Fim da escala 6×1 é luta por tempo para viver e trabalhar, diz Pedro Uczai

Deputado do PT defende mobilização social para aprovar proposta que reduz jornada e garante mais qualidade de vida aos trabalhadores
Segundo o parlamentar, "cultura escravista" da escala 6x1 precisa ser desconstruída. Foto: Reprodução

O deputado federal Pedro Uczai (PT-SC) afirmou que o fim da escala 6×1 — seis dias de trabalho por um de descanso — é uma pauta essencial para “reconstruir o equilíbrio entre tempo para trabalhar e tempo para viver”. Em entrevista ao Jornal TVT News Primeira Edição, o parlamentar defendeu a proposta apresentada pela deputada Érica Hilton (PSOL-SP) e destacou que a luta pela redução da jornada deve ser entendida como um direito humano e civilizatório. Leia em TVT News.

Segundo Uczai, “essa é a grande novidade desse debate: não é só reduzir a jornada de trabalho sem reduzir o salário, mas entender o que fazer com esse tempo, que é o tempo de viver junto com o tempo de trabalhar”. Ele ressaltou que a discussão sobre o fim da escala 6×1 vem sendo travada há anos no Congresso — com iniciativas anteriores de Paulo Paim (PT-RS) e Reginaldo Lopes (PT-MG) — e que agora ganha novo fôlego com o engajamento de diferentes bancadas progressistas.

O deputado destacou o papel da mobilização popular. “Foi graças à mobilização do povo na rua que conseguimos a votação da isenção do Imposto de Renda até R$ 5.000, com desconto para quem ganha até R$ 7.350. Agora, a próxima batalha e a próxima vitória é a redução da jornada 6×1”, afirmou.

“Sociedade do cansaço e da exaustão”

Durante a entrevista, Pedro Uczai fez duras críticas à resistência de setores empresariais brasileiros em debater a redução da jornada de trabalho. “No Brasil, o setor empresarial não só tem saudade da escravidão, como também esgota os trabalhadores no seu trabalho, porque depois contrata outro”, disse.

Ele comparou o modelo atual de exploração ao que chamou de “sociedade do cansaço e do adoecimento”, onde “a superexploração da vida e dos corpos dos trabalhadores leva à exaustão e ao descarte de pessoas”. Segundo o parlamentar, “essa cultura escravista precisa ser desconstruída”.

Uczai argumentou que a redução da jornada é uma política que traz benefícios não só sociais, mas também econômicos: “A redução da jornada não só melhora a produtividade e o mundo do trabalho, como também melhora a vida das pessoas. Tempo para viver, para o lazer, para a cultura, para a arte, para a família e para os filhos — isso é um direito humano, é um direito fundamental”.

O deputado ainda fez referência simbólica à origem da escala semanal: “O 6×1 vem lá do primeiro livro do Gênesis. Deus criou o mundo em seis dias e descansou um. Com toda a tecnologia e avanço produtivo, estamos 5 mil anos depois ainda discutindo o seis por um. Isso não é possível, precisamos avançar”.

“Não queremos um país de sobreviventes, mas de viventes”

Ao ser questionado sobre como dialogar com trabalhadores fora do regime CLT, especialmente os vinculados a aplicativos, Uczai afirmou que a pauta deve ser comunicada como um direito humano universal. “O ponto de partida é: qual é o propósito da vida de uma pessoa hoje? É ser feliz, viver com seus filhos, amigos e parentes, ter direito à cultura, educação, saúde, moradia e lazer. Tudo isso é um direito fundamental”, explicou.

Para o deputado, a luta pelo fim da escala 6×1 é também uma luta por sentido de vida: “Nós não podemos construir um país dos sobreviventes. Nós temos que construir um país dos viventes, dos que vivem intensamente sua vida. E viver intensamente é trabalhar e é viver.”

Fim da escala 6×1: “Só vai avançar com mobilização popular”

Uczai reconheceu que o Congresso Nacional tem hoje uma correlação de forças desfavorável à pauta dos trabalhadores, mas acredita que a pressão popular pode mudar o cenário, como ocorreu na votação da isenção do imposto de renda. “Se depender somente da correlação interna do Congresso, não vai avançar. A elite brasileira está representada na maioria do parlamento”, disse.

Para ele, a estratégia é repetir o modelo de mobilização que barrou propostas da extrema-direita e forçou o avanço de pautas sociais. “A jornada 6×1 só será reduzida se a sociedade e os trabalhadores se mobilizarem e pressionarem. E há uma conjuntura favorável, que é o ano pré-eleitoral. Se o presidente da Câmara constituir a comissão especial, podemos aprovar.”

O parlamentar citou diretamente o papel do presidente da Câmara, Hugo Mota (Republicanos-PB), como decisivo. “São dois movimentos: a pressão interna, com discurso na tribuna e articulação, e a pressão social nas ruas. Se aproveitarmos o momento certo, podemos abrir a comissão especial e votar ainda no início do ano que vem.”

Para concluir, Uczai reforçou seu otimismo diante da luta: “Eu sou discípulo de Ariano Suassuna. Ele dizia que não gosta de pessimista, porque é muito chato, e nem de otimista, porque é muito iludido. Prefiro ser realista e esperançoso. É com mobilização e esperança que vamos conquistar essa vitória do povo brasileiro.”

O deputado encerrou com um recado bem-humorado: “Quer melhorar a imagem da Câmara? Não precisa gastar R$ 5 milhões com consultoria. É só colocar em votação a redução da jornada de trabalho. Vai melhorar de graça — e com o apoio do povo.”

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