Marcha Nacional em defesa dos direitos e da democracia será em 29 de abril

As principais centrais sindicais convocam os trabalhadores para a Marcha Nacional em defesa dos direitos e da democracia, no dia 29 de abril, em Brasília
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Movimento sindical brasileiro chama a atenção STF para as consequências danosas da suspensão da tramitação dos processos judiciais contra fraudes na pejotização. Foto: Pixabay

Artigo do Secretário Nacional de Assuntos Jurídicos da CUT Brasil, Valeir Ertle, conta a importância da Marcha Nacional em defesa dos direitos e da democracia, no próximo dia 29 de abril, em Brasília, diante da decisão do STF de paralisar o julgamento sobre pejotização. Leia o artigo completo em TVT News.

Decisão do STF e a urgência de defender os Direitos Trabalhistas: um chamado à resistência


Por Valeir Ertle

Secretário Nacional de Assuntos Jurídicos da CUT Brasil

As principais centrais sindicais convocam os trabalhadores para a Marcha Nacional em defesa dos direitos e da democracia, no próximo dia 29 de abril, em Brasília. Trata‑se de ato integrado às mobilizações do 1º de Maio.

Nesta oportunidade, o movimento sindical brasileiro chama a atenção dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para as consequências danosas da suspensão da tramitação dos processos judiciais contra fraudes na pejotização – decorrentes da transformação de trabalhadores subordinados em pessoas jurídicas (PJs) – burlando direitos garantidos pela legislação, pela Constituição Federal de 1988 e pelas convenções internacionais.

Pauta da Marcha em defesa dos direitos trabalhistas

Os trabalhadores querem que o STF abandone imediatamente esse caminho perigoso, que ameaça seus direitos e a sustentabilidade do sistema de proteção social, envolvendo assistência, transferência de renda e aposentadoria.

Lembramos que precarizações do trabalho, como a reforma trabalhista, não geraram novos empregos, mas forçaram a migração de aproximadamente 2 milhões de trabalhadores de empregos formais para trabalhos sem direito, sob a forma de pessoas jurídicas, a maioria na condição de microempreendedores individuais (MEIs), entre 2018 e 2022.

Em 2012 havia aproximadamente 1 MEI para cada 13,5 empregados CLT; em 2016 essa proporção passou a 1 para 5. Em 2023, chegou a cerca de 1 MEI para cada 2,4 trabalhadores formais, evidenciando a proximidade numérica entre ambas categorias. Apenas esse deslocamento gerou uma perda potencial de arrecadação previdenciária de cerca de R$ 15 bilhões por ano. O desastre só não foi maior porque milhares de trabalhadores ingressaram com processos na Justiça do Trabalho.

São milhares de processos suspensos por decisão do STF, muitos deles envolvendo plataformas digitais e autônomos coagidos a atuar como PJs, sem acesso a direitos como férias, 13º salário e contribuições previdenciárias adequadas.

Antes de o STF suspender o legítimo direito dos trabalhadores de se defenderem perante a Justiça especializada, estudos do Ipea projetavam um impacto da pejotização na necessidade de complementação do financiamento da proteção social da ordem de R$ 500 bilhões para o período entre 2015 e 2060. Com a suspensão dos processos judiciais, esse cenário desafiador tende a se agravar, pois toda vez que há retrocessos nos direitos, a precarização do trabalho se intensifica.

Isso ficou evidente após a reforma trabalhista de 2017 e a ampliação das possibilidades de terceirização: 69,4% dos MEIs foram criados depois dessas mudanças. Hoje os MEIs representam 73% de todas as empresas formais do país em número. O IBGE constatou que, dos 2,6 milhões de MEIs registrados em 2018, 54% haviam se desligado de vínculo formal de trabalho no ano anterior.

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Marcha será dia 29 de abril, em Brasília. Imagem: CUT

Um levantamento do Ministério Público do Trabalho, em 2023, identificou mais de 500 mil casos suspeitos de “pejotização” em empresas de médio e grande porte, indicando a dimensão do problema. A remuneração média de PJs versus CLTs em funções semelhantes tende a ser semelhante ou apenas modestamente superior no caso dos PJs, o que significa que boa parte do ganho de produtividade fica com a empresa.

Os milhares de processos suspensos pela decisão do ministro Gilmar Mendes estão relacionados a essa avalanche de fraudes na pejotização. A decisão é gravíssima e pode levar à destruição de um sistema de previdência e proteção social que beneficia milhares de trabalhadores, que não são “mercadorias descartáveis”. O STF não cedeu naquele momento e não pode ceder agora a esse processo de naturalização da exploração, que fragiliza a coesão social e fragmenta as relações entre capital e trabalho.

