou com alta de 3,4%. O resultado representa o quarto ano seguido de crescimento, sendo a maior expansão desde 2021, quando o PIB alcançou 4,8%.

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A Receita paga o lote da malha fina, além de valores do FGTS retiros pelo saque-aniversário. Lote também contempla restituições residuais
