Reportagem do DCM aponta relação de Nikolas Ferreira com crime organizado

Deputado foi financiado e apadrinhado por empresários condenados por fraudes fiscais e lavagem de dinheiro em minas gerais, aponta Sara Vivacqua
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“Quando Nikolas faz campanha contra o Pix, ele está defendendo interesses de quem lava dinheiro". Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputados

A jornalista investigativa Sara Vivacqua, autora da reportagem publicada pelo Diário do Centro do Mundo (DCM), detalhou ao Jornal TVT News Primeira Edição as descobertas que colocam o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) no centro de um suposto esquema bilionário de corrupção, cartelização e fraudes fiscais em Minas Gerais. A investigação levou o deputado Rogério Correia (PT-MG) a apresentar uma notícia de fato à Procuradoria-Geral da República (PGR), pedindo a abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Leia em TVT News.

Segundo Vivacqua, a apuração — feita ao longo de dois meses — indica que a ascensão meteórica de Nikolas Ferreira não se explica apenas por sua popularidade nas redes sociais, mas por um “apadrinhamento” de grupos empresariais e estruturas criminosas.

“Nikolas Ferreira não é um fenômeno de redes sociais. Sua ascensão, da favela do Pai Camilo ao Congresso Nacional, é um produto de apadrinhamento de organizações criminosas”, afirmou Sara.

A jornalista revelou que o principal financiador da campanha de Nikolas, o empresário Ronosalto Pereira Neves, do grupo Mart Minas, foi delator na Operação Ross, em que confessou ter lavado dinheiro para a JBS a pedido do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

“O mesmo empresário que financiou a campanha presidencial de Aécio Neves é o maior doador de Nikolas Ferreira. É mera coincidência? Eu não tenho tanta certeza”, ironizou Vivacqua.

Outro ponto central da denúncia envolve o uso de imóveis ligados a empresários condenados por crimes financeiros durante a campanha eleitoral de Nikolas. Segundo Vivacqua, o deputado instalou seu comitê eleitoral em um posto de gasolina fantasma em Belo Horizonte, chamado Posto Jéssica, posteriormente rebatizado como Posto Veneto.

“O imóvel pertencia a Augusto e Ciro Piccaro, empresários donos de postos autuados por cartelização e fraude fiscal na Operação Mão Invisível, que desmantelou o maior cartel de combustíveis de Minas Gerais”, relatou.

Esses empresários, segundo a repórter, acumulam mais de 180 processos trabalhistas e dívidas milionárias com o Estado. Para ela, “não se trata de risco empresarial, mas de devedores sistemáticos que operam a custo do trabalhador”.

Além do financiamento irregular, a reportagem relaciona o deputado à campanha de desinformação sobre o rastreio de transações via Pix e fintechs, que circulou nas redes em 2023. Na época, Nikolas alegava que o governo Lula queria “vigiar o povo”, mas, segundo Vivacqua, a medida combatia justamente a lavagem de dinheiro e a sonegação.

“Quando o Nikolas faz campanha contra a regulamentação do Pix, ele está defendendo os interesses de quem lava dinheiro e não paga impostos. Isso não é ideologia, é apadrinhamento”, afirmou.

A repórter também alertou para o nexo entre a ultradireita e o crime organizado, que, segundo ela, vai muito além das redes sociais.

“Nós precisamos traçar as relações da ultradireita com o crime organizado. Essas figuras não surgem do nada. Há uma estrutura financeira e criminosa que as sustenta”, disse.

Durante a entrevista, Vivacqua ainda fez um paralelo entre a retórica de Nikolas Ferreira e as operações policiais violentas no Rio de Janeiro, que o deputado tem elogiado publicamente. Para ela, há uma “contradição aparente” entre quem se beneficia de estruturas criminosas e, ao mesmo tempo, celebra ações que resultam em chacinas.

“O crime organizado não se combate com show de guerra às drogas, mas desmantelando sua estrutura econômica. O que vemos no Rio é uma farsa, uma cortina de fumaça que preserva os verdadeiros criminosos”, argumentou.

A jornalista lembrou que o governo do Rio de Janeiro tem pedido a classificação do Comando Vermelho e do PCC como organizações terroristas, o que, segundo ela, repete a estratégia dos EUA para justificar intervenções na América Latina.

“Tudo está conectado. Querem criar uma barbárie no Rio para pedir ajuda a Washington e atacar o governo Lula, como já fez o governador Cláudio Castro ao dizer que a crise extrapola suas competências”, afirmou.

Vivacqua concluiu dizendo que seu trabalho busca revelar quem financia e sustenta politicamente as figuras da extrema direita no Brasil.

“Precisamos seguir o dinheiro. Nikolas Ferreira é a personificação de um projeto político financiado por estruturas criminosas”, declarou.

Até o momento, Nikolas Ferreira não respondeu aos pedidos de esclarecimento feitos pelo DCM e segue em silêncio nas redes sociais, onde tem elogiado as recentes operações policiais no Rio de Janeiro.

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