O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta sexta-feira (29) um pacote de investimentos de R$ 10,6 bilhões para obras estratégicas no estado de São Paulo. O evento, realizado na capital paulista, reuniu o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), além de figuras como Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, e Rui Costa, ministro da Casa Civil. Foi um raro momento de união política.
Embora o foco do governo Lula seja o auxílio ao desenvolvimento de São Paulo, a tensão é evidente. Isso porque Tarcísio e Nunes são bolsonaristas e o encontro acontece em meio às recentes revelações sobre o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados por crimes contra o Estado Democrático de Direito. Um plano para assassinar Lula, o vice-presidente Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes também veio à tona.
Lula, Tarcísio e o golpe
Lula, que não discursou, manteve-se no centro das discussões representado por Mercadante, Rui Costa e pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Alckmin, inclusive, fez uma provocação velada em forma de defesa ao Estado de Direito. “Como é bonita a democracia. Passadas as eleições, os entes federados, juntos, trabalhando para alcançar o interesse público e o bem comum”, disse. Rui Costa, por sua vez, disse que Lula “não se abala um milímetro” mesmo com as ameaças e tentativas de golpe.
O nome de Tarcísio foi mencionado em investigações da Polícia Federal sobre reuniões golpistas no Palácio da Alvorada em novembro de 2022, dias após a derrota eleitoral de Bolsonaro, período em que se discutiu a minuta de atentado contra a democracia. Apesar disso, o governador evitou comentários diretos sobre o tema durante a cerimônia.
Os projetos financiados
Os recursos, provenientes de empréstimos do BNDES, serão destinados a importantes obras de infraestrutura e mobilidade urbana, incluindo:
- Trem InterCidades (São Paulo-Campinas): projeto para melhorar a conexão entre as duas cidades.
- Trecho Norte do Rodoanel: receberá R$ 1,35 bilhão para concluir 45,8 km de vias e 14 túneis, interligando 12 rodovias.
- Expansão da Linha 2-Verde do Metrô: as obras conectarão a linha até a Penha, com integrações às linhas 3-Vermelha e 11-Coral.
- Ônibus elétricos: um investimento de R$ 2,5 bilhões para a aquisição de 1.300 veículos fabricados no Brasil, buscando avançar na transição para um transporte mais sustentável na capital paulista.
Clima político e discursos
Os posicionamentos de Tarcísio e Nunes mostraram uma relação política delicada. Os dois sentaram nas extremidades da fileira de autoridades, enquanto Lula permaneceu no centro. A troca de farpas entre os três tem sido uma constante, especialmente após o apoio declarado de Lula ao rival de Nunes na eleição municipal, Guilherme Boulos (PSOL). Antes do início da cerimônia, no entanto, os líderes foram vistos conversando de maneira descontraída no corredor que dava acesso ao salão principal, em um raro momento de diálogo direto.
Investimentos de Lula
A assinatura formalizou o financiamento no valor de R$ 10,65 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Governo do Estado de São Paulo e para a Prefeitura de São Paulo.
Os recursos serão investidos no Rodoanel Norte, no Metrô de São Paulo, no Trem InterCidades Eixo Norte e na aquisição de 1.300 ônibus elétricos para a capital. Do total investido pelo BNDES nas obras estruturantes, R$ 8,15 bilhões estão incluídos na carteira de projetos do Novo PAC.
Do total de recursos, R$ 1,35 bilhão serão investidos no Rodoanel, por meio de uma parceria público-privada, para a implantação do anel viário rodoviário com 44 km de extensão da Região Metropolitana de São Paulo. O trecho vai conectar a Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, em São Paulo (SP) à rodovia Presidente Dutra, em Arujá (SP), passando por Guarulhos. O projeto deverá desviar o tráfego de cerca de 30 mil caminhões e 54 mil automóveis da Marginal Tietê por dia.
Para o Metrô de São Paulo, serão R$ 3,6 bilhões do BNDES para a aquisição de 44 novos trens, necessários para a em razão da expansão da Linha 2 – Verde, que está atualmente em implantação. A Linha 2, atualmente, liga a Vila Madalena à Vila Prudente. E será prolongada por 8,2 km para ganhar oito novas estações até a Penha, e ser integrada à Linha 3-Vermelha e à Linha 11-Coral. Essa extensão vai gerar uma necessidade operacional de 22 trens adicionais na Linha 2, além de 22 trens que serão alocados em outras linhas impactadas pelo projeto.
O projeto de expansão tem previsão de conclusão até dezembro de 2028 e deverá atender 1,2 milhão de pessoas diariamente. O leilão para aquisição dos trens, previsto para dezembro de 2024, terá como vencedora a empresa que apresentar o menor preço, que deverá entregar o primeiro trem após 21 meses, completando a entrega em 58 meses. O projeto contribui para a redução das emissões de gases de feito estufa, uma vez que se substitui o transporte de passageiros de ônibus a diesel pelo metrô, além dos gases poluentes que são nocivos à saúde da população. Se considerada uma vida útil de 30 anos, a redução de emissões supera os 1,2 milhões de tCO2eq.
Com R$ 6,4 bilhões, o BNDES financiará a implantação e a operação do Trem InterCidades Eixo Norte (trem de média velocidade, que atinge até 140km/h, ligando São Paulo a Campinas) e o TIM (Trem Intermunicipal, entre Jundiaí e Campinas), além da realização de melhorias na Linha 7 – Rubi .
O financiamento foi dividido em duas etapas, sendo a etapa atual, assinada em Brasília, no valor de R$ 3,2 bilhões. A segunda etapa, de mesmo valor, será assinada em 2025. As obras devem gerar mais de 10 mil empregos diretos, indiretos e induzidos, beneficiando 11 municípios e 15 milhões de pessoas. O projeto também se destaca pelos benefícios ambientais, onde estima-se a redução de emissões de 712 mil tCO2eq/ano ao longo de sua vida útil.
A PPP objetiva a implantação de trem de média velocidade ligando São Paulo a Campinas, com 101 km de extensão (TIC), um serviço parador entre Jundiaí e Campinas, atravessando oito municípios (TIM), e um serviço parador metropolitano (Linha 7 – Rubi), ligando a Barra Funda a Jundiaí, com 17 estações. O prazo de concessão será de 30 anos, com investimentos R$ 13,48 bilhões.
Com a Prefeitura de São Paulo, o BNDES assinou contrato no valor de R$ 2,5 bilhões para a aquisição de 1.300 ônibus elétricos de fabricação nacional. O projeto também colabora com uma emissão evitada de 2,7 milhões tCO2eq ao longo de toda a sua vida útil (15 anos).
“No governo do presidente Lula, o BNDES voltou a fazer investimentos importantes em infraestrutura e na indústria, contribuindo de forma republicana para o crescimento da economia e a geração de empregos. Apenas no Rodoanel e no Trem Intercidades, as obras devem gerar mais de 20 mil empregos diretos e indiretos ao longo de sua execução. Para os trens da Linha 2 e para aquisição dos ônibus elétricos, o financiamento do Banco garante que eles sejam produzidos pela indústria nacional”, explicou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.