O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebe hoje (25) o presidente do Benin, Patrice Talon, em mais um encontro bilateral entre Brasil e o país da África Ocidental. Esta é a segunda visita de Talon ao Brasil em pouco mais de um ano, sinal de que as relações caminham para um novo patamar de parceria estratégica, ancorada em cooperação econômica, cultural e histórica. Entenda na TVT News.
A intensificação do diálogo entre os dois países se expressa em múltiplas frentes. No setor agropecuário, os laços Sul-Sul ganharam impulso em maio, com a visita do ministro da Agricultura, Pecuária e Pesca do Benin, Gaston Dossouhui, ao Brasil. Em reunião com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), foram debatidas formas de ampliar o comércio bilateral e a cooperação técnica, com destaque para a exportação de material genético bovino e avícola, além de bovinos vivos.
“O Brasil tem experiência comprovada em tecnologias tropicais e produção de alimentos. Queremos que isso contribua para o desenvolvimento rural e agropecuário do Benin”, afirmou o secretário adjunto do Mapa, Marcel Moreira.
Também foram discutidas iniciativas em irrigação, manejo hídrico e agregação de valor a produtos como mandioca, arroz, soja e caju. A expectativa é que, ainda este mês, Brasil e Benin assinem um memorando de entendimento durante o II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural.
Em 2024, o Brasil exportou US$ 12,5 bilhões em produtos do agronegócio para países africanos, um crescimento de 23,8% em relação ao ano anterior. Os principais produtos comercializados foram carnes, cereais, itens do complexo sucroalcooleiro e soja.
Cultura e identidade Brasil Benin
Se a cooperação econômica avança, a dimensão cultural não fica para trás. Em janeiro, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, liderou uma missão oficial ao Benin com forte carga simbólica. A visita incluiu passagens por Porto-Novo, considerada a cidade mais brasileira do país com presença de identidade arquitetônica e cultural brasileira, Cotonou e Uidá, locais centrais na memória da diáspora africana.
Durante a viagem, foi instalado o Comitê de Implementação dos Acordos Culturais entre os dois países, com foco nas artes, no audiovisual e no patrimônio cultural. O ponto alto foi a participação no Festival das Culturas Ancestrais, que celebra tradições religiosas e espirituais, como o vodum, e reafirma os laços entre o Brasil e o continente africano.
“Expandir essa relação e fortalecê-la ainda mais. Para nós, é uma grande honra representar o presidente Lula e o governo brasileiro nesse primeiro movimento de fortalecimento das relações entre Benim e o Brasil”, afirmou Margareth Menezes.
Jean-Michel Abimbola, ministro da Cultura do Benin, reforçou o caráter histórico da visita: “Projetos em comum, patrimônio, artes e cultura… e, sobretudo, programas que vão permitir, a partir de agora, que nossos irmãos não fiquem mais separados”.
Cidadania ancestral em Benin
Também em janeiro, a Embratur enviou uma comitiva ao Benin liderada por Tania Neres, coordenadora de Afroturismo. A agenda foi centrada em promover o turismo de raízes, segmento que atrai turistas interessados em reconectar-se com suas origens africanas. Ela participou de encontros com autoridades locais e de cerimônias tradicionais, como o Festival das Culturas Ancestrais Vodun.
“O diálogo abordará iniciativas para fortalecer os laços bilaterais e explorar oportunidades no campo das artes, do patrimônio cultural e do audiovisual, alinhando-se ao Memorando de Entendimento Cultural assinado em 2024”, afirmou Neres.
O esforço conjunto para impulsionar o turismo tem outro impulso. Recente lei aprovada pelo governo do Benin concede cidadania a afrodescendentes de todo o mundo com especial impacto para o Brasil, país com a maior população negra fora da África.

A legislação beninense permitirá que brasileiros descendentes de africanos escravizados obtenham passaporte e residência, desde que comprovem sua ancestralidade por meio de documentação, testemunhos ou testes de DNA. A medida é considerada um marco simbólico e prático na reparação histórica às vítimas da escravidão.
Segundo o cônsul honorário do Benin em Salvador, Marcelo Sacramento, estima-se que mais de um milhão de pessoas da região da Costa da Mina, que inclui o atual território do Benin, tenham sido levadas ao Brasil. “Há um esforço do governo de preparar o Benin para ser porta de entrada do turismo africano a partir das Américas”, disse o cônsul, destacando ainda negociações para viabilizar voos diretos entre os dois países.
Reconexão
A medida é vista como um passo importante no resgate da identidade da população negra brasileira. “Temos identidade, história e dois povos que compartilham uma alegria profunda. O mundo precisa disso”, declarou Marcelo Freixo, presidente da Embratur, em encontro com dirigentes do Benin.
Hoje, a memória da diáspora africana se mantém viva também por meio da comunidade dos agudás ou tabons descendentes de escravizados que retornaram voluntariamente ao continente africano no século XIX e ajudaram a formar uma ponte cultural permanente entre Brasil e África.
Na cidade de Uidá, o monumento “Porta do Não Retorno” marca o local de onde milhares de pessoas foram levadas à força. Todos os anos, esse espaço é palco de celebrações religiosas e culturais que reafirmam a resistência e a espiritualidade africanas.
Cidade de Uidá está no livro Um Defeito de Cor
Um defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves (Record) é considerado pela crítica e pelo público um dos principais livros da literatura brasileira, Um defeito de cor conta a história de Kehinde, desde o sequestro na África até os horrores da escravidão no Brasil. O romance tem tantos detalhes que você sente o cheiro nauseabundo do navio negreiro e não consegue conter as lágrimas com os crimes que foram cometidos contra os escravizados. O livro inspirou o samba enredo da escola de samba Portela, em 2024.
