Em um momento estratégico, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu virar o jogo no embate político com o Congresso, após a derrubada do decreto que elevava o IOF. Segundo dados da pesquisa Genial Quaest, divulgada neste final de semana, o Legislativo foi alvo de 61% das menções negativas nas redes sociais no período de 24 de junho a 4 de julho. Leia em TVT News.
O levantamento, que utilizou as plataformas X (Twitter), Instagram, Facebook, Reddit, Tumblr, YouTube e sites de notícias, analisou 4,4 milhões de publicações. Destas, 61% criticavam o Congresso, enquanto apenas 11% tinham tom crítico ao Executivo; já 28% foram consideradas neutras.
A análise se deu sobre mais de 4,4 milhões de postagens coletadas nas plataformas X, Facebook, Instagram, YouTube, Reddit, Tumblr e em sites de notícias.
A virada de narrativa, segundo o levantamento, ocorre após semanas de desgaste do Executivo, que vinha sendo alvo recorrente de críticas em debates digitais sobre pautas econômicas. Com o embate provocado pela tentativa do governo de aumentar a alíquota do IOF sobre investimentos de alta renda, o foco das críticas migrou para o Congresso, acusado por usuários de redes sociais de proteger os mais ricos.
O monitoramento revela que essa mudança foi intensificada entre os dias 30 de junho e 3 de julho, quando a hashtag #InimigosDoPovo ganhou força, com mais de 300 mil menções, especialmente após a decisão do Congresso de derrubar o decreto presidencial. Termos como “Congresso da mamata” e “deputados contra o povo” também se destacaram no ambiente digital, refletindo uma indignação com a posição da maioria dos parlamentares frente à proposta do governo.
As críticas se concentraram principalmente na figura do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que articulou a rejeição ao decreto do Executivo. Ele aparece como o principal alvo individual nas postagens negativas, sendo citado diretamente em 8% do total de publicações críticas ao Congresso.
A pesquisa também identificou que a rejeição ao Congresso foi mobilizada por uma base digital mais organizada, composta por influenciadores progressistas, parlamentares de esquerda e militantes de partidos que compõem a base aliada do governo. Essa mobilização conseguiu reverter, pela primeira vez desde o início do terceiro mandato de Lula, a tendência de maior desgaste do Executivo frente ao Legislativo nas redes.
Embora o governo tenha sido inicialmente criticado pela tentativa de aumentar um imposto, a estratégia de comunicação adotada pela equipe de Lula, aliada à exposição da resistência do Congresso à taxação dos mais ricos, inverteu o cenário. O debate foi pautado sob a lógica de justiça tributária, ressaltando que o aumento do IOF impactaria exclusivamente grandes investidores, poupando a população de baixa e média renda. Essa linha argumentativa teve ampla adesão entre os usuários das redes sociais.
Ainda segundo a pesquisa, o engajamento pró-governo superou as reações negativas em praticamente todas as plataformas analisadas. No X, ex-Twitter, os conteúdos em defesa do governo e em crítica ao Congresso chegaram a liderar os trending topics nacionais por dois dias consecutivos.
Outro dado relevante do levantamento é que a avaliação negativa do presidente Lula, dentro do recorte da crise do IOF, foi a menor em comparação a episódios recentes. Apenas 31% das postagens associavam o presidente de forma crítica à tentativa de aumentar o imposto, índice bem abaixo dos 76% registrados quando a medida foi inicialmente anunciada. Já o Congresso, que antes aparecia com 30% de menções negativas, saltou para 61% após a derrubada do decreto.
A disputa ainda não está encerrada. O Supremo Tribunal Federal (STF) vai analisar o conflito entre Executivo e Legislativo nos próximos dias, após a Advocacia-Geral da União ingressar com ação para reverter a decisão do Congresso. Mas, no campo das redes, a batalha de narrativas indica que, ao menos por ora, o governo Lula conseguiu capitalizar apoio e isolar politicamente seus adversários.
Com a pressão pública voltada ao Congresso e a popularidade digital do Executivo em ascensão, a crise do IOF se transformou em uma oportunidade para o governo reforçar o discurso de enfrentamento às desigualdades e à proteção de privilégios. A pesquisa da Quaest é clara: pela primeira vez, Lula venceu a guerra de narrativas nas redes.
Nas Ruas
A ofensiva agora se estende para as ruas. Com o mote, “Centrão Inimigo do Povo”, movimentos sociais, sindicais e populares convocam um grande ato nesta quinta-feira, 10 de julho, na Avenida Paulista, para denunciar o avanço da agenda neoliberal imposta pela maioria conservadora do Congresso Nacional. Entre os principais eixos de reivindicação estão a defesa da taxação dos super-ricos, a luta contra a jornada 6×1, a crítica à expansão dos privilégios parlamentares, e o repúdio a projetos como o PL da Devastação, que enfraquece o licenciamento ambiental.