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Publicação gratuita debate machismo na sociedade brasileira

Machismo, identidade e novos modelos de masculinidade é gratuito e tem autoria coletiva de professores e pesquisadores 
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Ilustração que compõe a capa do livro Machismo, identidade e novos modelos de masculinidade. Foto: Reprodução / Edições Demócrito da Rocha
Capa do livro Machismo, identidade e novos modelos de masculinidade

A Fundação Demócrito Rocha lançou o livro Machismo, identidade e novos modelos de masculinidade, que discute o machismo na sociedade e novas perspectivas de masculinidade. A violência policial, a homofobia, o machismo nos espaços corporativos e a luta contra a misoginia são alguns dos temas abordados na obra. Com organização dos ensaios por Lia Leite e autoria coletiva de Alexandre Barbosa, Claudicélio Rodrigues da Silva, Deribaldo Santos e Valéria Lourenço, o livro oferece uma oportunidade de observar a sociedade em retrospecto e com distanciamento, em busca de uma transformação da misoginia já comum na vida cotidiana.

“Em uma sociedade em que a violência patriarcal é noticiada diariamente, é fundamental discutir os danos que o machismo causa às vítimas que sofrem os abusos dos perpetradores. No entanto, um aspecto menos debatido é o sofrimento que também recai sobre os próprios homens, resultando em uma sociedade mais violenta, tanto física quanto psicologicamente.”
— Lia Leite, em excerto do livro

Era uma vez… no reino da Macholândia: uma história que se repete, de Claudicélio Rodrigues da Silva

Em Era uma vez… no reino da Macholândia: uma história que se repete, o professor e pesquisador Claudicélio Rodrigues da Silva foca no conceito de masculinidade transmitida aos homens na infância e a tradicional aversão que surge quando um garoto recusa a masculinidade viril e hegemônica. As palavras de Claudicélio nos colocam nos papéis de pai e de filho: um pai que foi criado na sociedade patriarcal e misógina, e um filho que se liberta das amarras impostas desde o seu nascimento. O primeiro, sente que falhou quando o filho “quebra o pacto” da masculinidade, se recusando a manter o sistema do viriarcado. O segundo, por sua vez, cresce com o árduo dever de resistir, mesmo quando, dentro e fora de casa, a sociedade deixa claro que ele é um erro. No papel do filho, com o passar do tempo, você descobre que outros gêneros são possíveis, e contra o que o sistema impõe, você pode recusar a binariedade dos gêneros e a heteronormatividade, podendo ser, enfim, o que você sente que é; seja estando dentro das normas, ou não.

O autor ainda apresenta três histórias ficcionais de crianças que não se encaixam no conceito comum de masculinidade: Kevin, que está escolhendo uma fantasia para a festa de fim de ano da escola; um garoto não identificado que está se preparando para brincar; e Rodrigo, que acabou de se mudar para uma nova casa e está apaixonado pela parede cor-de-rosa de seu quarto. Com essas histórias, Claudicélio dilui seus pensamentos sobre masculinidade e identidade sexual, adicionando ideias importantes de grandes pensadores como Bell Hooks, Paul B. Preciado e da pesquisadora Guacira Louro.

E agora que sou mãe de um adolescente (negro)? Ou um pequeno manual para admirar o mar, de Valéria Lourenço

Num emocionante relato, a professora Valéria Lourenço conversa com seu filho em seu ensaio E agora que sou mãe de um adolescente (negro)? Ou um pequeno manual para admirar o mar. A autora conta sua história e traz questões da maternidade de uma mulher preta: como falar para seus filhos sobre o “racismo perverso que pode persegui-los, maltratá-los e até matá-los, de diversos modos, ao longo da vida”? Valéria relembra das orientações que passou para o filho — “Olha esse corte de cabelo. Só saia de casa com documento de identidade ou carteira de trabalho. Não pode ir para lugares distantes. Se alguém pisar no seu pé, peça desculpas. Se te ofenderem na rua, não revide […]” — e mesmo que não possa responder as cruéis dúvidas que perpassam sua mente, a mãe termina a carta com lembranças que acalentam seu coração e conselhos para que o filho viva e resista além do racismo e do padrão de masculinidade.

Identitarismo à brasileira, de Deribaldo dos Santos

No ensaio Identitarismo à brasileira, o professor e pesquisador Deribaldo dos Santos disserta sobre o identitarismo, debate incorporado na democracia contemporânea do Brasil e popularizado pela esquerda, que, segundo o autor, propaga que é uma “necessidade democrática”. Deribaldo denuncia que a política identitária ligada a ideologia, materializada pela apropriação da cultura dos movimentos sociais — que anteriormente eram considerados minorias —, agora é usada pela elite, na qual se considera de esquerda. Ou seja, o capitalismo coopta as pautas identitárias e a ideologia dos movimentos sociais, de forma que esvazia o discurso em prol do capital. 

Nas próprias palavras do autor, quando a elite coopta a pauta identitária, ao contrário dela questionar “a armadilha capitalista, [ela] reforça o ninho do abutre. A arapuca do identitarismo acaba cumprindo a importantíssima missão de turvar a visão de mundo dos que precisam alinhar forças contra o capital e seus malefícios.” 

No último tópico do ensaio, Deribaldo expõe para que serve o identitarismo e afirma: “não há como acabar com o racismo sob o manto da propriedade privada”, mas reitera que é necessário manter-se no combate à toda prática racista.

Decolonizar o jornalismo: fontes e autoras mulheres, pretas e indígenas, de Alexandre Barbosa

Em Decolonizar o jornalismo: fontes e autoras mulheres, pretas e indígenas, o último ensaio da seleção, o jornalista e professor Alexandre Barbosa aponta como a cobertura jornalística no Brasil e na América Latina possui as marcas da colonização e manifesta a necessidade de uma decolonização do jornalismo, de modo que a região continental seja mais solidária e menos machista. 

O autor nota os critérios de noticiabilidade como a maneira de transformar a comunicação na América Latina. Isto é, uma mudança na seleção e construção de notícias. Alexandre demonstra como a indústria jornalística seleciona os fatos, num processo que ‘’marginaliza, secundariza e até criminaliza a cultura popular, a história, as efemérides e as lutas das classes populares latino-americanas”. Quanto às fontes, também há preconceito: quando um veículo de comunicação precisa de um especialista para participar de uma matéria, por exemplo, geralmente os escolhidos são homens brancos ligados ao eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Assim, mulheres, especialmente negras e indígenas, são preteridas e excluídas; com exceção de quando a matéria tem o objetivo de reafirmar a condição de marginalizadas. 

Artigo explica o que é decolonialismo

Alexandre dá exemplos que comprovam sua análise e apresenta os estudos decoloniais, que têm como função principal estudar as origens da América Latina e formular meios que possam superar as feridas deixadas pela colonização europeia e a neocolonização norte-americana. Um destes estudos, é a pesquisa Por uma teoria latino-americana e decolonial do jornalismo, que buscou alternativas para uma prática decolonial na comunicação jornalística latino-americana. O autor traz, então, algumas considerações levantadas no estudo e indicações de publicações que priorizam a diversidade étnica e de gênero nos critérios de noticiabilidade, como expôs ser necessário. 

O livro Machismo, identidade e novos modelos de masculinidade pode ser baixado gratuitamente no site da Fundação Demócrito Rocha.

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