Silvio Tendler, o “cineasta dos sonhos interrompidos”, morre aos 75 anos

Morreu aos 75 anos, o cineasta Silvio Tendler, um dos maiores nomes do documentário brasileiro. A TVT lamenta a partida deste grande brasileiro
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Nascido no Rio de Janeiro em 1950, Silvio Tendler mergulhou no universo do cinema no final da década de 1960. Foto: Arquivo/Sintese

Morreu na manhã de hoje (5), aos 75 anos, o cineasta Silvio Tendler, um dos maiores nomes do documentário brasileiro. Ele enfrentava, havia dez anos, uma neuropatia diabética, doença degenerativa que compromete o sistema nervoso, e foi vítima de uma infecção generalizada. A morte foi confirmada pela filha, Ana Rosa Tendler. O presidente Lula divulgou uma nota de pesar. Saiba mais na TVT News.

Diretor de filmes que marcaram a memória política e cultural do país, Silvio Tendler ficou conhecido como o “cineasta dos sonhos interrompidos” por sua dedicação a biografar líderes e movimentos que projetaram transformações no Brasil e na América Latina. Sua filmografia é marcada pelo compromisso com a história, a memória e a justiça social. Silvio Tendler deixa a esposa, Fabiana Versasi, e a filha, Ana Rosa Tendler.

Entre seus trabalhos mais emblemáticos está a chamada “Trilogia Presidencial”, composta por “Jango” (1980), sobre o ex-presidente João Goulart; “Os Anos JK – Uma Trajetória Política” (1980), sobre Juscelino Kubitschek; e “Tancredo, a Travessia” (2011), sobre Tancredo Neves. “Jango” se tornou um marco do cinema nacional, com mais de 1 milhão de espectadores, número impressionante para um documentário.

Tendler também é responsável pelos dois outros maiores sucessos do gênero nas bilheterias brasileiras: “O Mundo Mágico dos Trapalhões” (1981), que levou 1,3 milhão de pessoas aos cinemas, e “Os Anos JK”, com 800 mil espectadores.

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20.05.2025 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e o Cineasta, Silvio Tendler, durante a cerimônia de Entrega da Ordem do Mérito Cultural, no Palácio Gustavo Capanema. Rio de Janeiro – RJ. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Silvio Tendler talento e ambição

Sua obra mais ambiciosa, no entanto, foi “Utopia e Barbárie”. O filme, que levou cerca de vinte anos para ser finalizado, traça um panorama da segunda metade do século 20 por meio de imagens de arquivo e depoimentos de grandes figuras como Augusto Boal, Eduardo Galeano e Susan Sontag.

Nascido no Rio de Janeiro em 1950, Silvio Tendler mergulhou no universo do cinema no final da década de 1960. Durante a ditadura militar, buscou refúgio no Chile e, posteriormente, na França, onde estudou história e cinema. Foi em Paris que se formou como cineasta e desenvolveu uma visão crítica e comprometida com as lutas populares.

Ao retornar ao Brasil, fundou a produtora Caliban, em 1976. O selo se tornou referência no cinema documental, com mais de 80 filmes, entre curtas e longas-metragens, a maior parte de forte conteúdo historiográfico. Também foi professor da PUC-Rio e um dos fundadores, em 1985, da Fundação do Novo Cinema Latino-Americano, que reuniu grandes nomes como Gabriel García Márquez e Fernando Birri.

Na década de 1990, atuou também na esfera pública, como Secretário de Cultura e Esporte do Distrito Federal, e trabalhou com a Unesco na articulação da indústria audiovisual no Mercosul. Em reconhecimento à sua trajetória, recebeu a Ordem de Rio Branco, em 2006, e, mais recentemente, em maio de 2025, foi condecorado pelo governo federal com a Ordem do Mérito Cultural. Ao longo da carreira, acumulou mais de 60 prêmios em festivais nacionais e internacionais.

Lula se manifesta

Confira a íntegra da manifestação do presidente da República sobre Silvio Tendler:

Silvio Tendler, um dos maiores documentaristas do Brasil, faleceu nesta sexta-feira, 5 de setembro, deixando uma obra fundamental para entendermos nosso país. Em seus filmes, soube resumir e explicar importantes momentos de nossa história, como os governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart e a trajetória de Tancredo Neves durante a redemocratização.

Tendler nunca deixou de valorizar a democracia, nem de mostrar as ameaças autoritárias que insistem em ressurgir em nossa história. Sempre teve um olhar social agudo e o anseio por um desenvolvimento com justiça social. Pela sua importância para nosso país, tive a honra condecorá-lo com a Ordem de Rio Branco, em 2006, e do Mérito Cultural, agora em 2025.

Deixo meus sentimentos e minha solidariedade aos seus familiares e amigos.

Luiz Inácio Lula da Silva,
presidente da República

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