Votação da dosimetria foi retaliação por não pagamento de emendas, diz O Globo

Vídeo obtido pelo jornal flagrou parlamentares comentando a votação do projeto e cassação de deputados como moeda de troca
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Motta já havia reclamando publicamente do ritmo de liberação de emendas. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

A decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), pautar o PL da Dosimetria, que beneficia golpistas condenados com a redução de penas, foi uma retaliação pelo não pagamento de emendas. O jornal O Globo flagou uma conversa em que parlamentares governistas conversam sobre cobranças da oposição para destravar os recursos. Entenda em TVT News.

Antes do PL da Dosimetria ser aprovado às 2h26 desta quarta-feira (10), Motta se reuniu com líderes para anunciar a votação da proposta. O jornal O Globo flagrou uma conversa entre Leo Prates (PDT-BA), Mauro Benevides (PDT-CE) e Leônidas Cristino (PDT-CE), que estiveram presentes no encontro, e relatam cobranças da oposição para que emendas fossem liberadas. Outros dois parlamentares participam da conversa e não foram identificados pela reportagem.

No vídeo, os deputados indignados com a votação da proposta comentam a insatisfação da oposição com o não recebimento dos recursos. No vídeo, Leo Prates diz que o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), reclamou que somente 58% das emendas impositivas haviam sido pagas até agora.

De acordo com o parlamentar, em seguida, Motta diz “Eu preciso de ajuda para pagar” e Lindbergh Farias, líder do PT, e José Guimarães, líder do governo, respondem “Até 30 de dezembro paga”. “Aí veio essa pauta”, conclui Prates sobre a votação da dosimetria.

“São quatro cassações e a dosimetria. Isso é pra trocar”, disse Leo Prates (PDT-BA) em conversa flagrada pelo O Globo.

As quatro cassações se referem a Alexandre Ramagem (PL), Eduardo Bolsonaro (PL), Carla Zambelli (PL) e Glauber Braga (PSOL). Segundo Prates, a irritação da oposição com o Palácio do Planalto poderia atrasar a votação do Orçamento de 2026. O parlamentar do PDT disse que Motta declarou “Ou destrava, ou a Casa não anda”, sobre a liberação das emendas impositivas.

A conversa aconteceu em um canto do plenário antes de Glauber Braga (PSOL-RJ) ocupar a cadeira de Motta contra a decisão de pautar a votação da cassação de seu mandato — o deputado foi suspenso por seis meses em vez de cassado, de acordo com decisão do plenário desta quarta — e o presidente da Casa ordenar que a Polícia Legislativa o retirasse à força do local. Jornalistas foram agredidos e censurados no dia.

Confira abaixo o vídeo:

PL da Dosimetria

Em uma sessão marcada por repressão à imprensa e decisões tomadas às pressas na madrugada, a Câmara dos Deputados aprovou, às 2h26 desta quarta-feira (10), o projeto de lei (PL da Dosimetria) que reduz penas de Jair Bolsonaro e de centenas de condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

A votação teve placar de 291 votos a favor, 148 contra e uma abstenção. A medida, encabeçada pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB) aponta o caminho da impunidade para parte dos responsáveis pelo maior ataque à democracia brasileira desde a ditadura (1964-1985).

O movimento consolida um aparente paradoxo político. Enquanto setores da direita repetem o mantra de que “bandido bom é bandido morto”, seus próprios aliados parecem preferir outra fórmula quando os criminosos são da sua ideologia: bandido bom é bandido solto, ou ao menos anistiado sob nova embalagem. Agora a proposta vai para o Senado.

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