Pejotização e os direitos do trabalhador

A Justiça do Trabalho, criada para equilibrar a relação entre capital e trabalho, é hoje alvo de projeto que busca reduzir seu papel e excluí-la de analisar e julgar processos claramente trabalhistas, como aqueles que envolvem terceirização e “pejotização”.

Caso o STF persista nesse caminho, estará não só desconsiderando a realidade de milhões de trabalhadores, como também estimulando um ciclo perverso: empresas deixam de arcar com encargos sociais, trabalhadores perdem acesso a proteções básicas e a previdência enfrenta déficits crescentes. A migração de trabalhadores para regime PJ também traz repercussões de longo prazo na segurança social do trabalhador. Sem a vinculação formal, o profissional não conta com cobertura automática de seguro-desemprego, auxílio-acidente de trabalho ou salário-família.

Dos 14,6 milhões de MEIs registrados em 2022, apenas 4,1 milhões (28,4%) estavam inscritos no Cadastro Único (CadÚnico), sendo 2,1 milhões beneficiários do programa Bolsa Família. Ao deixar de ser trabalhador formal e com direitos, e se inserir na fraude do trabalho como PJ com relação de subordinação, não são apenas os trabalhadores que perdem seus direitos básicos: o sistema previdenciário perde uma parcela significativa de potenciais contribuintes, reduz sua arrecadação e compromete a capacidade de pagar benefícios no futuro próximo.

Nesses casos, empresas e trabalhadores não contribuem ou o fazem em valores muito abaixo do necessário, inviabilizando a seguridade social e comprometendo o acesso dos trabalhadores aos benefícios assistenciais que procuram na velhice, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), aumentando a pressão sobre os gastos públicos.

Esse cenário viola os fundamentos da Constituição Federal e contradiz compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, como a Agenda do Trabalho Decente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que incluem a redução das desigualdades e a promoção de trabalho digno até 2030.

Não por acaso, as entidades sindicais sugerem uma reação dos ministros do Trabalho e Emprego, da Previdência Social, da Justiça e da Fazenda. Está na hora de reunir técnicos, especialistas e representantes dos trabalhadores para debater os impactos sistêmicos da pejotização. É urgente que o Executivo federal apresente estudos sobre como a fragilização de vínculos empregatícios afeta não apenas direitos individuais, mas também o regime fiscal, a previdência e as metas de redução de desigualdades.

Conclamamos o mundo jurídico, acadêmico e a sociedade civil a se somarem às mobilizações das centrais sindicais e ao Fórum Interinstitucional de Defesa de Direitos Sociais (FIDS) para ampliarmos nossa capacidade de atuação. A marcha de 29 de abril não é apenas um protesto, mas um chamado para reafirmar que os direitos sociais são pilares essenciais de uma verdadeira democracia. A CUT seguirá dialogando com ministros e ministras do STF e com o povo nas ruas, certa de que suas razões e a força do povo vencerão a gana daqueles que querem transformar tudo em mercadoria.

Valeir Ertle

A Marcha e o apelo ao STF

Apelamos ao ministro Gilmar Mendes que revise sua decisão, a qual contraria a jurisprudência do próprio STF, que em decisões anteriores protegeu vínculos trabalhistas mesmo em casos de terceirização. Ao suspender processos sem ouvir sindicatos e especialistas, a Corte ignora o princípio do contraditório e abre espaço para que interesses econômicos prevaleçam sobre direitos humanos.

Ministros do STF, Vossas Excelências desempenharam papel crucial na defesa da democracia, demonstrando coerência e firmeza diante de pressões tão inaceitáveis quanto as que agora sofrem de setores empresariais. Sejam firmes como antes e abram o debate, ouvindo as representações dos trabalhadores em audiências públicas com a participação de sindicatos e entidades comprometidas com a justiça social. Ignorar essas vozes é compactuar com projeto que desumaniza o trabalho, tratando-o como mera commodity.

Conclamamos o mundo jurídico, acadêmico e a sociedade civil a se somarem às mobilizações das centrais sindicais e ao Fórum Interinstitucional de Defesa de Direitos Sociais (FIDS) para ampliarmos nossa capacidade de atuação. A marcha de 29 de abril não é apenas um protesto, mas um chamado para reafirmar que os direitos sociais são pilares essenciais de uma verdadeira democracia. A CUT seguirá dialogando com ministros e ministras do STF e com o povo nas ruas, certa de que suas razões e a força do povo vencerão a gana daqueles que querem transformar tudo em mercadoria.

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