Flávio Bolsonaro e direita sem rumo: quem ganha com caos no Centrão?

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Deputado classificou família Bolsonaro como “animadores de picadeiro”. Foto: Carlos Moura/Agência Senado

A disputa cada vez mais exposta dentro da direita brasileira, especialmente na família Bolsonaro, tem produzido cenas simultaneamente caricatas e preocupantes — e, segundo o deputado federal Tadeu Veneri (PT-PR), esse espetáculo público cumpre um papel claro: desviar o foco do que realmente importa para o país e manter a política nacional refém de conflitos artificiais. Leia em TVT News.

Em entrevista ao TVT News Primeira Edição nesta terça (9), Veneri afirmou que a “guerra familiar” entre bolsonaristas pelo controle da candidatura presidencial revela “algo mais trágico do que cômico”, num momento em que o Parlamento deveria estar discutindo temas de real interesse nacional. Para ele, o noticiário sequestrado pelas brigas internas da extrema direita impede que debates fundamentais avancem.

O deputado não poupou críticas. Disse que a política brasileira vive sob a sombra de um ambiente intoxicado desde a ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência. E foi ainda além: classificou a família do ex-presidente como “animadores de picadeiro”, que alimentam debates irrelevantes enquanto os verdadeiros beneficiados — grupos econômicos poderosos — atuam nas sombras e moldam decisões dentro do Congresso. “O dono do circo não está no picadeiro. Está nos bastidores, ganhando muito”, afirmou.

“Debates inúteis enquanto o essencial é ignorado”

Veneri destacou que a Câmara passou a ser ocupada por discussões “absolutamente desnecessárias”, como a eterna tentativa de setores bolsonaristas de construir anistias e blindagens para o ex-presidente e seus aliados. Para ele, essa insistência cria um clima permanente de desinformação, histeria e conflito artificial: “Eles impõem a pauta. E é uma pauta que não interessa à população, mas que domina o dia a dia.”

O deputado criticou ainda setores do Parlamento que tentam reescrever fatos gravíssimos, como nos casos envolvendo Carlos Bolsonaro e Carla Zambelli. Ele lembrou que a Câmara trata com normalidade episódios que deveriam resultar em cassação ou afastamento imediato. “É uma vergonha que parlamentares condenados, foragidos ou presos sigam com prerrogativas e emendas liberadas. Isso corrói a democracia.”

Zambelli, Ramagem e a erosão das regras

Veneri reagiu com firmeza à decisão da CCJ que tentou reinterpretar crimes já reconhecidos pelo Judiciário no caso da deputada Carla Zambelli. Para ele, quando parlamentares passam a dizer que “não viram crime” apesar das provas, instauram uma espécie de “golpe branco”, uma erosão silenciosa do estado de direito.

“O Legislativo cria as leis, e o Judiciário as aplica. A CCJ não pode revisar condenações. É gravíssimo”, disse. Ele também criticou o tratamento desigual entre parlamentares na aplicação de decisões judiciais — citando o caso de Alexandre Ramagem, que teve salário bloqueado após condenação, enquanto Zambelli segue protegida.

Quando questionado sobre a omissão do presidente da Câmara em cumprir determinações do Supremo, Veneri afirmou que esse comportamento pressiona perigosamente os limites institucionais. “Estamos sempre à beira de um golpe. Não necessariamente militar — mas um golpe contra as regras do jogo.”

Devedor contumaz e os desafios da Câmara

Na segunda parte da entrevista, o deputado comentou a expectativa de votação do projeto que pune os chamados devedores contumazes. Ele reconheceu a importância da proposta, mas advertiu que o Congresso historicamente protege grandes devedores com sucessivas anistias e refinanciamentos — o que, na prática, estimula fraudes.

Para Veneri, há chances reais de aprovação do projeto, mas ainda há resistência interna. “O Brasil conhece bem a prática do CNPJ que fecha e reabre para não pagar dívidas. É fraude organizada — e muitas vezes legitimada por leis feitas aqui dentro.”

Ele citou ainda os riscos de transformar debates relevantes em cortinas de fumaça, como no caso da PEC 38, que trata da reforma administrativa. “Criam uma cenoura na ponta da vara enquanto desmontam o Estado”, afirmou.

Democracia sob tensão

Ao final, Veneri alertou que o país vive um momento delicado, no qual falhas de atuação do Parlamento provocam descrédito e alimentam discursos antidemocráticos. E reforçou: o caos gerado pela extrema direita serve a interesses muito maiores do que as brigas visíveis.

“A cada vez que normalizamos absurdos, aproximamos o país de uma ruptura. Não se trata de gostar ou não das instituições — é respeitar as regras. Quando isso é corroído, o risco cresce para todos.”

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